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Morre nos EUA o mestre e maestro Moacir Santos

O grande maestro, compositor, arranjador, professor e saxofonista, morreu no domingo, aos 80, em Pasadena, Califórnia (Estados Unidos), em conseqüência de um segundo derrame cerebral

Por Agencia Estado
Atualização:

Moacir Santos não tinha influências porque era a fonte. Esta frase do saxofonista Zé Nogueira sintetiza a dimensão da obra do grande maestro, compositor, arranjador, professor e saxofonista, que morreu no domingo, aos 80, em Pasadena, Califórnia (Estados Unidos), em conseqüência de um segundo derrame cerebral. O primeiro ele sofreu nos anos 90 e deixou seqüelas, impedindo o músico de tocar. Os últimos anos foram intensos na vida de Moacir em relação ao Brasil, país em que demorou a ser reconhecido (e talvez não tenha sido a contento) e de onde partiu em 1967 para morar nos EUA, onde será enterrado. No dia 18 de julho passado, uma semana antes de completar 80 anos, Moacir foi contemplado com o Prêmio Shell de Música, pelo conjunto de sua obra. Desde 2001, quando os músicos Mário Adnet e Zé Nogueira reuniram a nata dos instrumentistas brasileiros contemporâneos para gravar o CD-tributo "Ouro Negro", a obra do grande maestro começou a se tornar mais acessível a seus conterrâneos. Até então todos os seus discos estavam fora de catálogo no País. Depois disso, só "Coisas" (1965), uma bíblia da negritude para muitos músicos, como Ed Motta, foi relançado. Há procedimentos de composição, harmonia, divisão, orquestração e variedade rítmica que o situam no pódio ao lado de gigantes como Duke Ellington, Miles Davis e Dizzy Gillespie. O tema de nº 5, rebatizado de "Nanã", se tornou popular depois de ganhar letra de Mário Telles. ?Moacir é um dos grandes músicos do mundo. Ele entende como todas as músicas estão conectadas. Seus temas são riquíssimos e captam a essência profunda da natureza das pessoas?, disse o trompetista de jazz Wynton Marsalis. Em 2003, o maestro foi um dos vencedores do Prêmio Multicultural Estadão, ao lado do documentarista Eduardo Coutinho e do cineasta Ruy Guerra. Nascido no sertão pernambucano, reverenciado como um dos mais influentes e geniais criadores da música brasileira, Moacir Santos começou a compor ainda adolescente, no Recife, na mesma época em que aprendeu a tocar saxofone. Mudou-se para o Rio em 1948 e juntou-se à Orquestra Tabajara de Severino Araújo. Depois se tornou mestre de gente do calibre de Baden Powell, Nara Leão, João Donato, Paulo Moura, Sérgio Mendes. "Depois de "Coisas", Moacir lançou três álbuns pelo prestigiado selo Blue Note, nos Estados Unidos - "Saudade" (1972), "The Maestro" (1974) e "Carnival of the Spirits "(1975) - e um pelo extinto selo Discovery, "Opus 3 nº 1" (1978), todos fora de catálogo. Desde 2001, Adnet e Nogueira têm registrado todos os encontros com o maestro em diferentes situações para a realização de um DVD, que ainda está em fase de captação de recursos para ser finalizado. O encerramento seria com uma recepção a Moacir em sua cidade natal, Vila Bela, com banda de música e tudo o mais. Não deu tempo.

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