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Mick Jagger volta solo e sem tempero

Seu álbum Goddess in the Doorway é mais uma prova de que os Stones e seu líder não devem se afastar: sem a banda, Jagger perde personalidade e erra a mão

Por Agencia Estado
Atualização:

Dezessete anos depois de quebrar o juramento de que não iria se dedicar a trabalhos-solo, Mick Jagger lança seu quarto disco, Goddess in the Doorway. O pop star, cuja imagem e presença na mídia há muito tempo se tornaram maiores do que sua música, reafirma o que já tinha ficado claro em seus três trabalhos anteriores: seu talento funciona muito melhor ao lado dos Rolling Stones. O novo disco tem parcerias com Lenny Kravitz, Bono e Wyclef Jean, mas quase nenhuma personalidade. A credibilidade que Jagger ganhou como o líder da maior banda de rock da história é merecida: sua presença de palco, voz e as composições em parceria com Keith Richards ainda não encontraram substitutos. Mas as tentativas de carreira-solo e os trabalhos no cinema não têm o mesmo toque mágico, como foi possível perceber com discos como She´s the Boss, de 1984, Primitive Cool, de 1987, e Wandering Spirit, de 1993; e filmes como Freejack e Bent. A música Just Another Night é seu único hit solo em quase duas décadas de tentativa - ironicamente, ele passou outras duas décadas, antes disso, jurando que não queria ter uma carreira-solo. Assim, Goddess in the Doorway, que chega hoje ao mercado internacional, parece ser apenas mais uma das atividades comerciais que a "Jagger, Inc." tem de cumprir quando não está fazendo turnês com os Stones, pontas em filmes de qualidade discutível ou concebendo filhos com modelos com carreiras em declínio. O cantor acaba reduzido a um intérprete de média capacidade em uma compilação de faixas medíocres e produção sem tempero. "Esta é uma coleção de músicas intimistas que eu poderia cantar para você na mesa da cozinha", disse Jagger em um comunicado à imprensa. "São canções pessoais, fiéis à minha visão original." Infelizmente, as músicas sofrem justamente por falta de personalidade: o roqueiro absorve mais o estilo de seus convidados do que vice-versa. Um dos melhores exemplos disso é Joy, em que Bono divide os vocais com Jagger e o resultado é uma faixa que não chega nem aos pés das piores composições do U2. A participação, por sinal, envolveu muito mais camaradagem e estratégias promocionais: Jagger havia participado de uma música no disco All That You Can´t Leave Behind, que acabou não entrando no álbum. Já a parceria com Lenny Kravitz, God Gave Me Everything, lançada como primeiro single, é melhor. Talvez ficasse mais interessante se tivesse sido gravada apenas por Kravitz. Mas há momentos bem mais sofríveis, como as baladas Don´t Call Me Up e Brand New Set of Rules. Nesta última ele chega a colocar as filhas, Elizabeth, de 17 anos, e Georgia, de 7, para fazer os vocais de apoio. Os fãs de Jagger vão ter de esperar pela turnê de 40 anos dos Rolling Stones, prometida para o ano que vem, "intermináveis" quatro anos depois da bem-sucedida Bridges to Babylon. Mas a ironia maior de Goddess são as comparações ao novo disco do contemporâneo e ex-concorrente Paul McCartney, Driving Rain, que chega ao mercado ao mesmo tempo e tem qualidade e criatividade para deixar Jagger com vergonha.

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