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Manu Chao, primeira surpresa do Free Jazz

Ingressos esgotados para o show do músico franco-espanhol, que está no auge de sua popularidade no Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

Nem sempre a escalação do Free Jazz consegue definir com exatidão qual é a expectativa de público em relação aos shows. No ano passado, por exemplo, a lotação de público do palco New Directions foi insuficiente para os fãs da banda americana Cake. Os ingressos esgotaram-se rapidamente. Este ano, o show do músico franco-espanhol Manu Chao foi subestimado. Os ingressos para seu concerto se esgotaram logo no primeiro dia de vendas. Manu Chao está no auge de sua popularidade no Brasil. Em compensação, algumas das estrelas contratadas para o palco principal, o chamado Main Stage este ano ainda não alcançaram o status de pop stars aqui. É o caso do duo britânico Leftfield, principal atração da noite de sábado. O som do Leftfield é um petardo sonoro, capaz de estremecer alicerces. A meio caminho entre o Prodigy e o Chemical Brothers, eles fazem um som biônico, regido pelos computadores e norteado pela bateria de Paul Daley e pelos teclados e a programação de Neil Barnes, também baterista na origem. O show do Leftfield abre-se com Rino´s Prayer, carro-chefe (assim como Swords, hit dos clubes ingleses) do seu novo e celebrado disco, Rhythm & Stealth (Sony Music). A maior parte do repertório é composta pelo disco novo, como Double Flash, Chants of a Poor Man, Dub Gussett, Rino´s Prayer, Afrika Shox (que, no disco, tem a participação de Afrika Bambataa) e Dusted. No bis, tocam Phat Planet, tema de um comercial de cerveja. Na abertura, um show simpaticíssimo, o do duo inglês Moloko, encabeçado pela sinuosa cantora irlandesa Roisin Murphy. A noite dessa Sexta, no Main Stage, abre-se com o já bem-apresentado Sonic Youth e Sean Lennon, que só deverá apresentar suas credenciais ao Brasil neste show. Já o domingo é outra incógnita. O grande astro é o cantor americano D´Angelo, que embora tenha freqüentado indicações para o MTV Movie Awards e o Grammy, é ainda pouco desconhecido no Brasil. Ainda era possível achar ingressos para seu show até hoje. D´Angelo é a atração principal da noite, que será aberta pelo nigeriano Femi Kuti e sua banda, Positive Force. Astro da nova geração do rhythm and blues, o cantor D´Angelo (como Maxwell) é hoje uma das grandes estrelas da música negra, conectando a tradição de Curtis Mayfield, Stevie Wonder, Marvin Gaye e Al Green a um senso tecnológico e moderno. Nascido Michael Archer em Richmond, Virginia, em 1975, D´Angelo ganhou - com apenas 18 anos - três vezes os concursos amadores do Apollo Theatre, do Harlem. Está na estrada divulgando Voodoo, seu novo trabalho. Max Roach e Ray Brown. Dois nomes, duas constelações do jazz em torno deles. São as grandes atrações do palco essencialmente jazzístico do festival, o Club, instalado no restaurante do Jockey Club, prudentemente afastado do barulho pop e moderno. Ray Brown, nascido em Pittsburg em 1926, equipara-se aos grandes do contrabaixo neste século - como Jimmy Blanton, Oscar Pettiford e Charles Mingus. Ele começou com a orquestra de Dizzy Gillespie nos anos 40 e ajudou a ampliar os horizontes do bebop com seu instrumento. Entre 1947 e 1951, ele rodou o mundo com o trio de Ella Fitzgerald, com quem foi casado durante quatro anos. Depois, passou 15 anos acompanhando o pianista canadense Oscar Peterson, até fixar residência em Los Angeles. Tocou com Frank Sinatra, Tony Bennett, Billy Eckstine, Sarah Vaughan e Peggy Lee. O baterista Max Roach começou a tocar quando tinha apenas 10 anos, em bandas de igreja. Militante da música negra religiosa, que teve grande influência no seu desenvolvimento, ele tocou com Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Louis Jordan, Coleman Hawkins, Clifford Brown e outros. "Cada um tem seu estilo, mas a música é também a afirmação de uma personalidade" diz o baterista. "Quando você ouve Elvin Jones tocando bateria sabe que é ele quem está tocando, reconhece o homem na música." Como representantes da mistura e do legítimo "free jazz" está outro grupo de veteranos, o Art Ensemble of Chicago. "A batida está em todo lugar porque veio antes da voz, da África, e é por isso que a música negra