Lenny Kravitz lança "Greatest Hits"

Sai novo disco com 15 faixas dos cinco álbuns do cantor e compositor nova-iorquino que, em 1999, completou dez anos de carreira

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Por Agencia Estado
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Quando era criança, o pop star Lenny Kravitz costumava ter um dos monstros sagrados do jazz tocando piano na sala de sua casa. O monstro, no caso, era o band leader, compositor e maestro Duke Ellington, que, vez por outra, fazia visitas ao casal Roxie Roker, atriz negra de filmes da Blaxploitation, e Sy Kravitz, produtor e diretor cinematográfico judeu de ascendência russa. Pais do artista. "Duke foi para mim uma espécie de iniciação ao universo da música, ele era uma pessoa muito doce e certamente foi uma das minhas primeiras referências", conta o afortunado Lenny Kravitz em entrevista exclusiva, por telefone, do escritório de sua agente, em Nova York. A razão da conversa é o lançamento, marcado para o dia 24, de Greatest Hits (Virgin), que reúne 15 faixas dos cinco álbuns do cantor e compositor nova-iorquino que, em 1999, completou dez anos de carreira. "Gosto da idéia de lançar uma compilação de sucessos, ainda que minha carreira seja relativamente curta para isso", diz ele. No álbum, o ouvinte pode encontrar as músicas American Woman, versão para o clássico do Guess Who, presente na trilha sonora de Austin Powers: The Spy Who Shagged Me e prêmio de melhor vocal de rock masculino do Grammy 2000. Fly Away, que chegou ao topo dos charts da Billboard nas categorias modern, active e album rock e virou trilha de comercial de TV, a quase technopop Black Velveteen e o soul I Belong to You, essas faixas extraídas do álbum mais recente de Lenny Kravitz intitulado 5 - vale lembrar que o registro de 1998, permaneceu na parada norte-americana por mais de 110 semanas consecutivas, tendo vendido 6 milhões de cópias ao redor do mundo. Greatest Hits segue com a bela Let Love Rule, tirada do álbum homônimo de estréia, lançado em 1989. Stand by My Woman e Mr. Cab Driver são as outras canções extraídas do álbum. O segundo disco Mama Said (1991) empresta à compilação o rockão funkeado Always on the Run, que conta com a participação do guitarrista hard rock Slash, ex-Guns and Roses e atualmente Snakepit, e a balada, no melhor estilo Curtis Mayfield, It Ain´t over till It´s over, na época, segundo lugar na parada da Billboard. De Are You Gonna Go My Way (1993), disco de ouro no primeiro mês de lançamento, Greatest Hits traz, além da faixa título, as espirituais Believe e Heaven Help. O cinismo do álbum Circus (1995) é representado pelas faixas ledzepellianas Rock and Roll Is Dead e Can´t Get You Off My Mind. A última faixa é a inédita Again, uma típica canção de Lenny Kravitz. "Sim, essa é uma afirmação correta", concorda ele. Afirmação correta porque em Again, Lenny Kravitz toca todos os instrumentos. A canção começa com um rufar de bateria logo acrescido de guitarra e contrabaixo. A voz aparece melodiosa e doce - os vocais de apoio também são feitos pelo próprio Lenny Kravitz. Ainda no que diz respeito à estrutura, há o momento em que a voz fica quase sussurrada e acompanhada por palmas, para depois ser convertida em grito. "Meu amor é para sempre" é a frase que ele canta para todo mundo ouvir, literalmente. O arranjo de cordas se funde ao final da canção que, como outras tantas do repertório do músico, é uma elegia à mulher amada com versos do tipo: eu tenho procurado por você/com a alma machucada e chorosa/ ... / e toda a minha vida/ e por onde você estiver/ eu vou querer vê-la de novo. "O amor é uma das coisas mais importantes para mim e para o meu trabalho como compositor e, falando dele, me mantenho longe das bobagens que têm sido ditas atualmente nas músicas", diz ele, reafirmando a preferência por ícones da era pré-Eminem e adjacentes. "Falo do amor incondicional pelo semelhante e pelo planeta: o ser humano precisa de paz." O