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Morre o cantor Miltinho, aos 86 anos

Intérprete teve uma parada cardíaca em um hospital no Rio

Por Roberta Pennafort
Atualização:

Atualizado às 18h40

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Ícone do sambalanço, o cantor Miltinho morreu anteontem, aos 86 anos, de insuficiência respiratória. Fumante, ele sofria de enfisema pulmonar havia quatro anos, segundo amigos, e esteve internado por duas semanas. O corpo foi cremado nesta segunda-feira, 8, no Crematório do Caju. "Miltinho fez shows até ter o enfisema, que foi agressivo e o deixou muito debilitado. Ele continuava fumando, escondido da mulher. Sempre que eu ia à casa dele, estava fazendo nebulização", contou o documentarista André Weller, autor de No Tempo de Miltinho, filme de 2008 que o perfilou, quando de seu aniversário de 80 anos. "Ele viveu uma vida incrível, fez sucesso e não tinha amargura por ter sido esquecido, de certa forma. Quando acabei de filmar, foi curioso, porque ele perguntou: ‘Eu vou aparecer no filme'? Quando eu expliquei que o filme era sobre ele, ele respondeu: 'Mas eu não sou tão importante assim'!".

A única mágoa foi ter sido colocado na prateleira da “velha guarda” da música brasileira, quando do surgimento da bossa nova, no fim dos anos 1950. Mesmo tendo sido inventor de um jeito moderno de cantar, com a harmonia à frente do canto, emprestava às suas interpretações suingue e originalidade, Miltinho acabou sendo "superado" pelos cantores bossa-novistas, de voz menos empostada e não identificados com a era de ouro do rádio. Milton Santos de Almeida nasceu em 1928, no Rio, e começou a carreira em conjuntos vocais, no anos 1940. Foi o primeiro desses conjuntos a cantar e tocar pandeiro. Passou pelo Cancioneiros do Luar, Namorados da Lua, Anjos do Inferno e Quatro Ases e um Coringa. Nos anos 1950, foi crooner da Orquestra Tabajara e de boates. Consagrou-se com sambas sincopados, como Mulher de Trinta, Palhaçada, Só Vou de Mulher, Laranja Madura, Eu Quero Um Samba e Mulata Assanhada, e canções românticas, como Meu Nome É Ninguém. No filme de 2008, brincou: "Sou um mero cantor de samba, o que me honra muito. Depois de um certo tempo, você vê o estilo de música que cabe em você. É como comprar um sapato". E filosofou: "A vida, a meu ver, como ritmista, é ritmo: para andar, deitar. Se bobear, tropeça e cai".

Foram mais de 40 discos lançados. Uma realização foi a compilação, também de 2008, Miltinho - Samba e Balanço, CD duplo com 28 faixas da fase na gravadora Odeon (1966-1976). Na ocasião, definiu-se: "Sou um velho animado".

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