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Maxim Vengerov fala sobre os recitais que fará no Brasil

Violinista russo se apresenta neste domingo em São Paulo

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Por Redação
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O violinista russo Maxim Vengerov completou, no dia 20, 40 anos de idade - e, se levarmos em consideração o fato de que subiu ao palco profissionalmente pela primeira vez aos 5, já são 35 anos de carreira. Ao longo desse tempo, tornou-se um dos principais nomes da história do instrumento. E, na última década, reinventou-se ao iniciar também uma trajetória como maestro. Esta semana, ele volta a se apresentar no Brasil (esteve aqui pela última vez em 2012). No domingo, faz recital no Teatro Municipal de São Paulo ao lado do pianista Vag Papian, em prol da Instituição Beneficente Israelita Ten Yad. Na sequência, vai ao Rio, para apresentações com a Sinfônica Brasileira. E, antes de embarcar ao Brasil, ele falou por telefone ao Estado. Você vai interpretar em São Paulo um programa que inclui peças de Cesar Franck, Prokofiev, Paganini, Brahms. Na hora de preparar um recital, o que lhe parece mais importante: estabelecer possíveis diálogos entre diferentes compositores e suas peças ou formar uma paisagem musical diversificada?

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O recital é meu formato favorito. É onde posso oferecer ao público duas horas de música pautadas pela variedade, apresentando diferentes tradições. É um momento de escape também. Em São Paulo, a primeira parte começa com a Sonata de Franck, obra magnética e poderosa, símbolo da era romântica. E, em seguida, vem a Sonata nº1 de Prokofiev, talvez sua composição mais sombria. Esse contraste entre as duas obras me interessa bastante. E, na segunda parte, a ideia é mostrar peças virtuosísticas, que revelam todas as possibilidades expressivas do violino, cada uma à sua maneira.

Nos últimos dez anos, você tem se dedicado também à regência. Por quê?Quando me via tocando os grandes concertos para violino, como os de Beethoven, sentia que algo faltava. Era, claro, sempre especial. Mas, quando se domina a técnica, você toca qualquer coisa. E, durante os concertos, eu me pegava tentando entender de maneira mais completa o verdadeiro significado musical do que estava acontecendo. E, antes de me dedicar a estudar a regência, não conseguia captar esses significados todos.

Em que medida o maestro ajuda o violinista e vice-versa?Quando tinha 22 anos, gravei o concerto de Brahms pela primeira vez, com o maestro Daniel Barenboim. Foi uma grande experiência, eu era um jovem artista repleto de frescor, o resultado foi muito bom. Mas, depois de reger a peça mais de vinte vezes nos últimos anos, com outros violinistas, a vejo de uma forma completamente diferente no que diz respeito a seu espírito, sua proposta estética, o modo como violino e orquestra interagem. Tanto que, em 2015, vou lançar uma nova gravação, agora solando e regendo, em um disco que terá também a Sinfonia Escocesa de Mendelssohn. Há algum repertório que lhe interesse particularmente como maestro? Após reger um número razoável de sinfonias dos períodos clássico e romântico, de autores como Brahms, Beethoven, Mozart, Tchaikovsky, Schubert, o que quero muito fazer é mergulhar a fundo em um repertório que me fascina: as sinfonias de Mahler, Shostakovich e Bruckner. Você é, desde 97, embaixador da boa vontade da Unicef. Em que sentido a música pode influenciar a vida de uma criança?Minha mãe tocava em uma orquestra de Novosibirsk e também regia um coral infantil. A certa altura, criou uma escola de música dentro de um orfanato. Então, desde cedo, testemunhei a beleza que nasce do contato da criança com a música. E essa beleza é capaz de transformar uma pessoa. De certa forma, meu trabalho na Unicef é uma continuação da experiência com minha mãe. Quando me chamaram, coloquei uma condição: não queria só fazer concertos beneficentes, mas também ter contato com crianças e jovens de todo o mundo. Eu acredito no poder da música de quebrar barreiras. Mas, para isso, você tem de estar aberto - e as crianças estão, pois tem a inocência. E a música nos dá ferramentas para que essa inocência jamais se perca. Na semana passada, esteve no Brasil a pianista russa Elisso Virsaladze. Ela tem extensa carreira como professora e afirmou perceber, nos últimos anos, uma mudança grande no perfil de seus alunos. Você também se dedica a dar aulas. Percebe, de alguma forma, essa mudança? Elisso é uma professora da tradicional escola russa, que remonta a uma escola ainda mais antiga, e entendo ao que ela se refere. Há muitas distrações no mundo de hoje. E a tendência é conseguir cada vez mais e mais rápido com menos esforço. Mas acho que talvez isso seja natural, a humanidade tem o direito de experimentar coisas antes de encontrar uma nova harmonia. A nova geração carrega um novo mundo de ideias e isso é bom se levarmos em conta também os ensinamentos do passado - e tivermos a inteligência emocional para lidar com essas possibilidades.

MAXIM VENGEROVTeatro Municipal de São Paulo. Pça Ramos de Azevedo, s/nº, 3334-2977. Domingo, 20 h. De R$ 50 a R$ 150.

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