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Morre o baterista Chico Hamilton, referência do jazz californiano

Músico fez parte do lendário quarteto de Gerry Mulligan e Chet Baker nos anos 50

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

Morreu na segunda-feira, aos 92 anos, o baterista Chico Hamilton, que “ajudou a colocar a Califórnia no mapa do jazz”, segundo observou o New York Times. Hamilton veio ao Free Jazz Festival em 2001, ocasião em que conversou com o Estado.

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Nascido Foreststorn Hamilton em Los Angeles, em 1921, ele costumava tocar jazz no colégio com alguns coleguinhas de escola, entre eles Dexter Gordon, Illinois Jacquet e Charles Mingus. Fez parte do lendário quarteto de Gerry Mulligan e Chet Baker nos anos 50, alternando as baquetas com Dave Bailey e Larry Bunker. O baterista costumava demonstrar um vigor físico, durante suas apresentações, de alguém de 20 e poucos anos.

“Quando comecei, ainda criança, tocava clarineta”, ele lembrou, em entrevista exclusiva ao Estado por telefone. “Meu irmão costumava brincar com uma bateria e eu comecei a experimentar, e não parei mais”, contou.

Tocou, ao longo da carreira, com gente como Duke Ellington, Charles Mingus, Lena Horne, Count Basie, Nat King Cole, Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Billy Eckstine e Sammy Davis Jr., Ilinois Jacquet, Lester Young e Lionel Hampton. “Todos eles eram grandes, porque eram todos diferentes”, ele disse.

Hamilton era muito celebrado por músicos e participou de filmes de Hollywood, como A Embriaguez do Sucesso (Sweet Smell of Success, de 1957), com Burt Lancaster e Tony Curtis. Mas sempre teve menos destaque na mídia especializada que alguns colegas do instrumento, como Art Blakey, Max Roach e Elvin Jones.

Seu nome está presente em inúmeras gravações de Billie Holiday, como Jazz At the Philharmonic e At Carnegie Hall (ambos da Verve, de 1956). “Uma pessoa muito distinta, uma cantora excepcional, foi muito bom ter tocado com ela, assim também como foi uma honra ter tocado com Lena Horne e Ella Fitzgerald”, ponderou o baterista, que não era de falar muito.

Hamilton tocou no Free Jazz com a banda Euphoria, com a qual grava há pouco tempo, mas cujos músicos já têm grande intimidade com ele. Era formada na época por Cary DeNigris (guitarra), Eric Lawrence (sax), Evan Schwam (sax tenor e flauta) e Paul Ramsey (contrabaixo). Em discos recentes, Hamilton e Euphoria gravaram com inúmeros convidados especiais, tais como Eric Schenkman (guitarrista dos Spin Doctors, aluno de Chico), John Popper (dos Blues Traveler) e Charlie Watts (dos Rolling Stones). O repertório do show foi centrado no disco Foreststorn, que lançou naquele ano pelo selo Koch Jazz, com participações do trombonista Steve Turre e do baterista Charlie Watts, dos Stones.

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Hamilton demonstrou estar bem atento para a evolução do jazz dentro da música moderna. “Não concordo que todos os grandes bateristas do jazz sejam veteranos, uma raça em extinção”, afirmou. “Há grandes nomes nas novas gerações, como Louis Nash – já o ouvi e sei que é excepcional, mas não sei de onde é nem me lembro bem de outros, porque minha cabeça não é boa para nomes.”

Suas músicas passeavam tanto pela bossa nova (em That Boy with That Long Hair) quanto pelo blues mais tradicional (I’m Gonna Move to the Outskirts of Town). Ele gravou, entre outros, com Eric Person, Buddy Collette, John Pisano, Archie Shepp, Gabor Szabo e outros mitos do jazz, e foi um dos responsáveis por ter apresentado o jazz a gigantes como Eric Dolphy, Jim Hall e Charles Lloyd.

Em 1993, pela Soul Note, gravou sozinho, sem banda, Dancing to a Different Drummer, um disco acústico no qual exercitava todas suas sutilezas rítmicas, ele que era tido como um grande melodista – pela experiência juvenil com a clarineta. O disco virou documentário sob o mesmo nome, dirigido por Julian Benedikt em 1994.

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