Moreno lança CD entre amigos

Máquina de Escrever Música, seu primeiro CD, contou com a participação de uma série de amigos e será lançado no dia 20, no Free Jazz Festival

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Por Agencia Estado
Atualização:

Moreno + 2 (Kassin e Domenico). Não só. Mais Andrés Levin, mais Caetano Veloso, mais Daniel Jobim, mais Maurício Pacheco, mais Pedro Sá, mais outros. Uma sucessão de nomes somados que, na verdade, são amigos de Moreno e com os quais ele pôde contar para a realização de Máquina de Escrever Música, o seu primeiro CD. O álbum será lançado no dia 20, no Free Jazz Festival, pelo selo Rock It!. Assim ele define: "Todas as pessoas que envolvi nesse disco representam uma teia de amizade que norteia o resultado em si." De fato, os amigos foram importantes na produção. Kassin e Domenico compõem o grupo - desde a criação é um trio. No entanto, não é um CD de participações. A intenção autoral não está perdida. Moreno se lança como compositor, intérprete, produtor e músico. "Mas a minha ambição na música não é a de tornar-me o que ainda não sou, ela tem de refletir o que é representativo para mim", diz ele à reportagem, referindo-se à presença dos amigos, essenciais para a compreensão do seu jeito não linear de compor-se. "Quis que esse trabalho não fosse mascarado, não tivesse uma pintura; fiz de maneira simples, se o acharem pobre, tudo bem." Pobre, não é bem a palavra que se aplica a Máquina..... Pode-se dizer que é um disco econômico. Há quase dois anos existe a intenção de fazê-lo, mas, segundo Moreno, houve dificuldade para tanto. "Apesar de nós (o trio) termos estúdios e amigos, ninguém tinha grana", conta. "Ele foi feito de forma independente quase até o seu fim, quando surgiu a gravadora, a Rock It! (também do amigo Dado Villa-Lobos que participa na faixa Para Xó)." Outra evidente economia foi o modo como produziram o disco. Na serra de Petrópolis, alugaram uma casa e instalaram-se com os próprios equipamentos e, logo mais, os amigos foram chegando. Ali, os três tocaram tudo, revezando instrumentos e funções, exceto a de intérprete, sempre atribuída a Moreno, que acaba cantando o seu pensamento - metade das composições são de sua autoria, a outra metade são de releituras "representativas". DivulgaçãoCapa do CD Máquina de Escrever Música Preciosidades - A economia também reflete a coerência do trio, um ponto que Moreno ressalta na entrevista. "Desde o início, quando fizemos o nosso primeiro show na reinauguração da sala de concertos do MAM de São Paulo e o grupo se formou ali, a coerência existia (não exatamente uma linearidade estética); isso também pode chamar-se insistência, acreditamos desde então que as nossas idéias valem a pena", afirma ele. "Num momento no palco, me assustei com a situação de pensar o que estava fazendo ali e sem querer falei sobre isso no microfone, mas depois pensei apenas que gostamos de música e as pessoas que estavam ali também gostavam, me acalmei e percebi o quanto fazia sentido." Kassin tocou baixos e Domenico, além da percussão eletrônica, pintou o cenário enquanto tocavam. E é basicamente o que fazem num show. Segundo Moreno, a união dessas potencialidades e a "graça" de usar uma instrumentação das quais não são letrados é uma das qualidades do trio. O fato é que, além de corajosos nesse aspecto, são bons produtores individualmente e lidam com abundância da tecnologia dos estúdios. A coerência foi qualidade mantida também no fato de Moreno não ter abusado do violoncelo - instrumento recorrente quando participa de outros trabalhos. "É uma sonoridade da qual gosto muito e sei que pede um ambiente especial", argumenta. O celo está na música de abertura, Sertão, feita em parceria com o pai, Caetano. Se não há incoerência e excessos, não é um contra-senso lançar-se de cara num festival do porte do Free Jazz? Moreno acredita que não. Diz que o convite surgiu naturalmente, pelo fato de as pessoas envolvidas na organização conhecerem o trabalho do trio e também pelos três estarem muito presentes em outras edições. Moreno + 2 queriam lançar o disco antes, mas não foi possível. "É um palco maior do que o nosso show pede, mas a gente não podia dizer não a um convite desse, estamos aí, tanto para levar tomates quanto para aplausos", diz. "O ambiente nos será familiar, pois vamos abrir para o Manu Chao, que é amigo de Kassin." Livre de preocupação com impostações de voz, tendências a seguir, Moreno trilha um caminho de uma música delicada, em muitos momentos amorosa. Nesse ambiente, permite-se, como outros de nossa geração, gostar de Djavan (Jairzinho também é fã) - e cantar Esfinge, valorizar o gênio João Donato (toca em Para Xó) e ainda descobrir "preciosidades" nos desenhos, como I´m Wishing, um dos temas da Branca de Neve, que reviu com o amigo Daniel Jobim (o único que canta no CD além de Moreno). Preferências nada lineares.

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