Líder do Clash lança novo álbum

Joe Strummer está de volta com Global a Go Go, gravado com sua banda formada no fim dos anos 90 Los Mescaleros

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

É difícil dizer em poucas frases tudo que o cidadão britânico Joe Strummer, hoje com 48 anos, representa para o rock. Em 1976, com um grupo de amigos, ele ajudou a deflagrar uma revolução na música jovem da época, num movimento que foi definido como punk rock. Um dos discos do The Clash, a banda de Strummer, intitulado London Calling, foi eleito unanimemente por críticos de todo o mundo um dos dez mais importantes discos de rock da história. Anos depois, em vez de dormir sob os louros das glórias passadas, ele foi ao front e atuou como ator em filmes de Alex Cox e Aki Kaurismaki, fez trilhas de filmes e percorreu caminhos tortuosos. No fim dos anos 90, após um longo hiato longe dos palcos juntou um punhado de garotos e foi para a estrada como se começasse tudo de novo, munido de uma Telecaster preta e um cadilaque 1955. Os garotos - o baixista Scott Shields, o percussionista Pablo Cooke e os guitarristas Martin Slattery e Tymon Dogg - o ladeiam na banda Los Mescaleros, que acaba de lançar seu segundo disco na Inglaterra, Global a Go Go (Epitath Records). Para falar do disco, feliz como um garoto em loja de doces, Strummer (cujo verdadeiro nome é John Mellors) atendeu a Agência Estado por telefone, de sua casa em Londres. Define-se como "um lunático", cuja veia lírica (sempre escreveu as canções) vêm de sua mãe, uma nativa das Highlands. Agência Estado - Um monte de gente comemorou esta semana 25 anos do punk rock. Você também celebrou? Joe Strummer - Eu não comemorei. Não é que eu despreze o passado, mas prefiro ir em direção ao futuro. Mas você ainda acredita no punk rock? Definitivamente sim. Eu sou um produtor de punk rock. Tenho um selo, o Hellcat Records, e grande interesse no rock, especialmente aquilo que é definido como punk rock. Entre outras bandas, nós lançamos o Rancid. Você costuma ouvir essa terceira onda do punk, bandas como o Green Day? Eu amo o Green Day. É bastante pop e é uma corrente que já existe há dez anos. Há uma grande resistência dos meios de massa em tocar o punk rock, ainda hoje, mas o Green Day toca no rádio e isso ajuda a quebrar a resistência e popularizar ótimas bandas. Você parece bem familiarizado com ritmos latinos, que explorou bastante na trilha sonora de Walker. Mas agora, também mostra influências de música caribenha africana, árabe e celta. Qual sua relação com a world music? Bem, eu tenho rádio. Ouço música do mundo todo. Mas não conheço tanto assim. Do Brasil, a última coisa que ouvi foi o Olodum. Fantástico o som, um choque para mim. Ouvir aquela percussão poderosa e vívida foi algo que me ensinou muito por exemplo. O que costumava ouvir quando estava na escola e era apenas um garoto? Captain Beefheart, Beatles, Stones, Hendrix, The Kinks, Doors, The Who, Led Zeppelin. Você consegue imaginar o que é ser um garoto na escola e ter tudo isso acontecendo lá fora? Não fui um estudante, fui um prisioneiro. Mas a música foi mudando e eu mudei com ela, felizmente. Quando pensa vir ao Brasil? Assim que os promotores avaliarem o risco e me convidarem. Bem, o que mudou do primeiro disco seu com Los Mescaleros para esse novo? Um homem saiu da banda e outro homem entrou. Saiu Anthony Genn, que tinha tocado com o Pulp e o Elastica, e entrou Tymon Dogg, um sujeito que conheci tocando guitarra no metrô. Ele é doido, mas é bom. Outro dia você ganhou um prêmio da revista "Q", o prêmio Inspiração, e agradeceu dizendo que era o primeiro que ganhava na vida. Isso é verdade? Sim, é verdade. Nos tempos do The Clash, não davam prêmios para aquele tipo de música. Hoje em dia existem muitos, mas nunca se lembraram de mim. Fiquei muito orgulhoso. Na mesma ocasião, também premiaram The Specials, veja você! Um fã escreveu no seu site da Internet que você escreve canções boas o suficiente para serem tocadas em qualquer gênero musical. Concorda com ele? É um bom ponto. Acho fundamental que a canção tenha uma boa estrutura de som. É uma boa razão para que ela exista. Canção boa é como um standard de jazz, é como as canções do The Clash, que podem ser tocadas até como dixieland. O que mudou em Los Mescaleros? Estou excursionando há dois anos com esse grupo. O primeiro disco foi feito assim, na estrada, como encontros ocasionais. Desta vez, nós compusemos os temas no estúdio, como uma banda. Saiu um som mais orgânico, uma música melhor, sem dúvida. Você abandonou a profissão de ator? É exatamente como você está dizendo: abandonei. Eu era um horror. O seu primeiro disco com Los Mescaleros era "Rock, Art & The X-Ray Style". Você acha que rock é arte ou atitude? É muito mais atitude, mas também é uma forma de arte. Digamos assim: uma forma de arte que se assenta na atitude. Senão, não existe.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.