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Miúcha canta só Vinícius de Moraes

Além de ter 14 composições em que ele aparece como único autor, o disco Miúcha Canta Vinícius & Vinícius - Música e Letra virou um encontro de amigos, fãs e admiradores do poeta Clique para ouvir trecho da faixa Tomara

Por Agencia Estado
Atualização:

Os 90 anos de nascimento de Vinícius de Moraes, um projeto antigo do produtor fonográfico José Milton e a quase completa ignorância do público sobre o lado melodista do letrista de Garota de Ipanema estão na origem do CD Miúcha Canta Vinícius & Vinícius - Música e Letra, com 14 composições em que o poeta e diplomata aparece como único autor. Mas o disco que acaba de sair pela Biscoito Fino foi além da homenagem. Virou um encontro de amigos, fãs e admiradores dele, em torno da voz brejeira da cantora que teve uma carreira paralela à de Vinícius, além da amizade de uma vida inteira. Porque Miúcha conheceu o poeta literalmente desde o berço, já que ele era amigo do pai dela, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, desde a juventude de ambos. "Eles se conheceram antes de meu pai se casar e suas visitas lá em casa eram uma festa, porque era quando a gente podia ficar acordado até tarde, cantando e tocando violão. Muito do que aprendi sobre música brasileira, de Noel Rosa, Ismael Silva e Dorival Caymmi foi com o Vinícius", conta Miúcha. "Muitas vezes, ele começava uma música e pedia à gente para decorar. Cada um de nós guardava um pedaço e, no fim, ele juntava tudo." A maioria das músicas gravadas é dessa época, anterior ao seu encontro com Vinícius e Tom Jobim, Baden Powell, Carlos Lyra, Toquinho e outros menos constantes que ele, mas não menos importantes. A partir de meados dos anos 50, o poeta pouco fez melodias, talvez por ter encontrado os parceiros dos sonhos de qualquer letrista, mas Miúcha acha que não é só isso. "Vinícius era muito gregário, adorava estar cercado de gente e por isso não tinha tempo para se concentrar", arrisca a cantora. "Ainda assim, a obra musical dele é variada e, neste disco, que era um projeto antigo do José Milton, meu produtor (e também de Nana Caymmi, com quem acaba de gravar mais um disco) quis evidenciar essa diversidade." Houve outro motivo importante. Quando a valsa Pela Luz dos Teus Olhos voltou às paradas por estar na abertura da novela Mulheres Apaixonadas, da Rede Globo, Miúcha surpreendeu-se porque a maioria das pessoas atribuía a música a Tom Jobim, que canta com ela na gravação original e tocou até cansar, nos anos 70. Para Miúcha, esse foi o ponto de partida do disco e chamar Daniel Jobim, neto do compositor extremamente parecido com ele, para gravar foi decorrência. "Tom não gostava que crianças se aproximassem de seu piano. Dizia que elas espancavam o instrumento, mas o Daniel, desde a primeira vez, chegou tocando uma nota de cada vez", lembra ela. "Os outros convidados vieram naturalmente, por inspiração do Vinícius." Chico Buarque havia cantado recentemente Medo de Amar, hit da dor-de-cotovelo, e pediu para gravá-la. Bebel Gilberto soube do projeto da mãe, se incluiu e escolheu Tomara. Toquinho, derradeiro parceiro de Vinícius e o que durou mais tempo, era imprescindível e participou de Canção de Nós Dois. "O Zeca Pagodinho foi pensado, desde o início, para gravar Teleco-Teco, um samba bem malandro e bem carioca, mas eu tinha medo de que ele recusasse", revela a cantora. "Bobagem minha porque ele adora o Ciro Monteiro, para quem a música havia sido composta e aceitou o convite de imediato." Para os arranjos, Miúcha chamou maestros com que tem trabalhado em seus quase 30 anos de carreira, como Leandro Braga Hélvius Vilella, Eduardo Soto Neto e Cristóvão Bastos, além de Yamandú Costa, que a acompanha na Valsa para Eurídice". "Houve detalhes importantes, como a participação de João Lyra, no violão, no fado Saudades do Brasil em Portugal, gravado originalmente por Amália Rodrigues, e a gaita country de Milton Guedes, em Georgiana, que ele fez em inglês quando a filha nasceu", enumera Miúcha. "O disco é mesmo uma reunião de amigos em torno de Vinícius de Moraes. A unidade conseguida com a participação de tantos e tão variados artistas deve-se à experiência do José Milton, mas o astral lá em cima é coisa do próprio Vinícius, que parecia estar presente o tempo todo no estúdio."

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