Maria Bethânia estréia "Maricotinha" em São Paulo

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Maria Bethânia estréia amanhã, para uma temporada de três semanas, o show Maricotinha. É o espetáculo de lançamento do novo disco, homônimo - o 36.° da carreira, descontados os dois compactos que lançou em 1965. É o show que marca, ainda, os 36 anos de carreira da cantora que chegou ao Rio de Janeiro para substituir Nara Leão - por indicação dela - no célebre show Opinião. Bethânia era menor de idade. Levou da Bahia para o Rio, como companhia, o irmão, Caetano. Com o Opinião, ficou, imediatamente - é literal - famosa. Tornou-se grande estrela, ídolo, paixão. Foi tão forte, desde o primeiro momento, que conquistou, depois daquela estréia, o direito de cantar o que bem entendesse - o que gostasse -, da forma que bem entendesse - como gostasse. Construiu a carreira de acordo com esses paradigmas. Desprezou modismos, tendências, não aceitou imposições. Cantou boleros quando o bem era a bossa nova, cantou bossa quando a hora era da canção de protesto, gravou Noel quando havia Chico, cantou Chico, Milton e Caetano, mas também Herivelto, Lupicínio, Antônio Maria. Inventou um formato novo para os shows de música. Teatral, introduziu textos poéticos nos espetáculos, fazendo ligação entre as músicas. Deu forma dramatúrgica aos roteiros, transformou cada recital numa história, cada música numa fala de sentido ampliado pelo contexto. Fez isso como ninguém fez antes, nem faz, ainda. Maricotinha, o disco e o show, segue a trilha. O espetáculo estreou no Rio. Foram três semanas de casa lotada, lágrimas e risos na platéia. Bethânia acrescentou um item novo. Conta histórias de sua chegada. A surpresa com a cidade - novidade. Os famosos cantando nas casas da noite de Copacabana. Faz cara de sapeca, a platéia delira. Para a montagem paulistana, fez adaptações no roteiro. Se, no Rio, falava da chegada ao balneário, aqui, conta o que viu, ouviu e aprendeu em mais uma cidade nova. Não antecipa que músicas foram substituídas para ilustrar as histórias. "Não posso quebrar a surpresa" - faz sentido. Não se conta o final de peças de teatro. "Não é bem uma retrospectiava, embora seja um espetáculo comemorativo dos 35 anos, na verdade 36, de carreira", diz a cantora. "Falo de coisas que me marcaram quando cheguei e canto coisas que me marcaram naquele momento e vieram a marcar dali por diante", conta. "É um show deslavadamente apaixonado" - mas todos os são. A coisa de contar histórias, de usar histórias para ligar a músicas, teve solução dramatúrgica tratada por Fauzi Arap, diretor do show, companheiro desde os primeiros tempos da carreira. Explicando: "Embora não seja uma retrospectiva, não posso comemorar os 35 - ou 36 - anos sem falar do show Opinião ou do Rosa dos Ventos", diz Bethânia. "Mas essa reminiscência é coisa bem suave, e aparece combinada com as músicas do disco novo" - ela canta as 14 faixas do último CD. "Nem todas estão inteiras; de algumas, canto só um trecho." O espetáculo ficaria muito grande. São, ao todo, 39 músicas. E há, ainda, as falas - muitas. E não poderia deixar de cantar autores importantes nestes últimos 30 e tantos anos - como Beto Guedes, de quem canta Amor de Índio, e nunca havia interpretado nada dele, ou Cazuza, que aparece no roteiro com Todo Amor Que Houver Nessa Vida. Estão no espetáculo músicas de Caetano Veloso, Chico Buarque, Roberto e Erasmo Carlos (ela dedicou um disco à obra deles), Gilberto Gil, Edu Lobo, Gonzaguinha - autor de alguns de seus maiores sucessos, como Grito de Alerta ou Explode, Coração -, Djavan - com Álibi, do compositor alagoano, Bethânia tornou-se a primeira cantora a vender mais de 1 milhão de exemplares de um elepê. Tom Jobim e Vinícius de Moraes, naturalmente - Bethânia prepara um disco interpretando Vinícius. E Rita Lee (Shangrilá), e Luís Ayrão (Nossa Canção, que foi sucesso na voz de Roberto Carlos). Os textos de Maricotinha levam assinatura de Fernando Pessoa, Ferreira Gullar, Lya Luft, das portuguesas Natália Corrêa e Sophia de Mello Bryener. Durante a temporada paulista de Maricotinha, será gravado um disco, de lançamento previsto para o segundo semestre do ano que vem. Será o último de Bethânia para a gravadora BMG. Cumprido o contrato, ela passará a gravar por um selo pequeno, o Biscoito Fino. "Fui convidada para a gravadora. Não foi um convite bobo, irresponsável. Foi sério, com todas as garantias profissionais que seriam exigíveis", conta. "A diretora é a cantora Miúcha; o elenco é pequeno: estão lá o Francis e a Olívia Hime, poucos." Mágoas com as multinacionais do disco? "Não. Aceitei o convite porque essa é uma empresa brasileira, dirigida por gente que tem paixão pela música brasileira. Assinei um contrato de cinco anos, com o direito de produzir projetos especiais, paralelos ao disco anual previsto em contrato", conta. "O que acho é que as quatro grandes gravadoras perderam a compreensão da dinâmica da música brasileria; tratam-na com marketing, como fazem os americanos, mas não somos americanos. Não sou contra as multinacionais, mas percebo que o entendimento que elas têm da música brasileira estacionou - enquanto a música está em movimento contínuo, em constante renovação." E compara: "As multinacionais não entedem quando um artista vende um pouco menos. Mas esse silêncio do artista é essencial. É como no futebol - nem sempre se chega direto ao gol. Às vezes a bola vai para um lado, para o outro, experimentando o campo, antes de marcar." Maria Bethânia - Maricotinha. Sexta e sábado, às 22 horas; e domingo às 19 horas. De R$ 40,00 a R$ 90,00; R$ 20,00 a R$ 45,00 (estudantes); e R$ 35,00 a R$ 60,00 (ingressos antecipados). Dia 7/12 não haverá apresentação. Directv Music Hall. Avenida dos Jamaris, 213, tel. 5643-2500. Até 16/12. Patrocínio: Embratel.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.