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Mark Knopfler visita o Brasil e anuncia show em SP

Por Agencia Estado
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Existem poucos guitarristas na história do rock que basta tocarem uma nota e você imediatamente reconhece o homem por trás da guitarra. Jimi Hendrix (é óbvio), mais Eric Clapton, David Gilmour, Steve Vai, Jimmy Page, Angus Young, Slash, Keith Richards. Entre eles, figura um escocês de linguagem absolutamente particular: Mark Knopfler. Knopfler é o ex-líder da banda Dire Straits - adorada por muitos por ter deixado hits como Sultans of Swing e Brothers in Arms e execrada por outro tanto sob a acusação de ter domesticado e tornado pop o legado do rock. No Rio de Janeiro neste fim de semana, pisando pela primeira vez em terras brasileiras, Knopfler falou à Agência Estado. O Dire Straits nunca veio ao País durante sua existência (lançou discos entre 1978 e 1992) e pelo jeito nunca virá. "Estou me divertindo bastante sozinho", afirmou Knopfler, explicando que a sua velha banda não lhe faz falta alguma. "Estou gostando de gravar meus discos à minha maneira, sem a obrigação de manter a fidelidade a alguns princípios e limites de uma banda." O guitarrista está na estrada promovendo seu mais recente disco solo, Sailing to Philadelphia (Universal Music) e conta que pretende voltar ao Brasil em março com a turnê desse álbum, fazendo show no Credicard Hall. Enche o repórter de perguntas sobre a acústica e o tamanho do lugar - a acústica, principalmente esse aspecto, é uma preocupação constante na carreira desse músico cheio de preciosismo . A história oficial do rock conta que o Dire Straits começou em 1977, em Londres, quando Mark, seu irmão David e o baixista John Illsley juntaram suas parcas economias, 120 libras esterlinas, para gravar uma fita de demonstração. "Eu não me lembro mais se eram 120 libras ou 150 libras", afirma. Mas a fita acabou indo parar nas mãos de Charlie Gillett que apresentava um programa semanal na rádio BBC de Londres chamado "Honky Tonk". Entre os que ouviam o programa, estava John Stainze, da Phonogram Records, que ficou impressionado com o resultado e foi atrás dos sujeitos para propor um contrato. Um ano depois, após uma temporada experimental no pub Hope & Anchor eles começaram sua primeira turnê, abrindo shows do Talking Heads. O mundo descobriu Knopfler e as coisas aconteceram muito rápido. Em 1983, ele foi convidado por Bob Dylan para produzir Infidels, após ter trabalhado com o músico americano em Slow Train Coming. "Há poucos dias jantamos juntos em Berlim", conta Knopfler. "Não sei se voltaremos em breve a trabalhar juntos, porque, como eu disse, estou me divertindo sozinho, mas sempre haverá uma possibilidade", afirma. Knopfler comentou o fato de que, hoje em dia, fazer um disco já não é mais aquela coisa heróica dos primeiros tempos do Dire Straits - um dos maiores sucessos da música eletrônica atual é Play, do americano Moby, feito por ele em um estúdio caseiro, em seu próprio quarto. "As coisas certamente mudaram, e isso não é uma coisa ruim", diz o guitarrista. "Os estúdios comerciais custam muito caro e é uma coisa inexplicável tirar as possibilidades de gente muito boa", ele pondera. "Por outro lado, eu prefiro ainda o caminho dos estúdios, tocando pianos reais, baterias reais, um Hammond real com uma banda, ao velho estilo", explica. Em Sailing to Philadelphia, Knopfler empunha suas guitarras Telecaster e os violões Savanah dos anos 50 e 60 junto com duas outras personalidades do rock, James Taylor e Van Morrison. Quando fica sabendo que Taylor vem ao Rock in Rio por Um Mundo Melhor, ele diz, efusivamente. "Diga alô a James por mim". "Eu não era um expert em James Taylor quando o convidei para gravar uma faixa