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Morcheeba grava homenagem a São Paulo

Canção está no disco recém-lançado Charango, mas o grupo ainda acha a cidade "terrível", como deixou claro em sua visita no ano passado. Ouça a canção São Paulo

Por Agencia Estado
Atualização:

O trio de trip hop inglês Morcheeba, um dos mais destacados da cena inglesa, esteve em São Paulo há coisa de um ano para lançar um disco, Fragments of Freedom, e não foi muito feliz na abordagem diplomática. Além de terem demonstrado um comportamento um tanto blasé, zombaram de um disco de Jorge Benjor e Gilberto Gil (Ogum Xangô, de 1975). "Com esse som, a comida pode até me fazer mal", ironizou na ocasião a cantora Skye Edwards, enquanto imitava os improvisos vocais do cantor e compositor baiano egresso da Tropicália. Esse foi o relato do repórter Rodrigo Carneiro, do jornal O Estado de S. Paulo, na época. Estar em São Paulo também era visto como "um pesadelo" para o trio. Mas o Morcheeba fez um exame de consciência e acabou descobrindo que São Paulo era defensável, bem lá no fundo. A canção Sao Paulo, sem til, é a homenagem (e uma espécie de pedido de desculpas) do grupo no novíssimo CD, Charango (Warner Music) que só chega às lojas em junho. Trata-se de uma bossa estilosa, eletrônica. "Acabamos descobrindo que São Paulo não era tão terrível, tinha um lado bom, que está representado nas pessoas", disse Paul Godfrey, falando à reportagem hoje, por telefone, de Londres. Ele tomou todas as caipirinhas que podia, lembra, e espera agora que o trio possa vir ao Brasil para tocar. "Começamos uma nova turnê em junho, após o lançamento do disco, e vamos começar pela Europa, mas a Austrália e a América também estão no roteiro", avisou. Mas sua opinião sobre São Paulo não mudou, ele continua achando a cidade "terrível", uma "selva de concreto com um trânsito assustador". Segundo Godfrey, Charango é um disco que ele poderia definir como um passeio de carro pela noite das grandes cidades. "Dirigindo pela noite, coisa que adoro fazer, você tem uma outra visão das pessoas, é como se visse o mundo numa tela de cinema", pondera. A canção-tema do disco, Charango, é irresistível, com partição de Pacewon (do The Outsidaz, um rapper hardcore) e tem introdução da guitarra folclórica tradicional. Sao Paulo é definida como uma canção ao estilo de Astrud Gilberto. A paixão pelo tropicalismo e pelos Mutantes também transparece na gravação. Godfrey concorda que os ingleses têm um legado psicodélico muito mais pródigo do que o brasileiro, em bandas como Beatles, Pink Floyd (depois Syd Barrett) e David Bowie nos anos 60. "A diferença é a poesia, é um som que parece mais fresco no caso da psicodelia do Brasil", ele pondera. Entre 1996 e 2000, o Morcheeba lançou três discos: Who Can You Trust, Big Calm e Fragments of Freedom, que os levou a vender cerca de 3 milhões de exemplares. Esses discos cristalizaram a banda como um dos expoentes do chamado trip hop inglês, rótulo que eles parecem estar abandonando aos poucos com uma abordagem mais "feliz" (o trip hop é um tanto depressivo) da música. "Não acho que tenhamos mudado tanto, não conscientemente", diz Godfrey. "Você sempre está em crescimento, o gosto muda, e nós fazemos coisas diferentes agora, mas a essência é a mesma." A essência permanece, de fato, em faixas como a relaxante Slow Down, que abre o disco, e em outras como Otherwise (que eles julgam ter toques de Serge Gainsbourg e elementos das trilhas de filmes indianos da chamada Bollywood). Há alguns convidados de peso no disco, como Kurt Wagner, do Lambchop (na faixa What New York Couples Fight about). Wagner também escreveu a letra de Undress Me Now, especialmente para Skye Edwards, a vocalista do trio. Charango traz 12 canções, um senso de ritmo muito mais elétrico e menos afetado do que o trip hop convencional e grande chance de emplacar uma porção de hits na temporada eletrônica. Além de tudo, a canção Sao Paulo tende a se tornar um hino da noite, pelo que tem de ingênua e de autêntica.

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