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Morre Emilinha Borba, uma das rainhas do rádio

A cantora que ficou famosa nos anos 50, quando foi eleita Rainha do Rádio, morreu em sua casa aos 82 anos, provavelmente do coração Veja galeria de fotos Se Queres Saber Escandalosa Confira discografia parcial de Emilinha Borba Confira a filmografia de Emilinha Borba Artistas lamentam a morte de Emilinha Borba

Por Agencia Estado
Atualização:

A cantora Emilinha Borba morreu hoje, no início da tarde, em casa, provavelmente do coração. Ela completara 82 anos em 4 de setembro passado, com uma grande festa na Sala Baden Powell, para comemorar também sua recuperação de um tombo que sofrera há quatro meses e a deixou internada durante quase um mês. Na hora da morte, ela estava com a secretária, Zaira Peçanha, e a sobrinha Elizabeth, que haviam praticamente se mudado para seu apartamento, em Copacabana, na zona sul do Rio, após o acidente. "A Emilinha estava quase recuperada e tinha comprado ingressos para ver a Marília Pêra como Carmem Miranda esta semana", disse o presidente de seu fã-clube, Mário Lima. Até o final da tarde, a família não tinha definido o horário de seu enterro, que deverá ser realizado no cemitério do Caju, onde sua família tem um jazigo perpétuo. Emilinha deixa um filho e três netos. Emilinha começou a carreira de cantora em 1939, com participação sem crédito em Pirolito, ao lado de Nilton Paz. Entre os sucessos da artista estão ainda Chiquita Bacana (1949), Tomara que Chova (1951), A Água Lava Tudo (1955), Corre, Corre Lambretinha (1958), Mamãe eu vou às Compras (1959), Mulata iê, iê, iê (1965) e Cordão da Bahia (1975). Além do rádio, ainda trabalhou como atriz, ns chanchadas da Atlântida, participando de 35 filmes, com destaque para Aviso aos Navegantes (Watson Macedo, 1950), Poeira de estrelas (Moacir Fenelon, 1948), Estou aí (José Cajado Filho, 1949) e Barnabé, tu és meu (José Carlos Burle,1952). Nascida Emília Savana da Silva Borba no dia 31 de agosto de 1923, desde criança já se apresentava em programas de auditório e de calouros no rádio. Fã de Carmen Miranda, passou grande parte de sua infância no bairro da Mangueira. Desde criança esteve ligada à escola de samba, mas a carreira começou no Cassino da Urca, graças a Carmem Miranda. Uma tia de Emilinha, camareira da Pequena Notável, contou que a sobrinha a imitava em programas de calouros. Emocionada, Carmem pediu ao proprietário do Cassino, Mário Rolla, que a contratasse como cantora. Foi lá que o cineasta Orson Welles a viu e se apaixonou, quando esteve aqui patrocinado pelo governo americano. O diretor de Cidadão Kane quis levá-la para Hollywood, mas ela nem ligou. Emilinha ganhou seu primeiro prêmio aos 14 anos, no programa A Hora Juvenil, na rádio Cruzeiro do Sul. Foi também agraciada com cinco mil réis no programa de Ary Barroso. Sua primeira gravação foi lançada para o Carnaval de 1939: a marcha Pirulito, de João de Barros e Alberto Ribeiro. Ainda muito jovem iniciou sua participação em programas de auditório e de calouros no rádio. Nas décadas de 1940 e 50, se tornou uma das principais intérpretes do rádio brasileiro. Em 1944, passou a integrar o quadro da Rádio Nacional, onde permaneceu por 27 anos, nos tempos áureos tanto do veículo quanto de sua carreira. Popularizou-se por gravar marchas de carnaval, mas não era somente no samba que se destacava: também chegou a cantar rumba, estilo popular à época. Entre seus maiores sucessos estão Cachito, Baião de Dois, Se Queres Saber, Escandalosa. Nos anos 50 fez uma campanha acirrada disputando com a cantora Marlene o título de Rainha do Rádio. Ambas foram durante muitos anos as Rainha do Carnaval, cantando as marchinhas mais famosas daquele tempo, e fazendo parte do cast artístico da Rádio Nacional, uma das mais importantes da época. Marlene conquistou o título em 1949 e Emilinha, em 1953. Era um dos concursos mais cobiçado do rádio. No ano seguinte, o prêmio foi de Ângela Maria. Nos anos 50, tornou-se a Preferida da Marinha e lançou sucessos como Aqueles Olhos Verdes, Catito, Chiquita Bacana, Dez anos e Se queres Saber. O carnaval não começava sem sua marchinha do ano (Pó de Mico, Se a Canoa não Virar, Cabeleira do Zezé, Mulata Bossa Nova etc), mas ela também fazia sucesso no meio do ano. Lançou, ao todo, 89 elepês (discos com seis músicas de cada lado), 71 compactos e 117 discos de 78 rotações, que estão no acervo da WEA, que detentora dos fonogramas da antiga gravadora Continental. Por isso, é difícil encontrá-los. Gravou, ao todo, 216 músicas. Não perdia a popularidade. Todo ano, em setembro, havia um festival Emilinha Borba, com um grande jantar, show e exposição com seu acervo, carinhosa e rigorosamente preservado pelos fãs. Carinho igual, só a cantora Marlene recebeu. A rivalidade entre os dois grupos de admiradores, virou lenda. Nos concursos que as revistas especializadas em rádio promoviam, era questão de honra para eles dar-lhes a vitória. Emilinha e Marlene chegaram a gravar juntas, apesar de os fãs embarcarem na disputa. Muitos apostavam se tratar de puro marketing, embora Marlene tenha garantido que a rivalidade chegou a durar 50 anos. Mas tornaram-se amigas. Marlene não pôde receber a notícia. "Ela saiu do CTI há duas semanas e não agüentaria saber da morte da Emilinha", disse sua secretária Almerinda Manoela da Silva. "Elas são muito ligadas. Ontem mesmo, se falaram pelo telefone. Hoje, falou nela." Na década de 1960, Emilinha teve de passar por cirurgias nas cordas vocais que abreviaram sua carreira. No entanto, o estilo de música que a popularizou já estava ficando ultrapassado no gosto popular, e passou a ser deixada de lado. Mesmo assim, ainda manteve-se, ao menos até 1995, como a personalidade brasileira que mais havia sido capa de revistas no país: 350 vezes. Se as gravadoras não a queriam mais, Emilinha não se apertou. Gravou um disco com produção do também cantor Luiz Henrique, com seus grandes hits e músicas atuais (como ECT, do repertório de Cássia Eller, e Entre Tapas e Beijos, de Leandro e Leonardo). Fez bonito e vendeu discos como antigamente, de modo inusitado: ia para as praças e os oferecia, ela mesma, ao público que se encantava ao encontrar cara a cara com a estrela. "Adoro esse contato com o povo e nunca vendo menos de cem discos porque cobro metade do preço da loja", dizia ela. Animada, preferia falar do presente e do futuro. "Essa história de passado é com meu fam clube. Eles me vigiam, registram tudo na minha carreira porque eu não guardo nada", disse ela na ocasião. "Eu ando para a frente."

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