Morre aos 70 anos o pianista Pedrinho Mattar

Natural de Santos, Mattar era um dos mais conceituados instrumentistas do País

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Por Agencia Estado
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O pianista Pedrinho Mattar, 70 anos, morreu na noite desta quarta-feira, em Santos, vítima de infarto fulminante. Mattar era um dos mais conceituados instrumentistas do País. O corpo será velado e enterrado na quinta no Cemitério do Araçá, em São Paulo. Caçula de uma família de dez irmãos, Mattar começou a tocar piano aos 8 anos de idade. Sua primeira apresentação foi em 1953, na União Cultural Brasil-Estados Unidos. Estudou piano na escola Madalena Tagliaferro e, em 1959, realizou sua primeira excursão ao exterior acompanhando a cantora Leny Eversong a Las Vegas. Saiu, na mesma época, em turnê com o cantor Agostinho dos Santos. Foi atração da boate Juão Sebastião Bar, como acompanhante de Chico Buarque, Maysa e outros, e ganhou títulos importantes, como o de melhor solista do ano, em 1963 e 1964. Mattar teve uma carreira que sempre transitou entre o meio erudito e o popular. Nos anos 90 ainda fazia shows pela noite de São Paulo e apresentava o programa Pianíssimo, na Rede Vida. O velho piano Brasil Pedrinho Mattar ganhou seu primeiro piano do pai, músico, em 1941. Mesmo não podendo mais ser utilizado há anos, o instrumentista não se desfazia do velho quadrado e marrom Brasil. ?Ele cuidou de mim na juventude e eu cuido dele na velhice. Por ele, desvendei a música. Já não é ?tocável?, mas o guardo com muito carinho?, disse Mattar em entrevista em 2003 ao repórter Ramiro Zwetsh, quando comemorou os 50 anos de carreira com uma temporada no Bar Brahma, em São Paulo. O velho piano Brasil era guardado com o alemão Blüthner, preto e de cauda, um colosso de quase 3 metros - protagonista de um episódio ímpar. Morador de um prédio da Peixoto Gomide havia 35 anos, o músico fez o trânsito parar na Avenida Paulista duas vezes: na chegada do Blütner ao seu apartamento, no começo da década de 80, e quando o tirou de lá, uns seis anos depois. Enorme, o instrumento não subiria nem pela escada e muito menos de elevador. A aglomeração de curiosos para ver o piano ser suspenso pelo lado de fora até o 16º andar do edifício foi suficiente para transformar em pesadelo o percurso dos motoristas que rodavam na região. Tom Jobim como reserva Na década de 50, ainda estudante em seus 16 anos, Mattar era o pianista titular da boate Xauen, tendo Tom Jobim como o primeiro reserva, que o substituía quando tinha provas ou não podia faltar à aula. Como acompanhante, Pedrinho fez realçar as vozes de intérpretes como João Gilberto, Alaíde Costa, Agostinho dos Santos, Claudete Soares, Hebe Camargo e Dolores Duran, entre outros. ?João Gilberto cantava alto como Orlando Silva, um baita vozeirão. Depois inventou de cantar baixinho?, lembrou em 2003 o músico sobre um episódio vivido por ele na Xauen. A casa não era exatamente um lugar dos mais comportados. ?Era um inferninho. Ninguém ouvia a gente tocar porque o movimento era maior fora do que dentro.? Tradução: era um bordel. Na mesma boate, em Santa Cecília, o pianista passou uma madrugada inteira trancado no banheiro. ?Meu pai não queria que eu trabalhasse na noite e, como eu era menor, mandava o juizado atrás de mim?, narrou o pianista, às gargalhadas. ?Uma noite, a dona da boate me trancou no banheiro e me esqueceu lá. Só saí quando chegou o pessoal da limpeza.? As memórias engraçadas convivem com as emocionantes: no começo dos anos 80, o pianista foi à Casa Branca - onde tocou três músicas para o então presidente norte-americano Jimmy Carter. Seu baú de histórias, contudo, só não era tão recheado quanto o repertório. ?Eu atendo pedidos. Criei um cardápio musical das cozinhas brasileira, americana, italiana, francesa e as sugestões do chefe. Vou de As Time Goes By a Eu Sei Que Vou Te Amar, passando por tangos e boleros", disse o pianista em 2003.

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