PUBLICIDADE

Morre o maestro e violoncelista russo Mstislav Rostropovich

Músico de 80 anos era um símbolo internacional da luta pela liberdade artística

Por Agencia Estado
Atualização:

O violoncelista e compositor russo Mstislav Rostropovich, que tornou-se um símbolo internacional da luta pela liberdade artística sob o governo soviético, morreu nesta sexta-feira, 27, aos 80 anos. "É com grande tristeza que a Agência Federal de Cultura russa é obrigada a anunciar que hoje, 27 de abril, morreu o grande músico Mstislav Rostropovich", anunciou uma porta-voz da agência estatal de cultura da Rússia. Citando uma fonte próxima ao músico, as agências de notícias russas disseram que Rostropovich morreu em um hospital de Moscou depois de uma doença prolongada e que será enterrado no cemitério de Novodevichye, em Moscou, onde na quarta-feira foi sepultado o ex-presidente russo Boris Yeltsin com honras de Estado. Rostropovich esteve no Brasil por três vezes. Ele se apresentou como violoncelista no teatro de Cultura Artística de São Paulo em 1978 e 1994, em concertos para violoncelo e piano. Como maestro, esteve no Rio em maio de 2002, quando regeu a orquestra do balé Romeu e Julieta, no Teatro Municipal, com direção do ex-bailarino do Balé Bolshoi e coreógrafo russo Vladimir Vassiliev. O espetáculo, que seguia a partitura de Sergei Prokofiev, contou com a presença de uma orquestra regida por Rostropovich. Aniversário de 80 anos No mês passado, Rostropovich, já enfraquecido, compareceu à comemoração de seu 80.º aniversário, no Kremlin, onde foi festejado pelo presidente Vladimir Putin. Ele se levantou, trêmulo, e fez um breve discurso em voz fraca. "Sou o homem mais feliz", disse. "Minha família e meus colegas estão aqui comigo neste dia." Foi a primeira vez que Rostropovich apareceu em público desde fevereiro, quando foi internado num hospital de Moscou. Na época, seu secretário disse que sua doença não era algo que pusesse sua vida em risco. Mstislav Rostropovich foi uma das figuras culturais mais amadas da Rússia. Além disso, ganhou fama em todo o mundo como defensor dos direitos civis durante a era soviética. Democracia Enquanto estava no exterior, em 1978, o Kremlin o destituiu de sua cidadania, devido a suas "atividades não patrióticas", segundo disseram os jornais oficiais. O violoncelista tímido sofreu problemas por ter falado publicamente em defesa de seu amigo, o escritor Alexander Solzhenitsyn, e do dissidente Andrei Sakharov quando ambos foram atacados pelas autoridades soviéticas. Em 1990, dentro do novo espírito de abertura inaugurado pelo líder soviético Mikhail Gorbachev, o Kremlin restaurou sua cidadania russa. De volta a seu país, Rostropovich tornou-se um dos líderes do movimento democrático nascente no país, que acabou levando à queda da União Soviética. Ele esteve entre as multidões que desafiaram o golpe de Estado lançado pelos defensores da linha dura que tentavam reverter as reformas da perestroika de Mikhail Gorbachev. Dias após a queda do Muro de Berlim, Rostropovich levou seu violoncelo e embarcou a Berlim para fazer um concerto de improviso, não anunciado, ao lado dos escombros do muro. "Foi o que meu coração ditou," ele disse mais tarde. O ´número 1´ A empresária musical Lilian Hochhauser, que com seu marido Victor regularmente financia turnês britânicas de grandes companhias russas de ópera e balé, descreveu Rostropovich como "um gênio." "Ele foi o número 1, de todas as maneiras. Ele é o último dos grandes titãs russos a nos deixar. Rostropovich não apenas foi um músico extraordinário, como também um grande humanitário e fonte de inspiração para inúmeros compositores que compuseram obras belíssimas especialmente para ele," disse ela à Reuters. "Ele foi destemido em sua tentativa de proteger Solzhenitsyn e Sakharov. Era destemido e tinha um grande espírito. O homem foi nada mais, nada menos que um gênio." Rostropovich dividiu seus últimos anos de vida entre a Rússia, os Estados Unidos e a França. Ele e sua mulher, a soprano Galina Vishnevskaya, dirigiam uma fundação humanitária. Entre muitos prêmios, levou o Príncipe de Astúrias em 1997, que compartilhou com o violinista britânico Yehudi Menuhin. Texto alterado às 16h00 para acréscimo de informações

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.