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Morre Gilbert Bécaud, a voz das canções desesperadas

Por Agencia Estado
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O cantor, pianista e compositor francês Gilbert Bécaud morreu hoje, aos 74 anos, vítima de um câncer no pulmão. Foi autor de mais de 400 músicas, muitas de sucesso internacional - o principal deles foi a desesperada canção Et Maintenant, que Frank Sinatra e Barbra Streisand gravaram, em inglês, com o nome de What now My Love. Outros números brilhantes de seu repertório - sempre de canções desesperadas - eram Nathalie, L´Important C´Est la Rose, Au Revoir, Je Reviens te Chercher, Quand Il Est Mort le Poete. A valsa Bateau Blanc, delicada, é muito citada em filmes comerciais, como música incidental em trilhas sonoras cinematográficas, nem sempre com crédito para o autor. Nascido em Toulon, no dia 27 de outubro de 1927, criado em Nice, estudou música desde a infância. Cursou o Conservatório de Nice e tinha 19 anos quando começou carreira profissional, como pianista. Ao mesmo tempo, estudava regência e composição clássicas. Foi o marido de Edith Piaf, Jacques Pilles, que percebeu, em Paris, suas possibilidades de músico. Levou-o para Nova York, onde ele continuou carreira de pianista. "Eu serei um grande compositor de ópera", disse, uma vez. Era sua grande ambição. Conseguiu encenar uma, L´Ópera d´Aran, um sucesso, em Paris, em 1962, que foi remontada em outros países da Europa. A crítica Madeleine Berry, da Agência France Press, chegou a dizer - considerando a dramaticidade e a grandiosidade da ópera - que poderia estar vendo surgir o Wagner de amanhã. Talvez um exagero. Bécaud fez de tudo em música - inclusive trilhas para teatro e cinema -, mas seu grande êxito foi na canção popoular. Seja como for, para ela levou a teatralidade característica da ópera. Bécaud não cantava. Interpretava - foi o último grande chansonnier - com garra, suava, levantava-se do piano, tirava o paletó, fazia caretas, gritava. Havia quem o considerasse exagerado, de um comportamento teatral calculado para emocionar as platéias - que adoram, no mundo inteiro, comportamentos exóticos. O jornalista e compositor Nelson Motta escreveu, numa das vezes em que Bécaud esteve aqui, nos anos 70, que estava chegando ao País o mais execrável representante da cafonália. Uma opinião datada, com certeza. Bécaud fez grande sucesso do fim dos anos 50 ao início dos 70. Os anos 60 foram os seus anos de ouro. Coincidiram com o surgimento da bossa nova, no Brasil - de uma música que renegava tudo o que lhe fosse anterior, que achava de mau gosto a voz potente, o piano altissonante, o gesto aberto, a intepretação para fora, a paixão explícita. Renegava, portanto, tudo o que Bécaud era. Portanto, houve um momento, no Brasil, em que gostar de Bécaud era feio - como era feio gostar de Ângela Maria ou de Nélson Gonçalves ou mesmo de Luís Gonzaga. Mas o desprestígio de Bécaud não se deu somente aqui. Ele foi, ainda jovem, um dos expurgados pela indústria cultural. Sugado pelo tornado do pop, foi desaparecendo até sair de cena. Ainda assim chegou a gravar um último disco, Mon Cap, em 1999. A crítica francesa recebeu bem. O restante do mundo não teve notícia. Bécaud nasceu François Gilbert Silly. Foi ídolo na França não apenas pela belíssima música e pela poesia elaborada. Era um símbolo do bon vivant, amante das belas mulheres, das boas bebidas, do luxo e dos prazeres mundanos. Um grande artista de quem se poderia ter tido mais.

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