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Maria Rita seduz platéia em show em SP

Corajosa e brilhante, cantora filha de Elis Regina fez uma apresentação memorável em sua estréia solo. No repertório, Lenine, Djavan, Rita Lee, Milton Nascimento e Fernando Brant, entre outros

Por Agencia Estado
Atualização:

Maria Rita Mariano volta amanhã ao palco do Supremo Musical, para o segundo show da temporada que marca sua estréia em solo. A primeira apresentação foi na segunda-feira. Maria Rita subiu nervosa à cena, como confessou. Driblou o nervosismo logo em seguida. Fez uma apresentação memorável. Suplantou as expectativas de uma platéia que acreditava previamente nela. Acreditava mas queria provas concretas - crédito fácil vai fácil para o descrédito. Maria Rita, afinal, é filha de Elis Regina. Há 20 anos que os interessados em música procuram pela "nova Elis Regina", expressão que, pelo desgaste, perdeu especificidade e passou a designar a procura por uma grande cantora. Muitas novas cantoras, aliás, receberam o rótulo, em graus variados de impropriedade. E se Maria Rita Mariano não quer ser - e não é, porque seria redutor - uma nova Elis Regina, mesmo que certas expressões e gestos, a abordagem e o abandono de algumas notas, um jeito de jogar o corpo façam lembrar a mãe -, ela é, sim, sem questões, uma grande cantora. Vem imaginando o espetáculo-solo há quase um ano. Chamou para trabalhar com ela três jovens músicos extraordinários, - o pianista Tiago Costa, o contrabaixista Giba Pinto e o baterista Marco da Costa. Em dois números do show - Lavadeira do Rio, de Lenine, e Um Querer, de Daniel Carlo Magno, nome novo surgido na cena paulistana - contou, ainda, com a participação do percussionista Da Lua. Montou um roteiro enxuto, mas abrangente, com 13 músicas apenas - duas delas reprisadas no bis. Caminha, o repertório, de um abertura com Seduzir, sobre a arte de cantar, de Djavan, a Rita Lee (Só de Você, com levada de samba, e Pagu, em pop sapeca) e a uma graça perdida de Simonal, Menininha do Portão, anos 60, contida no segundo volume do disco Alegria, Alegria; de Lenine (além de Lavadeira do Rio, também a pungente canção O Silêncio das Estrelas) a César Camargo Mariano e Lula Barbosa (O Que Fazer de Mim); bela toada de Natan Marques, com letra de Murilo Antunes (Vero) e linda canção do mineiro Renato Motha e, no encerramento, um número alegre do carioca Jorge Vercilo, do reino do pop (Do Jeito Que For). Fantasma deve ser, tem sido, encarar o repertório da mãe. Maria Rita é consciente das comparações e tomou coragem de revisitar Entradas e Bandeiras, de Milton Nascimento e Fernando Brant, e o forte, desafiante Não Vale a Pena, de Jean Garfunkel. A corajosa e brilhante Maria Rita exorciza em sua estréia o fantasma que poderia ensombrear-lhe a vida artística. E o que a platéia pôde ver, na segunda-feira, no Supremo, e por certo verá, daqui por diante, onde quer que ela mostre sua arte, foi uma cantora densa e cheia de graça, um bicho de palco carismático, fascinante, de quem é impossível desgrudar os olhos e desviar a audição, uma intérprete sensível e inteligentíssima conduzir os sentimentos da platéia, tanger o público, aliciá-lo, encantá-lo por ser aliciado. Não é, essa moça, uma estréia promissora - é uma estrela que nasceu privilegiada de talento e sensibilidade e disposta a lutar para torná-los maiores e mais expressivos. E se é mesmo necessário falar de Elis Regina quando se fala de Maria Rita, que seja para dizer que Maria Rita pode ser para a música brasileira o que foi Elis: a criadora ousada e tecnicamente perfeita que jamais respeitou barreira de modismo nem evitou desafios. Na segunda-feira, provou que tem condições para ocupar o posto de liderança, estrela de brilho próprio e gênio que é seu. Maria Rita Mariano. Quintas-feiras, às 22 horas.R$ 25 00. Supremo Musical. Rua Oscar Freire, 1.000, São Paulo, tel. 3062-0950. Até 27/2.

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