Morre a cantora Elza Soares aos 91 anos

Intérprete estava em sua casa no Rio de Janeiro e teve morte por causas naturais

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Por Danilo Casaletti
Atualização:

A cantora Elza Soares morreu nesta quinta, 20, aos 91 anos, em sua casa no Rio de Janeiro. De acordo com informações de sua assessoria, por meio de nota no Instagram, a intérprete teve morte por causas naturais. 

Elza fez sucesso interpretando clássicos como Se Acaso Você Chegasse, cuja gravação lançou em 1960. Seu disco mais recente, Planeta Fome, é de 2019.

A cantora Elza Soares, em foto de 2007 Foto: Alaor Filho/ Estadão

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Em 2020 Elza foi homenageada como enredo da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel. Ela chegou a ser intérprete de sambas da agremiação.

Elza morreu no dia em que se completam 39 anos da morte de Garrincha, jogador de futebol com quem foi casada de 1966 até 1982. Eles tiveram um filho, Garrinchinha, que morreu em 1986, em um acidente de carro.

Ex-faxineira e empregada doméstica, Elza Soares sofreu nos longos tentáculos do racismo. Foi atacada por ser negra, por ser mulher, por ser pobre e por ter se casado com Mané Garrincha, sua paixão. Sem pai por perto, perdeu de forma trágica a mãe, o marido e um filho, caiu em depressão, levantou-se e encontrou Louis Armstrong com todo aquele sorriso. O tempo talhou a voz e a alma e a canção deixou de ser doce como era antes. Tanto em A Mulher do Fim do Mundo quanto em Deus é Mulher, seus dois últimos trabalhos, quem canta é a Elza dos novos estandartes. 

Vida e obra

Elza da Conceição Soares, ou apenas Elza Soares, como ficou conhecida do público, nasceu em Bangu, no Rio de Janeiro. Criada na favela de Água Santa, na zona norte carioca, tinha propriedade para cantar os versos do samba Lata D’Água, sucesso do carnaval de 1952, na voz da cantora Marlene.

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De infância pobre, tornou-se mãe cedo e carregou muita lata de água na cabeça morro acima. Trabalhou como empregada doméstica, e viu seu destino mudar quando resolveu enfrentar o temível Ary Barroso em seu programa Calouros em Desfile, na rádio Tupi. Tirou a nota máxima ao interpretar o bolero Lama.

A partir daí, foi ser crooner de orquestra na noite carioca até ser contrata pela gravadora Odeon, no final dos anos 1950, na qual gravou seu primeiro disco. Logo de início, emplacou sucessos como os sambas Mulata Assanhada, Boato e Beija-me, além de uma versão de In The Mood, que ganhou o título de Edmundo.

Pouco tempo depois, casou-se com o jogador Garrincha, no auge de sua carreira nos gramados, e foi duramente perseguida pela opinião pública. Em inúmeras entrevistas, falou sobre o assunto.

No ano seguinte, lançou um álbum considerado por muitos um de seus melhores trabalhos, em parceria com o baterista Wilson das Neves. No repertório, músicas como Mais Que Nada, Samba de Verão e Se Acaso Você Chegasse, essa última música, de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins, seu primeiro sucesso na carreira.

Nos anos 1970, seguiu emplacando sucessos e gravando regularmente. Dessa época, destacam-se músicas como Salve a Mocidade, que homenageia sua escola de samba de coração, e Malandro, outro clássico de sua carreira.

Resgatada por Caetano Veloso

Na década seguinte, sem espaço na mídia, foi reabilitada pelo cantor e compositor Caetano Veloso que a convidou para uma participação na faixa Língua, de seu disco Velô, de 1984. Voltou a ser abraçada pelo público e pela classe artística.

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Em 1999, foi eleita a cantora do milênio pela BBC de Londres, título que ostentava com orgulho e a que fez voltar com tudo para a mídia, sobretudo com o espetáculo Dura na Queda, que deu origem ao CD Do Cócix Até o Pescoço, no qual gravou canções inéditas de Chico Buarque, Jorge Ben Jor, Caetano Veloso. 

Nesse álbum está a canção A Carne, de Marcelo Yuka, Seu Jorge e Wilson Cappelette, que virou um hino contra o racismo e que passou a fazer parte de praticamente todos os shows da cantora dali em diante.

Em 2015, deu início a uma trilogia que resultou em A Mulher do Fim do Mundo (2015), Deus É Mulher (2018) e Planeta Fome (2019), Nesses trabalhos, deu espaço para novos compositores e denunciou, por meio das canções, temas como a violência contra a mulher e a desigualdade social do país. Com esses trabalhos, já perto dos 90 anos de idade, renovou seu público e passou atrair jovens para seus shows e redes sociais.

Seu último álbum a chegar nas plataformas foi Elza Soares & João de Aquino, lançando em dezembro de 2021. Na verdade, trata-se de uma gravação realizada na década de 1980 em São Paulo que permanecia inédita até então. Nele, estão músicas inéditas na voz da cantora, como Drão, de Gilberto Gil, Como Uma Onda, de Lulu Santos e Nelson Motta, Hoje, de Taiguara, e Juventude Transviada, de Luiz Melodia.

Lives na pandemia

Durante a pandemia, Elza realizou lives ao lado de nomes como Seu Jorge e Agnes Nunes. No começo de 2022, gravou um DVD no Theatro Municipal de São Paulo, sem a presença do público e já trabalhava na gravação de um novo disco, com produção de Rafael Ramos. Elza tinha uma show agendado para o dia 3 de fevereiro na Casa Natura, em São Paulo, ao lado do rapper Flávio Renegado.

Interpretações

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Velório 

O velório da cantora Elza Soares será no Theatro Municipal do Rio de Janeiro dia 21 de janeiro (sexta-feira). Das 8h às 10h será fechado para familiares e amigos e das 10h às 14h será aberto ao público.  

O translado para o cemitério Jardim da Saudade de Sulacap será feito pelo carro do Corpo de Bombeiros com trajeto passando pela Av. Atlântica. O velório no cemitério, assim como o enterro, serão restritos aos familiares e amigos.

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