tem esse apelo", diz o percussionista do grupo, Don Moye, um dos responsáveis pela cozinha heterodoxa do Ensemble, que utiliza - entre outros apetrechos musicais - coisas como gongos, apitos e até uma buzina de bicicleta. Moye é a versão americana de Hermeto Paschoal. Entrou para o Art Ensemble of Chicago no fim dos anos 60, quando vivia em Paris e tocava com o argentino Gato Barbieri. O Art Ensemble of Chicago foi fundado pelo trompetista Lester Bowie em 1965, como parte do projeto Association for the Advancement of Creative Musicians de Chicago. "O que nós sentimos sobre o free jazz é que estaremos livres para tocar qualquer coisa, como gostamos", disse Bowie, em entrevista a Aaron Cohen, da Downbeat. "Podemos considerar todo tipo de queda livre como uma cor, consideramos o bebop como uma cor, o dixieland como uma cor, o rap como uma cor", definiu. Entre as novidades absolutas da jornada está o filho de John Coltrane, Ravi, que abre a noite para os endiabrados velhotes do Art Ensemble. A programação do palco New Directions tem se caracterizado, ano após ano, por juntar extremos. Como definir o trabalho de grupos como a banda de Chicago Tortoise e os nova-iorquinos do Medeski, Martin & Wood? Na fronteira entre gêneros, entre o rock e o jazz, entre a música eletrônica e a acústica, entre o passado e o futuro. Este ano, a revolução musical vem das entranhas do próprio jazz. Trata-se do saxofonista Greg Osby, cujo trabalho esteve na lista dos dez melhores lançamentos de 1998 em lista dos críticos do jornal The New York Times. Osby chega com um jazz inesperado, gerado a partir de um amálgama de rhythym and blues, soul, rock e hip-hop. "Sinto-me muito velho para estar com os jovens e muito jovem para estar entre os lendários", afirmou, falando de seu sentimento em relação ao meio musical. Outros shows que forçarão fronteiras no palco New Directions são os de Manu Chao e do cantor sueco Jay-Jay Johanson, além do hindo-britânico Talvin Singh, que mistura a música tradicional indiana com a eletrônica - no Brasil, deve apenas tocar suas tablas. Jay-Jay Johanson foi beber na tradição vocal dos cantores de jazz, como Chet Baker, para chegar à sua mistura, que passeia pelo trip hop britânico, mas também pela velha tradição dos cabarés europeus. Outra novidade é o filho de Caetano Veloso, Moreno, que conecta a MPB com texturas eletrônicas sutis, apoiado pelos músicos eletrônicos Kassin, Domenico e o guitarrista Pedro Sá. Manu Chao é a grande estrela do New Directions. "O espetáculo independe da minha presença porque os músicos são ótimos e tocam, eu estando ou não", disse o músico na sexta, durante coletiva no centro do Rio. "Muitas vezes, quando termina o show, a gente continua a tocar em outro lugar." Ele só lamentou o exíguo tempo que lhe foi dado pelo Free Jazz, pois suas apresentações duram três horas. "O show não repete o disco porque são de trabalhos diferentes", avisou ele. "Vou tocar músicas de Clandestino, outras do disco que acabei de gravar e que se chama Próxima Estação: Esperança, e coisas do Mano Negra, continuou. "Espero passar minha energia para as pessoas e fazê-las dançar muito porque prefiro ser conhecido como um bom conjunto de baile do que como um grupo de rock." É um sujeito de posições ideológicas fortes. Ele se declara militante da Frente Zapatista de Libertação Nacional, do México; simpatizante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e acha pouco eficiente a presença do Exército norte-americano na Colômbia. Mas prefere não classificar essas posições como políticas, assim como não chama sua música de rock. Free Jazz Festival 2000. Sexta, amanhã e domingo, às 20h, no New Directions; às 22h30, no Main Stage; e às 22 h, no Club. De R$ 40,00 a R$ 60,00. Jockey Club. Av. Lineu de Paula Machado, s/n, tel. 0800-212223. Ingressos: Posto RS (Av. Washington Luis, 5.955. 5561-6493); Posto Mascote (Av. Ver. João de Luca, 47. 5031-1546); Posto Ecológico (R. Dr. Edgard Teotonio Santana, 492. 3611-9310); Posto TIM (R. Cantagalo, 1.943. 293-5797); Shopping Iguatemi (Av. Faria Lima, 2.232); e Quiosque do Jockey . Ainda há ingressos disponíveis para os seguintes palcos: Sexta, New Directions; Sábado, Main Stage; e domingo, New Directions e Main Stage. Patrocínio: Souza Cruz

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