Moby faz ilusionismo multiinstrumental em SP

Tocou guitarra, teclado, violão, percussão e cantou, mostrando proficiência em todos os instrumentos. Mais do que isso: demonstrou ser um completo entertainer

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Por Agencia Estado
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Na noite desta sexta-feira, em show no Hotel Unique, em São Paulo, o produtor e multiinstrumentista Moby mostrou que, em essência, o músico do século 21 deve ser fundamentalmente um bom músico - e não apenas um apertador de botões capaz das melhores combinações matemáticas. Moby tocou guitarra, teclado, violão, percussão e cantou, mostrando proficiência em todos os instrumentos. Mais do que isso: demonstrou ser um completo entertainer, ilusionista que oferece covers e gracejos à platéia enquanto ganha tempo para esconder o coelho na cartola. Fez sua bela tecladista "desconstruir" a valsa Pour Elise (aquela do caminhão de gás); tocou o maior hit do Radiohead, Creep, em ritmo de bossa nova; e surpreendeu até o vocalista do Sepultura, Derrick Greene, presente na platéia, com uma versão pós-punk de Roots, da banda mineira. Alguém aí gravou com o gravadorzinho digital? Já deu vontade de ouvir de novo. No bis, provavelmente para descansar, obrigou a platéia a agüentar um karaokê do seu baixista em Break on Through, do Doors. O set se apóia fundamentalmente nos discos Play, 18 e Hotel, suas obras mais homogêneas, das quais saem canções como Find My Baby, Porcelain, Why Does My Heart Feel So Bad, In this World, We Are All Made of Stars e Lift me Up. A backup singer Joy Aleita Grand (que substitui a diva de Moby, Diane Charlemagne), segurou num gogó privilegiadíssimo a costura soul e gospel que Moby imprime à sua música. Pop rock viajandão Moby ocupa um lugar que já foi do Pink Floyd, fazendo um pop rock viajandão, altamente dançável, melodioso. Mas o garoto-enxaqueca do pop mantra eletrônico às vezes exagera no populismo (como quando oferece a cabeça de Bush à platéia, para deleite e delírio do lugar-comum político; ou quando apresenta o baterista como filho de "pai italiano e mãe brasileira", e inicia um samba do crioulo doido). O fato é que Moby fez um dos shows do ano no Brasil - pode começar a fazer a lista, contando a partir do White Stripes no Teatro Amazonas (puro delírio herzoguiano) e do MC5 no festival Campari Rock, e preparando terreno para incluir Kings of Leon, Iggy Pop, Sonic Youth, Pearl Jam e Nine Inch Nails, shows imperdíveis a caminho. Em tempo: autoridades do Contru deveriam fiscalizar os shows do Hotel Unique. Num show com mais de 3 mil pessoas presentes, forçaram a saída do público por uma única escada rolante. Se alguém passasse mal ali naquele aperto, tinha pouca chance de sair ileso. Os bares foram mal-abastecidos e a confusão reinava. As bebidas acabaram antes da metade do show. Para quem achou razoável cobrar R$ 300 de ingresso, deveria achar também interessante oferecer um serviço de qualidade.

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