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Michel Legrand prepara turnê para comemorar seu 80º aniversário

Compositor francês prepara turnê de aniversário, que deve incluir o Brasil

Por Francisco Quinteiro Pires
Atualização:

Na sua busca pela expressão da beleza, o compositor francês Michel Legrand tem como inspiração a convivência com a esposa, a harpista Catherine Michel. 'Falamos de música o tempo todo', diz. Instrumentista conceituada, Catherine é como um anjo da guarda a sussurrar ideias no ouvido do marido. A caminho de completar 80 anos em fevereiro, Legrand continua a se alimentar da mesma paixão, iniciada aos 13 anos, idade em que largou a escola para se dedicar aos estudos musicais. 'Meu pai já havia morrido, quando a minha mãe arrumou professores para mim - ela percebera como eu amava a música.'

 

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Aluno da legendária Nadia Boulanger, o pianista e cantor Legrand encontra na infância a origem do sucesso como compositor de jazz, peças clássicas e trilhas sonoras para o cinema. 'E na prática constante - toco piano todos os dias.' Em entrevista ao Estado antes recente de apresentação no Blue Note, em Nova York, ele contou que o Brasil está entre os países da turnê para comemorar o aniversário de 80 anos. 'Ao contrário dos franceses, que são no máximo entusiastas da música, os brasileiros são um povo muito musical.' Legrand se interessou pela música brasileira após ouvir a voz da cantora Maysa. Admirador de Gal Costa e Ivan Lins, ele lançou em 2004 um disco em homenagem ao pianista Luis Eça. 'Continuo perseguindo um projeto idealizado por Catherine: gravar as lindas melodias de Tom Jobim.'

 

O compositor francês passou a ser cultuado no mundo jazzista após lançar Legrand Jazz (1958) nos EUA. Da gravação do disco em Nova York participaram Bill Evans, John Coltrane, Miles Davis, Ben Webster, Paul Chambers, instrumentistas classificados por ele como 'gênios que não existem mais'. 'Toquei e aprendi com todos eles durante uma época sublime para o jazz - era como se os músicos tivessem esquecido tudo e começado de novo', conta. 'Esses gênios também aprenderam comigo.' Ele diz que só em conjunto os músicos realizam descobertas sólidas e imaginam novos destinos para as composições. 'Quando essa relação dá certo, é como se fosse um presente.'

 

A situação muda ao trabalhar para o cinema. Legrand se entrega a uma tarefa solitária, que rendeu até agora mais de duas centenas de trilhas. Uma caixa com quatro CDs, Le Cinéma de Michel Legrand (2005) reúne 90 dessas obras. 'O processo de produzir uma trilha é complicado. O músico tem de ser sensível às imagens e às emoções do filme.' Ele recebeu 12 indicações e três estatuetas do Oscar por Crown, o Magnífico (1968), Houve uma Vez um Verão (71) e Yentl (84). 'Se não amar o filme', ele se recusa a compor.

 

Legrand divide os cineastas entre 'os que amam os músicos e os que gostam de trocar os músicos'. 'Já eu sou compositor que adora trocar de diretores.' Criador de trilhas para filmes de Jean-Luc Godard, Agnès Varda, Claude Lelouch, Orson Welles, Clint Eastwood e Jacques Demy, ele exige confiança total no seu trabalho. 'Digo como deve ser a trilha só após ver o filme e não aceito interferência. Houve diretores que quiseram mudar minha música; em resposta, apertei a mão deles e disse adeus.' O compositor garante que tinha essa atitude antes mesmo de ganhar o primeiro Oscar. Décadas atrás, ele trocou um aperto de mãos com Godard, que colocou nos créditos de Uma Mulher É Uma Mulher (61) ser aquela a última trilha do pianista para seus filmes. A relação mais duradoura se desenvolveu com Jacques Demy (1931-1990). Legrand compôs para quase todos os filmes dele, tendo alcançado fama mundial com Os Guarda-Chuvas do Amor (64). Com a trilha para esse clássico do cinema francês, o pianista sentiu ter cumprido sua crença musical. Para ele, o essencial da arte é exprimir 'beleza', uma das suas palavras preferidas.

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