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Mano Brown, 45 anos, tem muito o que comemorar

Rapper dos Racionais MC's, que faz aniversário nesta quarta-feira, se tornou uma referência onde o Estado não consegue chegar

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Por Julio Maria
Atualização:

Mano Brown faz, nesta quarta-feira, 45 anos de idade. E pode comemorar. Sua trajetória como integrante dos Racionais MCs, e cada vez mais como ele mesmo, é das mais coerentes surgidas na música brasileira em todos os tempos. Brown sacrificou uma carreira de joias e exposição midiática em troca de uma ideologia aprendida de moleque nas ruas do Capão Redondo, na zona Sul de São Paulo. Ele disse não ao “sistema” quando ninguém fazia isso, por mais de três vezes, deixando ao menos uma gravadora multinacional e uma enorme emissora de TV incrédulos. As negativas de Brown e seu grupo não eram marketing de rapper. Sucumbir aos convites do mainstream nos anos 90 seria, como muitos fizeram, jogar pela janela não apenas o discurso que sustenta sua música, mas a crença de que sua existência só faria sentido se trouxesse nas costas a nação que ninguém vê.

Mano Brown em show no festival Percpan, Salvador, em 2014 Foto: Julio Maria

Brown fala e os moleques ouvem. Sua música tem o raro poder transformador do qual nenhum grupo de rock, pop, punk, metal ou seja lá o que for consegue degustar. A segunda geração que cresce ouvindo Racionais entende o discurso cada vez menos ambíguo de que o crime, mesmo quando pretensamente justificado pela ausência de Estado e de Justiça, não compensa. E esta geração, contrariando as críticas de que o rap glamouriza o crime, continua querendo ser Mano Brown. Uma pesquisa por bairros extremos apontaria a quantidade de grupos que surgiram nas esteiras dos Racionais. Um estudo de imersão mostraria o impacto da existência desses grupos na vida dos garotos e de suas famílias. Com bons informantes, o prefeito saberia que o rap referencial de Brown promove um serviço social invisível e de efeito arrebatador em lugares onde o Estado não chega, mas sua voz sim.

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