comigo", ele conta. "Conhecia pouco seu trabalho, mas a partir do momento em que compus Sailing to Philadelphia eu já sabia que precisava dele nessa faixa", revela. Já Van Morrison, que comparece no CD com The Last Laugh, sempre esteve ao seu lado desde o começo da carreira, afirma. Casado com Lourdes desde 1983, Knopfler tem três filhos. Os dois mais velhos são gêmeos e nasceram em 1988. "Ambos são músicos: um é guitarrista e outro é baterista", ele conta. A mais nova tem apenas três anos, mas o músico concorda que pelo menos metade de uma banda ele já tem dentro de casa. Amante das guitarras, com 70 exemplares em sua coleção, Knopfler não lançava um disco solo desde 1996, quando saiu Golden Heart. Durante esse período, ele se ocupou principalmente em fazer trilhas para filmes, uma de suas atividades mais freqüentes. É dele a música de A Shot of Glory de Michael Corrente; Metroland (1997) de Philip Saville; e Wag the Dog (1997), de Barry Levinson. Anteriormente, fizera trilhas sonoras para inúmeros outros filmes, como Local Hero (de David Puttnam, de 1982), O Noivo da Princesa (Rob Reiner, 1987), entre outros. Com seus primeiros seis álbuns, o Dire Straits vendeu mais de 100 milhões de discos ao redor do mundo. Mas Knopfler nunca tornou-se um superstar no sentido mais estrelado do termo. É discreto e caseiro, e a coisa mais "revolucionária" que fez no palco, até hoje, foi botar umas bandagens na cabeça - provavelmente também para encobrir a calvície iminente. "Há quem faça discos como um exercício de ganhar dinheiro, mas eu faço meus discos com o objetivo sincero de escrever uma boa canção", diz o músico. Sailing to Philadelphia, embora tenha passado despercebido em seu lançamento no Brasil, tem arrancado críticas entusiasmadas na Inglaterra e Estados Unidos. Utilizando harpas, gaitas, gaitas de fole, marimbas, trompetes, saxofones e muitas guitarras, o disco é comparado inclusive à obra máxima do Dire Straits, Brothers in Arms (1985). É um tanto exagerado, mas há canções magníficas no disco como Who´s Your Baby Now, na qual Knopfler toca uma guitarra acústica. "Obter uma linguagem própria na guitarra é também um jeito de pensar", pondera o guitarrista, que define como "percussiva" sua maneira de tocar. "Gosto de praticar e o estilo tem que ser desenvolvido, tem que haver disciplina e muita dedicação", afirma. Knopfler disse que não é refratário à idéia da música eletrônica, e que também gosta de experimentar e fazer brincadeiras, mas sua principal preocupação é fazer "boas canções" e evitar armadilhas comerciais. "Não poderia fazer um disco de moda, trato apenas de fazer boa música", diz. Não só de fazer boa música, mostra-nos o passado. Em 1988, por exemplo, tendo Eric Clapton como segundo guitarrista, Knopfler foi ao front fazendo o concerto Nelson Mandela 70th Birthday Tribute, no qual apoiava o ativista sul-africano publicamente. Em junho de 1990, ao lado de Phil Collins, Robert Plant, Paul McCartney, Cliff Richard, Elton John, Pink Floyd e Clapton, fez um concerto com renda revertida para um centro de recuperação inglês. Em março deste ano, recebeu no Palácio de Buckingham, das mãos do Príncipe de Gales, uma condecoração por sua contribuição à história da música britânica. E conta que, atualmente, entre todas as contribuições recentes e influências que tem recebido, uma das mais decisivas têm sido a do amigo Paul Kennerley, a quem credita parte do estilo da canção Who´s Your Baby Now, do novo disco. Somente para uma questão Mark Knopfler não tem resposta. Por que nunca veio antes ao Brasil com sua banda? Milhares de fãs o esperaram durante quase três décadas. "Eu devia estar louco", diz o criador de paisagens sonoras, maravilhado com a paisagem do Rio de Janeiro.

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