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Moby é sangue nas veias da música eletrônica

Tataraneto de Herman Melville, o escritor do clássico Moby Dick, Moby vendeu 5 milhões de cópias de Play, seu mais recente álbum, é cultuado como o "intelectual da música eletrônica", e garante que no ano que vem toca no Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

Moby é o nome da fera, o homem que injetou sangue nas veias de fibra ótica da música eletrônica. Nem ele mesmo lembra que seu nome verdadeiro é Richard Melville Hall, 35 anos, tataraneto de Herman Melville, o escritor do clássico Moby Dick. Foi por conta disso que ganhou o apelido, que carrega consigo um tanto de ironia: ao contrário da gigantesca baleia criada pelo ancestral Melville, Moby é franzino, contido e aparenta fragilidade. "É interessante tê-lo como antepassado, mas não passo muito tempo pensando nisso", disse o eletrônico de maior sucesso da atualidade, em entrevista por telefone, anteontem. Seu disco mais recente, Play, lançado no ano passado, vendeu mais de 5 milhões de cópias ao redor do mundo e projetou o então timído e pouco conhecido produtor americano - ele nasceu em Nova York - em um darling da mídia, cortejado por Madonna e Leonardo DiCaprio, incensado pela BBC e pela Rolling Stone e examinado em ensaios do The New York Times. "É o disco feito no quarto de maior sucesso no mundo todo", brinca Moby, que produziu Play em seu estúdio caseiro, com recursos domésticos. Mas, na era do MP3 e do Napster, não é exatamente a hora dos discos feitos no quarto? "Sim, é de fato uma nova era, porque o álbum que eu fiz no meu quarto jamais poderia ter sido feito 15 anos atrás, por falta de condições técnicas adequadas". Brasil ? Moby revela que está com o Brasil nos planos há um bom tempo. Chegou a acertar com o Free Jazz, há dois anos, mas cancelou por causa da lua-de-mel. Agora, a vinda dele só será possível a partir de julho do ano que vem, avisa. "Estou numa turnê de 18 meses de duração, que devo interromper em dezembro para começar a trabalhar em meu novo disco, na minha casa em Nova York", ele diz, acrescentado que será de novo um disco feito no quarto. "Provavelmente deverei retomar os shows no verão, e o Brasil está na minha rota", afirma. Novo Disco ? Sobre o novo trabalho, há apenas uma certeza: ele voltará a trabalhar com a cantora Dianne Charlemagne, a voz celestial que canta em um dos seus maiores sucessos, Why Does My Heart Feel So Bad. E também o DJ Spinbad, que o acompanha em turnê. "Para mim, ser um bom DJ é ter domínio dos teclados", ele diz. "Em segundo lugar, tem que ser um sujeito legal." O músico não acha que a fama repentina tenha se tornado um fardo. "Eu me sinto feliz, porque todo músico sonha com isso, é o que eu esperei a vida inteira", afirma. "Tenho uma grande banda, uma boa convivência artística e pessoal com todos e adoro excursionar", afirma. Há dois meses, este repórter assistiu ao show de Moby no festival V2000, em Staffordshire, duas horas de distância de Londres. Ali, ele tocou para 50 mil pessoas, com a sua banda de turnê: ele, Spinbad, Dianne, a baixista Greta Brinkman e o baterista Scott Frassetto. É a antiestrela por excelência. Poucos minutos antes do show, com um capuz de chapeuzinho vermelho, Moby dormia na grama nos fundos do palco. Em cena, ele é outro, ataca teclados, contorce-se ao microfone e age como um maestro esquizóide. Estádios x Clubes ? Mas o que Moby prefere? Os shows da turnê americana, em pequenos clubes, ou os shows em estádios, para milhares de pessoas? "O importante é que sejam platéias entusiasmadas", ele diz. "Gosto das duas possibilidades, e os grandes shows permitem grandes abordagens teatrais, grandiloquentes", explica, acrescentando que há um problema no segundo tipo: o custo. "É muito caro fazer um grande show, e na minha turnê atual eu trabalho com 25 pessoas." Embora pinte como o "rei filosófo da dance music" (como o definiu Ann Powers no The New York Times), Moby não tece considerações demasiado complexas. É até pueril nos seus arrazoados. "Não sei explicar como meu disco se tornou esse sucesso no mundo todo, mas talvez porque seja genérico, abrangendo diferenças que o tornam universal", pondera. Mas ele é um pouco mais contundente quando fala sobre as razões que movem o mundo do show business. "Por quê as rádios não tocam Bob Dylan e sim essa coisa oca chamada Britney Spears?", ele pergunta. Este ano, ele perdeu o MTV Video Award para o rapper Eminem, e não parece ter gostado da escolha. "Não gosto desse tipo de canção sobre matar a própria mulher", comenta. "Eu não sei realmente o que dizer sobre a popularidade desse tipo de música."

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