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Madonna investe na imagem

O desafio de Madonna no momento convencer a nova geração MTV, revelando canções do novo CD antes do lançamento oficial na terça, para reverter a queda nas vendas de seus últimos discos

Por Agencia Estado
Atualização:

Depois de um bem sucedido esforço para manter as músicas longe da internet, Madonna revela as canções de seu novo disco, American Life. O trabalho chega às lojas na próxima terça-feira, mas as faixas podem ser ouvidas no web site da MTV americana e foram tocadas em eventos organizados pela Warner Music em várias cidades do mundo. Além disso, a diva exibiu o novo vídeo (foto) que gravou para a música tema de American Life pela rede americana VH-1, às 22h30 (no horário da costa leste dos EUA), durante o programa especial Madonna Speaks, que foi ao ar ontem, e gravou uma ponta no seriado Will & Gracie, que vai ao ar na semana que vem na TV americana. A complexa blitz de mídia para o lançamento do disco tem a missão de enfrentar uma das fases mais difíceis da carreira da pop star. O desafio de Madonna no momento é tentar convencer a nova geração MTV de que não está velha para ser cool e reverter a queda nas vendas de seus últimos discos. Music, de 2000, rendeu apenas três singles, em vez dos cinco de Ray of Light. A maior lição sobre o lançamento do décimo disco de Madonna é que, com esforço concentrado, é possível evitar o temido vazamento antecipado para a internet, do qual nomes como Radiohead e Oasis foram vítimas nos últimos tempos. Para isso, as poucas cópias do CD foram mantidas guardadas nos escritórios locais das gravadoras; audições tiveram telefones celulares banidos; e arquivos-fantasma foram plantados nas principais comunidades digitais. Quem tentou fazer o download das músicas pode ter encontrado um arquivo em que Madonna pergunta, de maneira mais mal-educada: Que diabos você pensa que está fazendo? A outra lição é a de que controvérsia, por si só, não vende discos. Mesmo com toda a polêmica em relação ao vídeo banido de American Life, o single está longe de virar sucesso (apesar de poder ainda chegar ao topo da parada da Grã-Bretanha). A conclusão é de que a controvérsia em torno dos clipes escandalosos de Like a Prayer e Justify My Love ajudou a esquentar músicas que já eram boas (e no caso da última introduzia uma nova sonoridade no pop mainstream). American Life, infelizmente, não tem o mesmo potencial. Uma conclusão menos baseada em lógica aponta para o fato de que a Madonna casada é sempre menos interessante do que a solteira. Depois de dizer o sim para Sean Penn, em 1985, a cantora fez alguns de seus piores discos (True Blue e Who´s That Girl) e filmes (Surpresas em Shangai), criando o brilhante Like a Prayer depois da separação. Desde que se casou com Guy Ritchie, gravou a péssima Die Another Day e agora o álbum American Life. E, como a própria Madonna, não vamos falar de Destino Insólito. O primeiro problema do álbum é que ele gira em torno de um tema só: o do arrependimento pela superficialidade de outros tempos. Em outros álbuns, Madonna também usou o tom confessional (Human Nature, em Bedtime Stories; Drowned World, de Ray of Light), mas em American Life, quase todas as faixas falam sobre ilusões perdidas, vida transformada ou períodos de infelicidade. Ainda sobre as letras, há o problema da pobreza criativa. A frase Everybody Comes to Hollywood, da faixa Hollywood, soa suspeitamente parecida com Everybody Wants to be Hollywood, do megahit homônimo de Felix da Housecat (um dos produtores que remixou American Life). O refrão de Love Profusion empresta a frase I´ve got you under my skin, do clássico de Cole Porter, e em I´m So Stupid, há a repetição da sentença que construiu a carreira do Eurythmics: Everybody is looking for something. Referência pop tem limite. A produção tem bons elementos, mas provoca a vontade de esperar pelos remixes. É difícil compreender, por exemplo, as opções feitas para os vocais da cantora: há o batido vocoder (que devia ter sido engavetado novamente logo depois de Believe, de Cher) e a versão infantilizada de Mother and Father (que também conta com uma voz tipo Kylie Minogue). Madonna soa muito melhor nas baladas, com vocais mais limpos. Os momentos razoáveis do disco são a melodia de Hollywood, as bases de Mother and Father e Nobody Knows Me (esta assumidamente inspirada na sonoridade do electro) e a produção low-fi de X-Static Process. Os piores são os dois raps (em American Life e Mother and Father), os vocais do início de I´m So Stupid e tudo em Die Another Day. É bom ela começar a produzir uma turnê para ajudar nas vendas do disco.

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