Martinho da Vila fecha o ciclo de 'Bandeira da Fé'

Prestes a fazer show único nesta sexta (17), no Tom Brasil, sambista fala ao 'Estado' sobre as influências que sua música recebe das religiões de matrizes africanas

PUBLICIDADE

Foto do author Julio Maria
Por Julio Maria
Atualização:

Martinho da Vila vai encerrar hoje, 16, o giro que faz desde o começo de 2019 com o disco Bandeira da Fé. Esse é o nome da música que ele fez com Zé Catimba, mas que jamais quis gravar. Algo parecia faltar, Martinho pegou birra do samba. Até que, em 1984, Agepê a gravou, e, muito graças a ela, vendeu mais de 1 milhão de discos do LP Mistura Brasileira.

Martinho, 81 anos Foto: PIERRE VICARINI

PUBLICIDADE

“Agora, fiz as pazes com esse samba”, diz Martinho, 81 anos, 61 de carreira. Ele faz então um único show, a partir das 22h, no Tom Brasil. Vai privilegiar o repertório de Bandeira da Fé, o disco, mas também colocar os sambas que o fizeram atingir os topos de sua carreira, como Canta Canta Minha Gente, Mulheres e Devagar Devagarinho.

Martinho fala ao Estado por telefone, de sua casa, no Rio. Católico de criação, vai à umbanda e ao candomblé por alimento e inspiração. Sua obra passa pelos terreiros muitas vezes, como nos sambas Festa de Umbanda e Festa de Candomblé. E aqui tem história. Algumas ele só conta agora, confirmando a informação de fontes que vivem nas giras, os rituais feitos com a presença das entidades, cheios de significado e força para os seguidores das matrizes africanas.

Martinho é ogã, como se chamam os homens autorizados pelos orixás a tocar os tambores nas celebrações, conforme a crença dos terreiros. “Quando cheguei, fui autorizado a isso e toquei. Eles gostaram e acabo tocando sempre que vou.” São os tambores que abrem as portas entre os mundos nas evocações e por isso, para tocá-los, é preciso mais do que talento artístico.  O samba Festa de Umbanda, que fala que o “sino da igrejinha faz Belém Blem Blam”, chegou a Martinho em uma gira. Não por meio de mensagens de exus ou pretos velhos, mas por inspiração, como diz. “Eu estava lá e senti, a melodia chegou e acabei fazendo a música.”

Saber dos orixás e das nomenclaturas dessas culturas, independentemente de se acreditar ou não, é, para Martinho, algo fundamental para se entender a própria música brasileira. Ou muitas pessoas seguirão se perguntando, afinal, que é Ossanha da música de Baden e Vinícius.

MARTINHO DA VILA.  HOJE (17), ÀS 22H, NO TOM BRASIL R. BRAGANÇA PAULISTA, 1281 – VILA CRUZEIRO TEL. 2548-2541. ENTRE R$ 50 e R$ 220

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.