Metallica volta furioso, pesado e sem frescura

Após seis anos sem gravar material inédito, banda lança St. Anger, o disco mais pesado de seus 23 anos de carreira

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Saint Anger, o santo da ira, quer sugar as veias do pescoço de James Hetfield. Ele faz o diabo na vida do vocalista do Metallica sempre que sopra em seu ouvido que ele não passa de um alcoólatra, maníaco depressivo, metaleiro de butique que faz música melosa apenas para ganhar garotas e ser astro pop. Saint Anger torturou Hetfield durante anos, até que ele resolveu chamar os exorcistas. O Metallica faz o álbum mais pesado de seus 23 anos de carreira inspirado pela raiva. St. Anger, primeiro disco inédito depois de seis anos de reclusão, traz onze músicas novas, um DVD com cenas de estúdio (que vem na mesma caixinha) e uma série de decisões estratégicas - uma vez que tudo o que a banda faz se transforma automaticamente em referência para as outras - que sinalizam novos tempos no mundo do metal. Não há mais melodias, nem tantos solos de guitarra. Não é pop, nem há canções limpas. E as músicas não são mais assinadas só pela dupla Hetfield e o baterista Lars Ulrich, como várias vezes no passado. Tudo foi feito pela banda inteira - o quarto compositor, no caso, foi Bob Rock, produtor do álbum. Bob também tocou baixo, mas o novo baixista oficial é Robert Trujillo. O grupo nunca fez um disco tão sujo, tosco, violento e tão propositalmente mal gravado. E é aí que os cabeludos coçam a cabeça. Afinal, o que quer agora a banda que tirou o metal do buraco e lhe deu fama? Que conseguiu tocar nas rádios sem perder a dignidade? Os rapazes de São Francisco são radicais, mas não ingênuos dispostos a voltar no tempo e fazer um novo Kill´em All, álbum que os lançou em 1981 cuspindo na face do rock afeminado da época. Os solos melódicos de Kirk Hammet foram trocados de vez pelos dois bumbos velozes da bateria de Ulrich. Agora eles querem os fãs de hardcore e nu metal, dissidência metaleira mais jovem que virou um bom negócio nos anos 90, com a popularidade de bandas como Limp Bizkit e Linkin Park. Os reis do metal rompem com a melodia para migrarem a outro terreno, de onde novas levas de fãs devem surgir. Os quatro cavaleiros do Apocalipse podem ser mesquinhos, mas não são boçais a ponto de arranjar briga até com o papa João Paulo 2º se ele resolver baixar Enter Sandman pela internet. Há três anos, o grupo atacou o Napster e pediu seu fechamento por ser radicalmente contrário à disponibilização de suas músicas no site. Mas afinado com o comportamento de seu novo público - jovem, branco, classe média, internauta -, a banda usa a internet para divulgar o vídeo de St. Anger em seu site oficial (www.metallica.com) e para fazê-la funcionar como uma espécie de extensão do álbum. O encarte do CD traz uma senha que dá acesso a músicas que não estão no disco. Uma jogada de mestre com a seguinte mensagem subliminar: "Ouça o Metallica na internet mas, primeiro, compre o disco". James Hetfield, na mesma época em que o baterista Ulrich abria fogo contra o Napster, internava-se em uma clínica para, oficialmente, tratar de uma grave dependência alcoólica. Havia rumores de que se tratava de depressão por motivos conjugais, mas ele jamais esclareceu o assunto. Sua ira cresceu a ponto de ele compor versos (St. Anger) como "Santo da ira ronda o meu pescoço/ Ele nunca consegue respeito/Eu quero minha raiva para ser saudável / E eu quero minha raiva apenas para mim / Preciso de minha raiva para não ter controle / E eu quero minha raiva para ser eu mesmo". No caso do Metallica, tanto ódio veio para o bem.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.