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Lucho Gatica reafirma reinado do bolero

Nos shows por São Paulo e em seu novo CD, cantor chileno mostra por que segue merecendo o título de "Rei do Bolero"

Por Agencia Estado
Atualização:

Cantora experiente, com o famoso Trio Los Panchos no acompanhamento, Eydie Gormé não acertava a gravação de um bolero em um estúdio de Los Angeles. Não por problemas de língua: Eydie é filha de espanhol e foi criada em Lima, no Peru. Tentou uma, duas vezes. Na terceira, o produtor do disco resolveu intervir e disse: "Eydie, você tem de pôr sua alma nessa canção. Não pode cantá-la como uma menininha inglesa de colégio". O produtor sabia do que falava. Era Lucho Gatica. Do México ao Chile natal, Lucho é um ídolo e uma unanimidade. Como outros, foi chamado de "o Rei do Bolero", mas hoje parece que só ele é que consegue carregar a coroa com dignidade e com paixão. O que pode ser conferido ao vivo ou em disco: Lucho está em São Paulo, fazendo uma temporada cujos últimos shows estão marcados de hoje até quinta-feira, no Baretto (r. Amauri, 255 - Itaim - tel. 3079-9008) e está lançando um disco, Lucho Gatica & Convidados: Dançando ao Som de Grandes Boleros. O disco, na verdade, são quatro CDs numa caixa que traz adequadamente na capa a imagem de um buquê, em forma de coração, de rosas amarelas e vermelhas. É o primeiro lançamento da série Reader´s Digest Musica, que propõe lançamentos que tenham uma dimensão de documento histórico (no momento está sendo preparada uma caixa com Elis Regina). O primeiro traz boleros famosos na voz de Lucho com intérpretes brasileiros; os destaques ficam para Solamente una Vez (Lucho e Nana Caymmi) e El Día que me Quieras (Lucho e Cauby Peixoto). Há atrocidades como La Barca com Fagner e Una Mujer com Danilo Caymmi. Melhor passar ao segundo disco, com Lucho Gatica sozinho, desfilando sua voz que, aos 72 anos, se não tem mais o mesmo alcance, ganhou veludo nos graves. Ele passa à vontade por Sabrá Diós, Contigo en La Distancia, El Reloj, Sinceridad, Frenesi, Sabor a Mi, Nosostros, Perfídia e uma versão de Alguém como Tu que não deve nada à original de Dick Farney. Ritmo virou o século - O CD seguinte mostra boleros à basileira, quase sempre sambas-canções, músicas aboleradas de Chico Buarque e Ivan Lins, até mesmo Se Todos Fossem Iguais a Você. Tirando os originais de João Bosco, nada memorável nas regravações. O último CD reúne alguns ícones do bolero, como Gregorio Barrios (um dos rivais de Lucho) em Para que Sufras, Luna Lunera e Dos Almas, Elvira Rios, cantando Bonita e o próprio Lucho em hits como Tú me Acostumbraste e Vaya con Dios. Cantores mais jovens como Leo Marini (Vereda Tropical, Aquellos Ojos Verdes, Oración Caribe) e Lucho Oliva (Papel de la Calle) não decepcionam. Nesses discos pode-se entender o conselho de Lucho a Eydie: a paixão, o sentimento é que são a essência do bolero. Um ritmo que foi moda como dança de salão nos anos 40 e 50 do século 20 e que depois virou uma espécie de sinônimo do brega, do ultrapassado e ridículo. Com a volta dos ritmos caribenhos e latinos, recuperados do relicário do kitsch, o bolero também está de volta. Ainda não há discos de Jennifer Lopez ou Mariah Carey cantando boleros, mas há indícios de que o ritmo virou o século com mais apreciadores ainda. Talvez falte divulgação entre públicos mais jovens. Um exemplo foi o filme asiático Amor à Flor da Pele, cuja trilha sonora usava e abusava dos boleros gravados na década de 60 pela voz (e pelo sotaque incrível) de Nat King Cole. Muita gente descobriu o bolero via Hong-Kong. E passou a saber que para certos momentos e emoções nada como ele. Por mais fanados que pareçam suas flores e versos, assim que Lucho (ou algum dos seus súditos) começa a cantar seus clássicos, todo mundo canta junto.

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