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Lulu Santos lança seu "Acústico"

Por Agencia Estado
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São 17 discos, 47 anos de idade, 30 anos de carreira, três filhos e um neto a caminho. O que mais preocupa o cidadão Luís Maurício dos Santos nessa altura do campeonato? "Uma estrutura social para esse neto chegar com menos susto", disse o cantor Lulu Santos, que espera com ansiedade a chegada de Luca, em dezembro, o primeiro neto do cantor e da jornalista Scarlett Moon Chevalier. Pioneiro do pop-rock nacional que surgiu no início dos anos 70 com uma banda chamada Veludo Elétrico, Lulu atravessou três décadas buscando sempre uma linguagem musical que fosse escancaradamente popular e dançável. Fiel a esse ideário, Lulu lança nesta quinta-feira, às 23h30 - com um certo atraso em relação aos seus contemporâneos - o seu programa Acústico, na MTV, gravado em um show em junho, no estúdio Pólo de Cinema, no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, lança também o CD duplo homônimo, com as 23 canções que apresentou no programa, pela gravadora BMG. Por mais incrível que possa parecer, este é apenas o segundo CD ao vivo da carreira de Lulu, embora ele nem considere o primeiro (Amor à Arte, de 1988) como algo sério. "Aquele disco é desprezível porque foi gravado nas piores condições possíveis, eu tivera uma gripe fortíssima e tive de gravar por obrigação - a voz está péssima, o som está horrível", ele conta. "Esse disco agora é realmente um antídoto para aquele", afirma. Lulu Acústico conta com participação especial de Gabriel O Pensador - músico com o qual ele divide os vocais na faixa Astronauta. O CD duplo traz cinco canções inéditas: Made in Brazil, Janela Indiscreta, Deusa da Ilusão, Maia Intergalático e Esta Canção. Algumas dessas canções novas do cantor soam quase estranhas perto dos clássicos pop radiofônicos de Lulu (Tempos Modernos, Como uma Onda, Um Certo Alguém, Califórnia e outros números). É o caso por exemplo, de Janela Indiscreta, um tanto soturna na letra e com uma sonoridade que lembra um forró elétrico. "Você ouviu o Lenine em mim", afirma Lulu. "O beat que você identificou como semelhante a um triângulo de forró nessa música é feito por uma bateria indiana movida a pilha, feita de fórmica de madeira imitando uma caixa de som, completamente low-fi", explica. Lulu demonstra completa falta de paciência para com uma parte da crítica musical que diz não existir um pop rock de qualidade no Brasil, que tudo é derivativo. Ele discorda disso até em música. Em Made in Brazil, por exemplo, canta que "ninguém faz igual a brasileiro pop-rock-reggae-hip-hop do Brasil". Mas Lulu acredita realmente nisso? "Um país que tem Sepultura para consumo externo e Raimundos para consumo interno não tem de prestar atenção nessa estupidez acadêmica", afirma. "O Brasil produz rock para os brasileiros, o que é mais do que suficiente, e não tem como comparar, porque bandas como Offspring só fazem sentido aqui para duas dúzias de pessoas", diz. Outra coisa na qual ele não acredita - ou acredita relativamente - é que, em algum momento histórico, o Brasil tenha produzido pop rock internacionalizado. "Na verdade, o que muita gente faz é música internacional abrasileirada, rocks, funks e raps", ele pondera. "É besteira pensar que o Chico Science, por exemplo, tenha feito uma música internacionalizada, porque não houve fruição de massa e é da natureza da música pop ser de massa." Ele abre exceção apenas para o pernambucano Lenine, que admira. "O Lenine sim, pode-se dizer que chegou lá, porque o cara é capa do Libération (jornal francês) , é um músico muito importante e autocontido, no qual o encontro da música internacional com a brasileira é muito bem resolvido", teoriza. Essa ambição internacionalizante da música brasileira é observada com atenção por Lulu desde seus primórdios artísticos. Não é por acaso que sua primeira banda do coração seja Os Mutantes. "Durante dez anos da minha vida, tudo o que eu ouvia eram os dez discos deles", conta. Só muito tempo depois, após trabalhar com o guitarrista dos Mutantes, Sérgio Dias Baptista, é que ele pode definir o próprio destino musical. E o que Lulu desejava era o oposto do que eles representavam, conta. Em meados dos anos 70, eles tinham perdido o humor, a irreverência. "Só um norte pressupõe um sul, ou um leste." Prolixo como Gilberto Gil, Lulu Santos repassa tema por tema com uma intimidade impressionante, da violência carioca à nova ordem eletrônica mundial. "Ontem, a manchete de O Globo no Rio foi que o assalto aumentou 66% na cidade", ele conta. "O gosto disso na boca é muito ruim - se está assim agora, o que será no futuro?", pergunta. Em sua opinião, o surto de violência é "insuflado pela mídia", que promove cotidianamente um massacre de violência e erotismo nos meios de comunicação. E acha que mesmo a Internet contribui para disseminar uma espécie de "descontrole com o objetivo do controle". Sobra até para os programas da linha No Limite. "O Big Brother inglês pelo menos entrega sua natureza policialesca logo no título, que é uma referência ao livro 1984, de George Orwell", ele pondera. "Hoje em dia, o Grande Irmão é de fato a Internet, na qual todos os programas têm um alçapão controlado pelo FBI, uma espécie de filtro de controle", avalia. Essa idéia, no entanto, não o torna arredio à rede. O site de Lulu é um dos melhores de um artista nacional (www.lulusantos.com.br), com uma biografia divertidíssima escrita em primeira pessoa pelo próprio artista. O espetáculo Lulu Acústico também já tem data para estrear no palco, como um show itinerante. Ele estréia no dia 13 de outubro, no Canecão, e em novembro desembarca em São Paulo, no DirecTV Music Hall (antigo Palace).

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