"Madonna" revela muito pouco sobre Madonna

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Por Agencia Estado
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Madonna pode se considerar vitoriosa novamente. A biografia não-autorizada escrita por Andrew Morton, que chegou ao mercado americano ontem, mostra o quanto a pop star exerce seu poder sobre seus amigos mais recentes. Madonna, que pretende ser um retrato de toda a vida da cantora feito pelo biógrafo da princesa Diana, não tem muitas revelações bombásticas e ainda reconhece o talento dela desde o início da carreira. O trabalho deve ser levado a sério, no entanto, por ser um dos livros mais bem-escritos sobre ela e por trazer um retrato sincero feito por pelo menos um ex-namorado da pop sar, Jim Albright. Inicialmente o livro desperta a questão: o que ainda não se sabe sobre Madonna? Toda a trajetória dela, de um subúrbio de Detroit para o Lower East Side de Nova York, já foi contada inúmeras vezes em livros, telefilmes e especiais de TV ? alguns até com participação da própria Madonna. Morton tentou o possível para remendar a colcha de retalhos que é a história da pop star, por meio do depoimento de pessoas que passaram pela vida dela. Sendo um escritor sério, ele escolheu incluir as informações que podia verificar, deixando de fora relatos como os que aparecem no também recém-lançado livro Goddess, de Barbara Victor, que faz um retrato bem mais negro da cantora. Em Madonna, os mesmos produtores, amigos e amantes que em outros livros aparecem apenas afirmando que a pop star usava as pessoas para subir falam sobre o talento e a determinação dela. O DJ Mark Kamins, que fechou o primeiro contrato da cantora com a Warner, reconhece que ela sempre foi uma boa compositora, enquanto Tim Rice, que teve desacertos com Madonna na época de Evita, fala que o profissionalismo dela dava a impressão de que ele estava "negociando com a General Motors". Sobre a fase inicial de Madonna em Nova York, Morton tenta provar que a cantora glamourizou um pouco sua própria história. Uma amiga chamada Martha Swope garante que ela tinha muito mais do que US$ 35 quando se mudou para a cidade, já que economizou durante meses para o "projeto". Boa parte do livro é dedicada aos inúmeros romances de Madonna (a lista inclui Vanilla Ice, Warren Beatty, Dennis Rodman, John Kennedy Jr., Tony Ward, Luke Perry, Nick Scotty). Nenhum dos que concordaram em conversar com Morton fala muito mal da pop star, mas Vanilla Ice e o ex-segurança particular Albright fazem afirmações curiosas sobre ela. O rapper, que namorou a pop star por quase um ano, diz que eles se apaixonaram intensamente e que ela era "doce e nada parecida com a imagem picante que estava passando para o público na época". Ele chega a dizer que "se ela tivesse continuado sendo a mesma pessoa", eles provavelmente estariam hoje casados e com vários filhos. A carreira de Vanilla Ice desmoronou logo depois do episódio. Albright, que havia sido contratado para ser o segurança de Madonna durante a produção do livro Sex em Miami e Nova York, afirma que os dois tiveram um relacionamento de quase três anos e que falaram várias vezes em ter filhos ? que levariam o nome de Lola e Cesar. De acordo com a versão dele, Madonna ficou tão apaixonada por ele que passou a agir como uma maníaca durante as fases mais turbulentas. Curiosamente, o ápice da crise teria sido quando o The Girlie Show passou pela América do Sul, em 1993. Madonna teria se recusado a subir ao palco em Buenos Aires se Albright não atendesse as ligações dela ? uma crise que teve de ser contornada pela assessora dela, Liz Rosenberg, e o empresário Freddie DeMann, minutos antes do início do show. Os relatos sobre a fase mais polêmica de Madonna formam os momentos mais interessantes do livro. Por meios dos relatos de Albright, Morton especula o quanto ela foi afetada pelas críticas ao livro Sex e a recepção morna do disco Erotica, além do fracasso dos filmes Corpo em Evidência e Olhos da Serpente. Este último, um projeto do diretor underground de Abel Ferrara, estrelado por Harvey Keitel, transformou-se em um dos maiores traumas da cantora e rendeu brigas cabeludas, de acordo com vários dos envolvidos. Mas Madonna desaponta ao não se aprofundar nos episódios mais recentes ? e menos conhecidos ?da cantora. Guy Ritchie, por exemplo, aparece apenas nas últimas páginas e o autor limita-se a confirmar informações conhecidas, como o fato de que ele fabricou seu passado de "bad boy". Em uma prova de que é possível manter a privacidade com boa infraestrutura, não há muitos detalhes sobre o casamento dos dois, nem sobre a vida de Madonna em Londres, nos últimos anos. Morton simplesmente não conseguiu convencer os amigos dela a abrir a boca ? e todos os envolvidos em seu círculo profissional assinam sérios contratos de confidencialidade. Sobre os tempos mais recentes, o livro apenas reforça o quanto Madonna conseguiu assumir o controle de sua vida e entrar em sua mais bem-sucedida fase. De agosto do ano passado até agora, ela deu à luz ao segundo filho, organizou shows em Nova York e Londres (este último tornou-se o maior fenômeno da história da Internet e rendeu nada menos que US$ 42 milhões para a cantora), lançou o bem recebido álbum Music, percorreu a Europa e os Estados Unidos com a Drowned World Tour, supervisionou o lançamento da coletânea de hits GHV2 e começou a rodar um filme com Ritchie em Malta, Love, Sex, Drugs & Money. Para os fãs, resta apenas esperar que algum dia ela mesma resolva escrever a sua história. Madonna, de Andrew Morton, editora St. Martin?s Press, 256 páginas, US$ 24,95

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