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Mark Lanegan, imbatível na luta contra o tempo, volta a São Paulo em setembro

Ícone do grunge há 30 anos se transforma para ser relevante no mundo contemporâneo

Por Pedro Antunes
Atualização:

Nas paredes externas das igrejas de arquitetura gótica, as gárgulas figuram no topo. Assustadoras. Sombrias. Invencíveis, incrivelmente, nessa batalha contra o tempo. Elas estão ali. De olho no mundo ao redor que mudou um tanto.

Gargoyle (“gárgula”, em inglês), é o título apropriadíssimo para o novo disco de Mark Lanegan, esse ícone que já foi do grunge e, hoje, é uma figura solitária de uma geração que, aos poucos, vai deixando de existir. Lanegan, contudo, está ali. Segue conosco. De olho. 

Mark Lanegan Foto: Steve Gullick

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É uma figura de um outro tempo, afinal. Dono de uma voz sem precedentes. Não há antecessor, não há sucessor. É Lanegan, apenas, o dono desse grave aveludado, embora corroído pelo tempo e pelo uso. Está na ativa desde a ótima Screaming Trees, banda que esteve presente na cena emergente de grunge de Seattle naquele fim dos anos 1980, início da década seguinte, ao lado de Alice in Chains, Pearl Jam, Soundgarden, Mudhoney e, é claro, o Nirvana, grupo que colocou aquela música underground e ruidosa na popular MTV da época.

O grande sucesso do Screaming Trees foi o segundo disco deles, Sweet Oblivion, de 1992, disco que tinha Nearly Lost You, Butterfly, entre outros sucessos da época. Acontece que ainda no ano de 1990, Lanegan já era artista cujo nome estampava a capa do disco. The Winding Sheet, estreia dele, saiu naquele ano e apresentava uma versão ainda verde de Lanegan.

Ainda assim, a versão de Where Did You Sleep Last Night é incrível e tem ninguém menos do que Kurt Cobain, do Nirvana, gravando guitarra na faixa – Kurt e banda, aliás, gravaram uma versão dela no Acústico MTV deles, de 1993. 

O fato é que o Mark Lanegan ainda é essencialmente o mesmo. Talvez melhor hoje, aos 53 anos e ciente do potencial da sua voz. Desde 2012, ele segue sem descanso, soltando um disco seguido do outro. Vieram, vejam só: Blues Funeral (2012), Imitations (2013), Phantom Radio (2014) e, no ano passado, o citado Gargoyle

É seu último trabalho o foco dessa volta a São Paulo, três anos depois da última apresentação por aqui. Ele toca no Cine Joia, em 8 de setembro, um sábado, no centro da cidade, às 21h. Os ingressos estão à venda desde o mês passado

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Com Gargoyle, Lanegan revigora sua carreira e sua forma de cantar mais uma vez. E reafirma a capacidade de se moldar de acordo com o colaborador. Lanegan é um sujeito que funciona bem próximo a outros criadores. Já colaborou com a ótima e pesada Queens of the Stone Age. Foi próximo de nomes como PJ Harvey e Moby. Integrou o projeto The Gutter Twins.

Desta vez, ele e banda (sim, o disco é assinado por Mark Lanegan Band) colaboram com o músico inglês Rob Marshall. Juntos, eles criam canções feitas para levar a voz de Lanegan a direções ainda inexploradas. 

Avançam, juntos, em um mundo sombrio de sintetizadores, algo que funcionou muito bem com o New Order e com o Primal Scream, na fase do início dos anos 2000. É sintético, mas sem perder o coração pulsante. Nocturne, Emperor e Goodbye To Beauty estão entre as grandes canções já feitas por ele. Foi lançada, também no ano passado, uma versão de Garboyle com remixes chamada Still Life With Roses.

E, com ele, Lanegan prova ser uma figura que sobrevive ao tempo, à corrosão, à chuva, ao vento, ao que houver. Permanece ali. De olho.

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