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Morre o lendário rapper Guru, pioneiro do hip-hop

O MC Guru, que tinha câncer, preconizou abertura do gênero a outros ritmos e foi mentor do projeto Jazzmatazz

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Por Redação
Atualização:

Jotabê Medeiros - O Estado de S. Paulo

 

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SÃO PAULO -  Morreu ontem de câncer, aos 43 anos, o rapper Guru, como era conhecido o produtor e músico e MC norte-americano Keith Elam. Guru esteve no Brasil três vezes (em 1999, 2005 e 2008). Foi pioneiro na fusão de hip-hop com jazz que viria a ser o embrião do acid jazz (ou jazz rap, como preferem alguns).

 

O nome Guru veio das iniciais da expressão Gifted Unlimited Rhymes Universal (Abençoadas Rimas Universais sem Limites), que ele adotou no início da carreira (assinou também Keithy E. por um tempo). Nos anos 1990, com o projeto Jazzmatazz, ele preconizou um amálgama de diferentes gêneros no rap: além do jazz, R&B, soul, funk e baladas românticas. Gravou e produziu músicas com artistas de diferentes praias, como The Neptunes, Isaac Hayes, o saxofonista Donald Harrison, o flautista Najee e o DJ Premier.

 

Na terceira fase do projeto Jazzmatazz, ele produziu um verdadeiro inventário da música black: com os veneráveis The Roots, gravou a faixa Lift Your Fist; os vocais macios de Erikah Badu estão em Plenty; e a voz vibrante e insolente de Macy Gray encorpa All I Said. Também arquitetou faixas com Herbie Hancock, Angie Stone, Junior Reid, Kelis, Les Nubians e Amel Larrieux.

 

"Sempre vou em busca do produtor com o qual sonho trabalhar, e vou atrás dos vocalistas com os quais eu sonho gravar. É mais ou menos como ir a um alfaiate e pedir que ele corte um terno sob medida, algo que caiba perfeitamente em você. As pessoas vieram para gravar comigo e me deram mais do que emprestam aos seus trabalhos regulares: elas me deram sua alma", disse o artista ao Estado, em entrevista exclusiva, em 2005.

 

Nascido em 17 de julho de 1966 em Roxbury, Massachusetts, ele iniciou a carreira na histórica dupla de hip-hop Gang Starr, ao lado do DJ Premier - milhas de distância daquela coisa glandular do gangsta rap. Após 7 álbuns com o Gang Starr, Guru separou-se do DJ Premier e criou o próprio selo, Seven Grand. Nos anos 2000, começou a excursionar com o MC Solar e o DJ DooWop.

 

O produtor Solar, que foi amigo e colaborador de Guru nos últimos anos, postou uma mensagem sobre a morte do parceiro: "O mundo perdeu um dos melhores MCs e ícones do hip-hop de todos dos tempos, meu leal melhor amigo, parceiro e irmão, Guru. Guru batalhou contra o câncer por cerca de um ano e perdeu sua batalha. Esse era um assunto que Guru quis manter privado até que vencesse a parada mas, tragicamente, isso não aconteceu. O câncer o levou. Agora o mundo perdeu um grande homem e um gênio verdadeiro."

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Tinha um discurso antimercantilização do rap, mas era contraditório ao mesmo tempo - chegou a vender calcinhas fio dental da marca Gang Starr durante show aqui no Na Mata Café, em 2005. Em uma de suas músicas, Hall of Fame, alertava para os riscos da cooptação mercadológica e ideológica. "Se eu vender tudo/Posso ter vendido milhões/Mas, em um minuto, tenho de abraçar bilhões/Porque depois da charada e depois da parada/Os manos têm de pagar tributo ao mestre do comércio."

 

Entre os colegas do gênero, era um dos mais bem informados, e sua música denunciava influências de Art Blakey e Miles Davis, Gil Scott-Heron e Grandmaster Flash, Kurtis Blow e LL Cool J.J

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