Líderes do hip hop discutem futuro do gênero

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Por Agencia Estado
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Líderes do hip hop encontram-se hoje e amanhã em Nova York para celebrar a terceira década do gênero musical que mais cresce no mercado fonográfico dos Estados Unidos e discutir seu futuro. Figuras importantes como Louis Farrakhan (o líder do grupo político e religioso Nation of Islam), David Mays (criador da revista The Source) e os artistas Wyclef Jean, Will Smith, Eminem, Jay-Z e LL Cool J estão entre os convidados. O organizador do evento é Russell Simmons, dono da gravadora Def Jam Records, uma das principais do hip hop. O gênero que surgiu nas ruas das grandes cidades americanas no final dos anos 70 e início dos 80 é caracterizado por letras faladas com ritmo e um acompanhamento de bass beat. O som underground começou a ser notado com o lançamento de Rapper´s Delight, em 1979. Hoje, representa 13% das vendas da indústria fonográfica americana. A conquista do mainstream ocorreu no final dos anos 80 e início dos 90 com nomes como Run DMC, Public Enemy e Beastie Boys. Atualmente, artistas como Eminem, Puff Daddy, Dr. Dre, Nelly e Outkast são alguns dos maiores astros da música pop e têm status de ídolos de jovens de todas as raças e classes sociais nos Estados Unidos. O hip hop e o rap saíram do gueto, mas o gueto os acompanha. Um dos maiores problemas do gênero musical é sua associação com a violência. Este é um dos principais temas do encontro e um dos mais polêmicos. Para muita gente da comunidade, a culpa é da mídia. Para outros, a relação óbvia é com o envolvimento de nomes importantes do meio em crimes e muita confusão. O astro do rap Tupac Shakur foi assassinado em Las Vegas em 1996. Até hoje o crime não foi resolvido. No ano seguinte, foi a vez de Notorious B.I.G. ser morto a tiros em Los Angeles. Na época, a rivalidade entre músicos da Costa Leste e da Costa Oeste do país deixou várias vítimas. Recentemente, Puff Daddy (que agora é conhecido como P. Diddy) foi julgado e abolvido - de porte ilegal de arma e tentativa de suborno. Ele estava em um clube de Nova York onde três pessoas ficaram feridas em um tiroteio. O autor dos disparos foi outro rapper, Jamal "Shyne" Barrow, que pegou dez anos de prisão. As sessões do evento vão tem como temas o marketing do rap, o impacto do hip hop na juventude mundial e o papel da mídia na imagem do gênero musical. "A gente quer aumentar o nível de conscientização do público e mudar a percepção geral de que o hip hop é negativo e violento", disse David May em entrevista para o jornal Daily News. Para ele, há uma espécie de perseguição organizada. A polícia de Nova York, por exemplo, foi criticada por designar oficiais para patrulhar ostensivamente clubes freqüentados por artistas do gênero em Manhattan. Outro ponto importante da conferência vai ser um exame das letras das canções, muitas vezes explíticas em seu conteúdo sexual e sua violência. Há críticos desta tendência até mesmo dentro do meio. O Congresso dos Estados Unidos tem discutido o tema atualmente. Um dos artistas mais criticados é Eminem, com suas letras que estimulam o preconceito contra gays e a violência contra mulheres. "Eu adoraria ver um rap com mais consciência política e social", afirmou Russell Simmons. Apesar de todos os problemas, a indústria mostra que deve continuar ganhando força nos próximos tempos. Eventos como o Hip Hop Music Awards ganham cada vez mais destaque. Os indicados da atual edição do prêmio foram anunciados ontem em Miami. Eminem e Outkast são os favoritos, com cinco indicações cada, mas nomes como Jermaine Dupri, Lil´ Bow Wow e Trick Daddy também estão no páreo dos principais prêmios. A cerimônia do ano passado terminou cedo por causa de uma pancadaria generalizada. Para o evento deste ano, algumas precauções extras estão sendo tomadas. A data do evento ainda não foi marcada, mas a transmissão vai ao ar em 28 de agosto na emissora UPN (que teve trabalho dobrado no ano passado para exibir uma gravação "sem-violência" da premiação). Polêmicas à parte, o hip hop vira coisa de museu. O gênero ganha ainda este ano o Hip Hop Museum, em Mount Vernon, a cidade na região metropolitana de Nova York em que Puff Daddy e Heavy D. nasceram. O projeto de US$ 300 mil está sendo instalado em uma sede desativada do corpo de bombeiros do município, poucos quilômetros acima do Bronx, reunindo discos, objetos e documentos dos principais nomes do gênero. A instituição também vai servir como um centro de treinamento profissional para jovens carentes.

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