Maria do Céu resgata obra de Chico Soares

Violonista carioca trabalha desde agosto na divulgação de Choros do Ceará, disco que gravou nos quatro primeiros meses do ano e no qual interpreta composições do violonista cearense Francisco Soares de Souza

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Por Agencia Estado
Atualização:

Francisco Soares de Souza gravou, ao que se sabe, apenas um disco. Um Recital no Clube do Violão foi lançado em 1961, pela então gravadora Philips. Até a década de 90, o raro LP era a única forma de conhecer a obra do compositor cearense, que nasceu em Quixadá, em 1905. Na década de 90, o sobrinho do músico, Airton da Costa Soares, responsabilizou-se por organizar a obra do tio. Levou partituras e gravações para alguns violonistas conhecidos. Sebastião Tapajós foi o primeiro a gravar. Cristina Azuma, violonista radicada em Paris, aproveitou o lançamento de um álbum de partituras de Francisco Soares na França e gravou outras quatro. Foi por meio desse trabalho de divulgação desenvolvido por Airton que a violonista Maria do Céu, ex-integrante da Orquestra de Violões do Rio de Janeiro, entrou em contato com a obra do compositor de Quixadá. Nos recitais que fazia, costumava tocar uma, duas canções de Francisco Soares. Desse primeiro contato surgiu a idéia de gravar um álbum dedicado ao violonista. Há dois anos conseguiu aprovação do Ministério da Cultura, via Lei Rouanet, para captar recursos. Os patrocinadores não apareceram e ela decidiu bancar o projeto sozinha. Levou quatro meses, de janeiro a abril deste ano, para gravar as 12 composições que integram o disco. Cinco delas são inéditas: Clipe 1, Clipe 2, Aquário, Choramingando e Choro nº 19. Caboré 1 e Peneirando estão no disco de Tapajós. Os choros Cangapé e Tira-Teima e a valsa Jane foram gravadas em Um Recital no Clube do Violão. E Samburá e Cangapé 2 quem trouxe à tona foi Cristina. "Eu não considero ter feito uma pesquisa", diz Maria. "Porque não fui eu que o achei, foi ele que me achou", completa. A violonista diz que se identificou muito com a maneira de Soares compor. "Ele tem bom humor, sinto alegria e inteligência nas composições", explica. Ela optou, no disco, em desenvolver sua própria linguagem, ao invés de procurar reproduzir a maneira de interpretar do violonista cearense. Acompanham-na em Choros do Ceará o percussionista Di Lutgardes e o baixista Rodrigo Sebastian. O primeiro toca inúmeros instrumentos, como xequerê, moringa, reco-reco. O segundo, contra-baixo elétrico. "Adoro instrumentos graves e acho a moringa o melhor acompanhamento percussivo para violão", diz a violonista, explicando suas preferências. São elas que dão ao disco um tom diferente do que habitualmente se ouve quando o assunto é choro. "Não quis repetir a formação de regional, em que percussão é o pandeiro e os instrumentos que sobressaem são o bandolim ou o cavaquinho", comenta. Chico Soares, como era conhecido pelos amigos, morreu em 1986. O tom das matérias publicadas nos jornais Diário do Nordeste e Jornal do Leitor, que davam conta de sua morte, era de surpresa. Não entendiam os jornalistas como um homem tão importante para a vida cultural da cidade de Fortaleza estivesse relegado ao ostracismo. Soares foi o fundador do Violão Club do Ceará, e nos anos 30 já era conhecido por seus dotes musicais na cidade, como escreve o parceiro, também músico, José Vasconcelos, em crônica publicada no Jornal do Leitor, em 1990. Na PRE-9, principal rádio do Estado, apresentava o programa Uma Voz e um Violão, no qual divulgava o trabalho de músicos de sua terra. Para Maria do Céu, Soares foi um grande nome do choro nordestino, que se caracteriza menos pelo virtuosismo, mais pelo apreço à melodia e ao ritmo. Choros do Ceará - Maria do Céu interpreta Francisco Soares de Souza; Compras pelo site http://www.samba-choro.com.br/compras/chicosoares; Preço: R$ 15

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