Medaglia promete pôr Municipal no circuito

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Da sala 27 do quinto andar do Teatro Municipal, Julio Medaglia enfrenta sérios problemas. Recém-nomeado para o posto de diretor-geral do teatro, o maestro tem pela frente uma das mais complicadas tarefas da carreira: pôr o Municipal, novamente, na rota musical da cidade. O desafio é enorme, tendo em vista a situação da programação do teatro que, ao longo dos anos, tem perdido em qualidade e quantidade. "Precisamos transformar o Municipal em referência para a população, com concertos sempre às sextas e aos domingos, de forma que o pai de família possa acordar e levar os filhos ao teatro sem o risco de ter de voltar para casa sem assistir à apresentação." A proibição da entrada no teatro de tênis e jeans, segundo ele, não atrapalharia a relação do teatro com o público. "No Municipal, é importante respeitar um certo código de conduta." Para Medaglia, isso só pode existir se houver uma maior integração entre os corpos estáveis e a direção do teatro. Para tanto, ao contrário do que acontecia com o antigo diretor da casa, o maestro Isaac Karabtchevsky - que acumulava também o posto de diretor do Teatro La Fenice, uma das mais tradicionais casas de ópera da Europa -, Medaglia pode ser encontrado todos os dias no teatro e ensaia diariamente com a orquestra. "É muito importante desenvolver um relacionamento intenso com a orquestra, o que possibilita a criação de uma sonoridade característica", indica Medaglia. Segunda Vez - Outro ponto ressaltado pelo maestro, que assume pela segunda vez a direção do Municipal, é a necessidade de um "caráter jornalístico" na orientação do trabalho do teatro. "Tudo o que for feito tem de provocar o público." Como? "Precisamos voltar o trabalho dos corpos estáveis para aquilo que é atual, que é reflexo da vida da sociedade." Essa atitude, que visa a transformar o Municipal em "uma caixa de idéias e não de sons", transforma Medaglia em uma espécie de produtor cultural. "Na situação atual precisamos agir não apenas como músicos, mas como animadores culturais." O Municipal é composto por quatro corpos estáveis: o Balé da Cidade, a Orquestra Sinfônica Municipal, o Coro Lírico Municipal e o Quarteto de Cordas da Cidade. "São excelentes companhias que sofrem, no entanto, falta de uma política cultural." Para eles, Medaglia propõe mudanças como a criação de uma companhia de balé clássico. "O Balé da Cidade é um grupo excelente, mas sinto falta de montagens dos grandes balés clássicos", indica o maestro que acredita na capacidade da Escola Municipal de Bailado em fornecer jovens para o grupo. "Há gente muito talentosa sendo formada e que não encontra lugar para se desenvolver profissionalmente." Ópera - Outra bandeira levantada por Medaglia é devolver ao Municipal uma temporada de ópera que, em décadas passadas, pôs o teatro na rota de estrelas internacionais como Renata Tebaldi e Beniamino Gigli. Tarefa bastante complicada, mas que, para Medaglia, pode começar por uma valorização dos artistas nacionais, com a criação de um estúdio de ópera. "A idéia seria montar um arquivo de vozes dos membros do coro e de artistas da cena lírica nacional, arquivando-as e tornando-as fontes de consulta para futuras montagens." Além disso, é intenção do maestro instituir uma estrutura mais ampla, que inclui a criação de uma oficina cênica. "Já visitei um galpão abandonado da prefeitura onde cenógrafos trabalhariam em concepções cênicas que podem ser utilizadas em montagens do teatro." Para conseguir reformular a estrutura do teatro, no entanto, Medaglia terá de enfrentar a máquina burocrática da prefeitura. O Teatro Municipal faz parte do Departamento de Teatros da prefeitura e sua verba anual, assim como a renda da bilheteria, está vinculada à Secretaria de Finanças do município. "É preciso repensar a situação do municipal em meio à estrutura da prefeitura."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.