romantismo da faixa já foi vertido para a linguagem do videoclipe. As imagens feitas em Nova York são do diretor Paul Hunter, responsável pelos premiados vídeos Woman e Fly Away. O videoclipe tem estréia prevista para quinta-feira na MTV brasileira. Seguindo a trilha deixada pelos antigos cantores de gospel, a religiosidade também é um traço marcante nas composições do músico, que ostenta uma cruz tatuada no bíceps direito. "Acredito no Deus que nos criou e em Jesus Cristo", prega. A conquista do título de best male rock vocal performance na última edição do Grammy (melhor interpretação vocal masculina de rock) é um capítulo à parte dentro da bem-sucedida carreira do músico. E, por que não dizer, tema de discussão sobre o que rege a indústria norte-americana. Questões raciais não muito bem resolvidas teriam reflexo nas apreciações finais? Só após 42 edições da premiação anual, um afro-americano leva o Grammy da categoria para casa. É irônico pensar que o gênero é uma derivação do blues, o lamento negro surgido nas plantações de algodão dos, então escravistas, Estados Unidos da América. "Eu não sei se houve ou não racismo nas edições anteriores do Grammy, na verdade, não me ocupo desse tipo de pensamento´´, diz Lenny Kravitz, aparentemente incomodado. "Prefiro acreditar que venci simplesmente por ter sido o melhor na categoria: não represento raças, só a mim mesmo". Segundo ele, "esse não representar raças" vem de sua formação múltipla. Um emaranhado de raízes culturais cristãs, caribenhas e judaicas que fundamentam sua árvore genealógica. "Cresci dentro de várias culturas e em vários lugares, o que ajuda na convivência e no respeito às diferenças", lembra ele, que foi criado entre o Upper East Side e o Brooklyn e viveu em Los Angeles e New Orleans. Atualmente mora na ilha de Eleuthera, nas Bahamas. Moda - Por conta do visual calcado nos anos 70, Lenny Kravitz foi, no início, chamado de cafona. Porém, para vingança do músico, as calças boca-de-sino, os sapatos plataforma, as costeletas e as estampas excessivas, características do período, tornaram-se tendência nos anos 90 - as coleções da última temporada ainda apresentam a influência. De cafona, o artista passou a referência de estilo moderno masculino. A revista Vogue que o diga. Entre outras publicações especializadas, a revista cansou de estampar em suas páginas os modelitos usados por ele. "Me visto assim há muito tempo, esse é apenas o meu estilo", continua. "Mas não fico planejando combinações", despista. O artista é um privilegiado também no quesito parcerias no show biz internacional. A começar pela co-autoria, ao lado da não menos estelar Madonna, do hit lascivo Justify My Love. O ex-baixista do Led Zeppelin, John Paul Jones, fez participação especial em sua banda, tocando Are You Gonna Go My Way, durante uma das edições do Video Music Awards, a premiação anual da MTV norte- americana. Num outro evento da rede musical, dessa vez ligado à moda, Lenny Kravitz dividiu os vocais com o impagável roqueiro Iggy Pop. Reproduzindo a estética glam, os dois fizeram caras e bocas para interpretar Rebel, Rebel, de David Bowie. A lista inclui ainda trabalhos com o rolling stone Mick Jagger e o com o soulman Curtis Mayfield. "É um prazer trabalhar com essas pessoas, são todas muito talentosas", afirma. Questionado sobre o que anda escutando atualmente, Lenny Kravitz cita, de pronto, apenas um nome. "Tenho ouvido Miles Davis, prefiro os músicos legendários", afirma categórico. Eis que surge então a inevitável pergunta. Quando o músico virá ao Brasil? "Não sei ainda, quem sabe no próximo ano", indica. "Gostaria de agradecer os fãs brasileiros por gostarem da minha música." Ainda que não dê o ar da graça por aqui, o músico promete o sexto álbum para 2001. "Estou trabalhando nele", avisa aquele que tinha a possibilidade de ter o autor de standards do jazz tocando piano na sala de casa. Belíssima iniciação.

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