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Lollapalooza 2018: Anderson .Paak justifica a existência de um festival criativo

Artista que se constrói entre referências maiores da soul music e um pensamento de hip hop de vanguarda soa como um presente

Foto do author Julio Maria
Por Julio Maria
Atualização:

Algo de muito sério acontece quando Anderson .Paak aparece no palco Bud, do Lollapalooza Brasil. Sua estratégia o coloca ao mesmo tempo a alguns passos atrás de visionários de sua terra natal, Compton, como Kendrick Lamar e Coolio, e lhe confere uma abrangência muito maior. Paak tem a tradição de Marvin Gaye e James Brown em uma das mãos e o futuro que o rap tem apontado na música norte-americana na outra. Ao contrário dos compatriotas, evita experimentalismos do jazz, parece não querer soar novo o tempo todo, como mostraram samplers vintage em The Waters, e não se posiciona como um representante das tradições da Motown, apesar de seu vocal existir graças a tanto James Brown tomado desde a infância.

Lollapalooza Brasil 2018: showde Anderson Paak no palco Bud, no segundo dia do festival Foto: Serjão Carvalho/ Estadão

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O baterista .Paak já sai na frente por ser justamente um baterista. A dinâmica que seu show ganha é natural. O cara canta ao microfone, de pé, e quando lhe convém corre para o instrumento colocado ao seu lado, na frente do palco. Não se sabe onde se sai melhor. 

The Free Nationals, a banda que o acompanha (guitarra, baixo, teclado e um DJ) não tem escola no groove de setenta, onde muitos rappers buscam inspiração. O peso que colocam, potencializado pela bateria de caixa seca de .Paak, deixa a intenção mais próxima do rock and roll criando por vezes uma especie de R&B rebelde.

Tanto Venice, de 2014, quanto Malibu, de 2016, desenham a linha de um show situado no hard funk. O baixista usava uma camiseta do Red Hot Chili Peppers, não por acaso. Mas Paak joga em outras posições quando quer, como na levada de samba que faz sozinho na bateria. Seu pensamento cool poderia esfriar alguns momentos do show, com referências do charm de pista dos anos 80, mas isso jamais acontece. O som de Paak é orgânico e vai sempre para as temperaturas mais altas. Está entre as novidades que justificam a existência de um festival de música. 

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