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Manu Chao passa por SP e divulga 'La Radiolina'

Cantor, compositor e guitarrista franco-espanhol diz que seus discos são assim mesmo, todos iguais

Por Jotabê Medeiros
Atualização:

O novo disco do cantor, compositor e guitarrista franco-espanhol Manu Chao, La Radiolina, foi elogiado pela Uncut, Spin, Blender, pelo Pitchfork, pela Billboard, pela Rolling Stone. Mas La Radiolina não foi uma unanimidade, como os trabalhos pregressos de Manu. Alguns críticos pegaram pesado, como o famoso Ben Ratliff, do New York Times, que acusou repetição no trabalho do francês. Veja também: Ouça trecho de 'Rainin in Paradize', do Manu Chao  Segundo Manu, as acusações estão corretas: seus discos são mesmo todos iguais. "Sou assim, não sinto essa necessidade", diz apenas, tranqüilo como um monge zen. Trovador pacifista, ele então começa a engendrar uma resposta aos detratores. "Eu não considero as críticas negativas. Acho que abrem um debate interessante, e eu gosto desse debate. Abre uma discussão mais ampla do que só a questão do meu CD. Que necessidade é essa de ser tudo sempre novo, essa ditadura do novo? Eu pessoalmente não funciono assim, não. Tenho a mesma moto há 15 anos, e ela funciona, não preciso do último modelo da Honda ou da Suzuki. Tenho uma relação amistosa com as coisas. Essa coisa da sociedade de tudo ser novo, novo, novo, eu não aceito essa ditadura", disse o músico ao Estado na quarta-feira, sentado num dos seus lugares preferidos da Paulicéia, um legítimo botequim com baleiros de vidro e rádios antigos espalhados pelas prateleiras. A música reggae também foi acusada durante muitos anos de ser repetitiva, de ser sempre a mesma música, sendo de Marley, Jimmy Cliff, Peter Tosh. É o mesmo tipo de acusação? "Que problema de ser sempre a mesma música se ela é medicinal? Não estou falando da minha música, veja. Mas do reggae. Gosto da música medicinal, como pode ser qualquer uma do Bob Marley. Se você coloca em casa no início do dia, o dia começa bem. É como os discos de Amadou e Mariam." Casal de cantores cegos do Mali, uma das grandes expressões da música africana atual, eles tiveram seu mais recente disco, Dimanche à Bamako, produzido por Manu Chao, que agora está lapidando o novo disco de Sam, um dos filhos de Amadou e Mariam. Também vai produzir um disco para o grupo argentino La Colifata, uma trupe de rádio que é formada por internos de uma clínica para doenças mentais em Córdoba. Manu tocou nas ruas da Argentina com o grupo Radio Roots, esteve em Cuba e na Venezuela, e esta semana desembarcou no Rio de Janeiro. Tinha ingresso VIP para o show do Police (era convidado dos Paralamas). Em cima da hora, desgarrou-se da turma e foi andar pelo centro do Rio, pela Lapa, pelo Largo do Machado, seu território livre. Fugiu do Police. Ele torce o nariz e dá mais um gole em sua cachaça quando é indagado a respeito de, um dia, reunir de novo seu lendário grupo Mano Negra. Desde 1992 não tocam juntos. "Nunca se pode dizer nunca. Mas tem tantas coisas que tenho vontade de fazer. Olhar para trás para quê? Por sentimentalismo?" Manu Chao não tem nenhum show profissional com seu grupo Radio Bemba programado para o Brasil. Está aqui revendo amigos, e falando com a imprensa. La Radiolina, por falar nisso, na modesta opinião deste jornalista, é uma delícia, mais um manifesto elétrico no esperanto típico que ele usa (um mix sonoro e lingüístico), com abordagem de banda punk-ska. "Não sou contra a novidade. Só não acredito em bandas massivas. Há 20 anos, íamos a shows massivos de grupos cujos integrantes tinham 20 anos. Hoje, eles têm 50 anos e retornam para fazer aqueles mesmos shows massivos. Não é um problema das bandas, mas de civilização. Isso passa um sentimento de que a cultura está um pouco parada, não? Mas daqui a pouco, virá de Calcutá, ou de São Paulo, uma banda de meninos trazendo a coisa nova." Manu Chao está à solta no planeta Brasil. Difícil é acompanhá-lo na birita. Está por aí lutando com seu violão e a boina. "A resignação é um suicídio permanente", diz seu novo manifesto.

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