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Madredeus e Gal Costa dividem o palco

Por Agencia Estado
Atualização:

A cantora Gal Costa e o quinteto português Madredeus apresentam no domingo, na Praça da Paz, no Parque do Ibirapuera, mais um espetáculo da série que homenageia os 500 anos do Descobrimento do Brasil, promovida pelo Pão de Açúcar. A série juntou, antes, os brasileiros e portugueses Caetano Veloso e Dulce Pontes, Milton Nascimento e Sérgio Godinho, Daniela Mercury e Luís Represas, Gilberto Gil e Maria João & Mário Laginha e, no mês passado, Ney Matogrosso e Marta Dias. Gal e o Madredeus - ou os Madredeus, como a eles se refere seu líder, Pedro Ayres Magalhães - farão espetáculos separados. O show de Gal já foi visto em São Paulo: trata-se de uma homenagem a Tom Jobim (o CD correpondente foi gravado ao vivo, nas primeiras apresentações do tributo). Já o Madredeus, que viaja promovendo o CD Antologia, que reúne sucessos de seus discos gravados desde 1988 e duas canções novas, apresentará, além dos sucessos, algumas inéditas extraídas do disco Movimento já gravado e a ser lançado comercialmente até o fim do ano. Em alguns momentos, Gal e os Madredeus cantarão juntos - mas o que cantarão é segredo. Sabe-se apenas que, entre os números coletivos (que não serão muitos) está Oxalá, uma das duas novas de Antologia. O repertório só de Gal traz clássicos jobinianos - Corcovado, Fotografia, Se Todos Fossem iguais a Você, Janelas Abertas, Samba do Avião, Wave, Chega de Saudade. Dos Madredeus, peças que o público brasileiro já conhece, como O Pastor, do disco Existir; Vem, de O Espírito da Paz; Guitarra, de Ainda - todas de Pedro Ayres Magalhães, com diversos parceiros - Rodrigo Leão, Gabriel Gomes. O Pastor tem música assinada coletivamente pelo grupo, com letra de Pedro. Guitarra usa versos de fados tradicionais. Mas o Madredeus, usando o peso do reconhecimento internacional, não se pretende um grupo do "novo fado", ou da renovação do fado. Imbui-se, mais abrangentemente, de mostrar ao mundo - e o faz há quase dez anos com êxito sempre maior - que existem outras estruturas musicais, outros padrões de composição e instrumentação, outras sonoridades verbais que não aquelas alardeadas pela indústria cultural (da qual não se exclui; grava pela multinacional EMI). Lembra Pedro Ayres que teve, antes de criar o Madredeus, um grupo de música pop, o Heróis do Mar (assim como Rodrigo Leão fazia parte do pop Sétima Legião). Seu grupo de "rock elétrico" já era preocupado com o que diziam (e como soavam) as letras das músicas - mas era difícil ouvi-las, com baterias e guitarras altissonantes. O Madredeus trocou tudo. Os tambores e bongôs e guitarras eletrificadas por instrumentos acústicos e - inicialmente - um órgão eletrônico discreto, logo substituído pelo acordeão. Deu-se isso no fim dos anos 80 - e no fim dos anos 80 surgiram, em partes diferentes do mundo, outros grupos que tiravam de cena os elétricos para pôr os acústicos. Mas o Madredeus guardava, desde o início, a diferença de ter no centro de cena uma mulher, de voz agudíssima, para cuja extensão e qualidades interpretativas eram (e são) compostas as músicas. Teresa Salgueiro ficou sendo a figura de boca de cena do Madredeus, seu símbolo; os músicos, como na tradição da música portuguesa, por sinal, ficam atrás, a seu serviço. Aclamadíssimo, o Madredeus viaja o ano inteiro, da Coréia ao México, da Alemanha à Argentina - depois do show de São Paulo, o grupo vai a Belém, desta vez sem a companhia de Gal Costa, para mostrar o repertório de Movimento; as próximas paradas serão em Buenos Aires e na Cidade do México. Barreira da língua? Pedro Ayres acha que a canção portuguesa foi, na segunda metade do século 20, muito conhecida e respeitada no mundo todo, com o fado de Amália Rodrigues, a música de intervenção de Zeca Afonso, símbolo sonoro da Revolução dos Cravos, que livrou Portugal do jugo salazarista - e assim por diante. E é uma música feita para ser ouvida, não para ser dançada - como o fado não é para ser dançado (à diferença do flamenco ou do tanto ou da canção francesa). Existe, ele diz, um público internacional, sempre renovado, interessado nesse tipo de produção. É o que o Madredeus lhes dá.

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