Milton Nascimento lança selo só para balés

O CD duplo que inaugura o selo Nascimento traz Maria, Maria e O Último Trem, compostas para o grupo Corpo, além do balé inédito Cores e Vozes

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Por Agencia Estado
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Em 1976, um balé com música do cantor Milton Nascimento projetou uma pouco conhecida companhia de dança mineira, o Grupo Corpo. A música era o cerne daquele trabalho, mas levou 25 anos para que Maria, Maria saísse em disco. E a iniciativa foi do próprio Milton Nascimento, que criou um selo só para editar seu trabalho para balés. "Acho que esse tipo de coisa é mais fácil com o selo da gente e dá para fazer tudo sem ninguém meter a colher", disse hoje Milton, falando por telefone à reportagem. O CD duplo que inaugura o selo Nascimento traz Maria, Maria e O Último Trem (esta composta por ele em 1980, também com exclusividade para o Corpo), ao preço de R$ 45. Pode ser encontrado nas grandes lojas de discos. "Eu gostaria que o Corpo fizesse de novo pelo menos três apresentações daqueles balés, mas eles acham que é algo velho, que não cabe mais", disse o cantor. Quando é informado que o grupo chegou a mostrar Maria, Maria há alguns anos, no Teatro Municipal, ele reclama, mas com humor. "E nem me convidaram; é sempre assim, você dá o pontapé inicial e depois leva um pontapé." Milton não está sendo azedo, é que ele adora aqueles trabalhos. "Aquilo foi um presente, tanto o Maria, Maria quanto O Último Trem, ele lembra. "A gente se reuniu, eu, o Oscar Araiz (coreógrafo) e o pessoal do Corpo e foi um trabalho fácil, tranqüilo, que me deu muito prazer." Mas as circunstâncias das composições já não foram tão tranqüilas. Milton conta que estava em seu apartamento na Barra da Tijuca, quando começaram a chegar visitas. "Era época de férias e começaram a chegar afilhados e parentes", ele lembra. "Você sabe, férias, beira de praia, sempre vem a mineirada toda." A confusão era tanta que ele às vezes não conseguia ouvir o que estava tocando. Mas isso não foi exatamente um problema. Milton diz que adora compor na balbúrdia. "Em vez do silêncio, eu prefiro o barulho e a agitação", escreveu, na contracapa do álbum. Ele lembra que, quando as trilhas foram compostas, "ninguém pensou em disco". E elas ficaram lá no Grupo Corpo até agora, quando ele foi atrás para remasterizar o material. Quem lhe deu o insight foi o coreógrafo americano David Parsons, também parceiro em um trabalho de dança. "O David me ligava e me dizia: ´Precisa fazer CD, todo lugar que a gente vai pedem para saber onde podem comprar o disco´", conta Milton. O cantor então resolveu lançar o material, reunindo os balés já feitos - além dos dois do Corpo, a coreografia "Nascimento", de Parsons, e um inédito, "Cores e Vozes". O balé inédito foi composto este ano por Milton e está pronto. "Está aqui em casa", diz, com seu jeito minimalista e objetivo de falar. "Vou mandar para a Espanha, tem um pessoal lá que quer muito fazer coisas minhas, e eu estou louco para virar balé, porque é algo muito diferente de tudo que já fiz". Cores e Vozes tem muito instrumental, a voz de Milton Nascimento e o coral Os Rouxinóis, de Divinópolis, além da participação de Léo Bretas, um dos cantores-mirins do álbum Txai - hoje já não tão mirim. Milton Nascimento está numa fase ebulitiva, de criação plena. Já tem 18 canções prontas para seu novo álbum, que deve sair "em novembro ou dezembro". Trabalha com sua banda nos arranjos. "Estou agora naquele processo terrível de excluir algumas músicas", choraminga. A única canção que não é inédita é Voa, Bicho!, de Telo Borges, irmão de Lô Borges", ele conta. Ele foi garimpar a canção no disco Os Borges, gravado pelos 11 irmãos e pelo patriarca e a matriarca do clã mineiro Borges, com participação de Elis Regina. Ao mesmo tempo, Milton participa de quatro shows diferentes País afora. Um deles é Ser Minas Tão Gerais, que protagoniza com o grupo Ponto de Partida (de Barbacena), além de 40 crianças de Araçuaí, cidade ao norte de Minas, "15 horas de ônibus de Belo Horizonte", ele lembra. Patrocinado pela Telemig o espetáculo é menina-dos-olhos do cantor, que quer trazê-lo a São Paulo, mas não encontrou dinheiro até agora. Outro show na agenda do músico é um espetáculo com sua banda, mais um grupo de mineiros de diferentes gerações: Lô Borges, Marina Machado e Élder Costa. Além disso, estrela (num show all stars) o concerto Pérolas Negras, que estreou recentemente no sambódromo paulistano. E ainda tem gente pedindo que ele e Gilberto Gil montem um Gil & Milton 2.

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