Mehldau promete catarse ao piano

Pianista, que se apresentará no Bourbon Street e em Campos de Jordão, diz querer que a platéia tenha experiência emocional

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Por Agencia Estado
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O pianista Brad Mehldau, anárquico alquimista do jazz, está de volta ao Brasil. Sua missão é ingrata: ele vem para substituir o veterano Elis Marsalis, que tocaria no Bourbon Street e cancelou a vinda por "problemas de saúde na família". Mas quem pensa que Mehldau é apenas um tapa-buracos engana-se. Aos 32 anos, é simplesmente um dos maiores nomes do piano a surgir na cena jazzística em uma década. Ele começou em 1989, em Nova York, trabalhando com as bandas de Cecil Payne e Joshua Redman. O pianista também toca em Campos do Jordão, como parte das atrações do Festival de Inverno. Ele concedeu entrevista por e-mail. Agência Estado - Você está vindo para substituir Elis Marsalis. Você o conhece? Quais são suas impressões sobre o trabalho dele? Brad Mehldau - Encontrei-o brevemente em New Orleans uma vez e foi muito legal. Só o ouvi tocar uma vez em um concerto com Marcus Roberts e adorei. Na última vez que esteve aqui, você tocou "Logical Song", do Supertramp. Também fez um disco em homenagem a Nick Drake e gravou "Radiohead". Diga-me: pop rock foi uma influência em sua carreira? Mehldau - Sim. Eu ouvia rock antes de descobrir o jazz e ainda ouço, por diversão. O rock definitivamente foi uma influência para mim - o jeito de escrever música, por exemplo, e o senso de melodia. Jazz, pop music e música clássica me influenciaram. E alguém como Nick Drake eu não acho que seja "pop" ou "rock" ou "folk". São apenas grandes, belas canções, tristes e melancólicas. Artistas são classificados, para mim, não pelo estilo ou nacionalidade ou história, mas pela experiência emocional que proporcionam. Você gravou uma canção chamada "Elegy for William Burroughs and Allen Ginsberg". Aquela estética da beat generation também foi uma fonte de inspiração? Mehldau - Ginsberg, Burroughs, Kerouac e outros capturaram algo essencialmente americano em seus escritos - um quê selvagem, algo que ainda não foi nomeado. Eles viram que aquilo estava desaparecendo e escreveram sobre isso. Há uma verdade naqueles escritos e isso me impressionou. Você tocou aqui como sideman da cantora holandesa Fleurine. Como se sente acompanhando cantoras? Mehldau - Eu me divirto muito. Há um grande prazer em acompanhar alguém. Mas, quando há um texto envolvido, aquilo acrescenta outra dimensão. Quem está na sua banda e quais são os planos para essa turnê pelo Brasil? Gosta da nossa música? Mehldau - Meu trio é a mesma banda com a qual venho tocando nos últimos sete anos. Larry Grenadier no baixo, Jorge Rossy na bateria. Nunca estive aí com um trio. Nossos sets variam de show para show, temos umas 20 canções no repertório e fazemos um rodízio delas, para manter as coisas com um frescor. Adoro Tom Jobim, é claro. Suas canções têm uma beleza específica e um mundo próprio. Um dos meus discos favoritos é Elis e Tom. Estive no seu concerto no Teatro Alfa, dois anos atrás. Você vive uma espécie de transmutação no piano, contorce-se, faz caretas. Como define tocar para uma platéia? Mehldau - Quero que a platéia tenha uma experiência emocional, porque para mim é uma catarse ouvir música. Mas o componente intelectual é muito importante também. Às vezes, as pessoas não têm idéia de que o intelecto pode ser esteticamente prazeroso. A platéia, eu acho, pode ter diante de si essa escolha: um engajamento emocional e uma experiência intelectual. Geralmente tento oferecer ambos. Há canções que têm um forte sentimento que não precisa de demasiada explicação e há outras - principalmente minhas próprias composições - que têm uma qualidade mais discursiva. Quero sempre que o público se divirta com o que faço e não acredito em ninguém que diz que não se importa com o que a platéia pensa. Mas, ao mesmo tempo, é importante ter como verdade absoluta uma visão própria da música. E, é fato, eu saio um pouco fora de mim quando estou no palco. Serviço - Brad Mehldau Trio. Dias 10 e 11, às 22 horas. R$ 65,00 a R$ 120,00 (couv. art.). Bourbon Street Music Club. Rua dos Chanés, 127, tel. 5561-1643. São Paulo. Patrocínio: Diners Club International

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