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Lenda do bebop toca no Bourbon Street

Dois dos mais consagrados talentos da nova geração do jazz (o baixista John Patitucci e o pianista Danilo Perez) uniram-se a uma lenda do gênero, o baterista Roy Haynes. O três notáveis apresentam-se na terça e na quarta-feira no Bourbon Street

Por Agencia Estado
Atualização:

Dois dos mais consagrados talentos da nova geração do jazz (o baixista John Patitucci e o pianista Danilo Perez) uniram-se a uma lenda do gênero, o baterista Roy Haynes, e o resultado é o disco The Roy Haynes Trio Featuring Danilo Perez & John Patitucci, lançado no ano passado pelo selo Verve. Não, o resultado é melhor ainda. É também uma turnê com os três notáveis, que se apresenta terça e quarta-feira no Bourbon Street Music Club, em Moema. "Foi uma coisa simples: eles queriam tocar comigo e eu queria tocar com eles", disse na sexta-feira à Agência Estado, por telefone, de seu apartamento em Long Island, o baterista Roy Haynes, o homem que usa até os suportes do seu kit de bateria para fazer música. "Não diria que houve uma intenção de formar uma banda all stars, porque eu já toquei com diversos músicos em minha vida - será que Charlie Parker, Sarah Vaughan e Lester Young não eram notáveis?", brinca o veterano baixista, nos palcos desde 1942. Ele não está sendo esnobe: a lista de ex-parceiros estrelados do músico é espantosa. A turnê que traz para o Bourbon Street é a primeira do trio após o lançamento do disco e começou em junho no Birdland de Nova York. Haynes diz que deverá tocar basicamente o repertório do disco do trio, uma retrospectiva da carreira de Haynes dividida em duas partes. Metade foi gravada no estúdio e metade ao vivo. O set list vai da primeira fase da carreira do músico (como na faixa Wail, de Bud Powell, que Haynes gravou com o pianista em 1949), passando pelos anos 60 (representados por uma canção com Chick Corea, cujo primeiro álbum, Now He Sobs, now He Sings, contou com a participação de Haynes) e chegando aos tempos mais recentes (como Question and Answer, de Pat Metheny, do disco de mesmo nome lançado em 1989, com Haynes e Dave Holland). Apresenta ainda standards do bebop, como Green Chimneys, de Thelonious Monk. "Não deixei meu velho grupo", explica Haynes. A banda habitual do baterista é composta pelos saxofonistas Kenny Garrett e David Sanchez, o baixista Dwayne Burno e o pianista David Kikoski (que o acompanha há 16 anos). "Neste momento, eles estão tocando na Califórnia, mas vamos nos reencontrar para tocar no Charlie Parker Festival em Nova York e Boston", conta. Tanto não deixou, acrescenta, que eles têm novidades para agosto. "Neste mês, sairá pelo selo Dreifus, de Paris, nosso disco com interpretações de composições de Charlie Parker, que será lançado em setembro aqui nos Estados Unidos", avisa. Após 55 anos de carreira e aos 76 anos de idade, Haynes diz que ainda fica ansioso antes de subir ao palco. "Isso é bom: significa que estou vivo", diz o baterista, que forma com Max Roach e Louis Bellson um trio de raros remanescentes da era de ouro do jazz. "Eu não diria que sou o pai do bebop, seria um exagero, mas pode dizer aí que eu sou um dos que estavam no início", afirma. Ele conta também que é verdade a história de que recusou uma oferta de Duke Ellington para tocar em sua orquestra em 1951. "Eu era muito jovem e estava no grupo de Charlie Parker", ele lembra. "O grupo de Duke era composto apenas de músicos mais velhos e ele não entendia muito bem a minha batida, o dum, dum, dum, então preferi ficar onde estava", recorda. Roy Haynes nasceu em Boston em 13 de março de 1926. Em 1942, tocava com músicos como Charlie Christian, Tom Brown, o bandleader Sabby Lewis e o saxofonista Pete Brown. Em 1945, passou a acompanhar o bandleader Luis Russell (um dos principais colaboradores de Louis Armstrong entre os anos de 1929 e 1933) e passou a tocar para animar as noites de dança do Savoy Ballroom. Nas horas livres, ele ia para o lendário Minton´s, quartel-general da divulgação do bebop na Rua 52, em Manhattan, transformando-se num gigante daquela cena emergente. Foi baterista de Lester Young entre 1947 e 1949, passando a acompanhar depois Charlie Parker (entre 1949 e 1953). No final dos anos 50, acompanhou Sarah Vaughan. No começo dos 60, estava com Thelonious Monk e gravou com Eric Dolphy. Também trabalhou com Stan Getz entre 1961 e 1965. "Costumava compartilhar da paixão de Getz pela música do Brasil e toquei muitas vezes Garota de Ipanema", ele conta. Entre 1963 e 1965, ele tocou e gravou com o quarteto de John Coltrane. Mais adiante, já estava ao lado da jovem guarda, tocando com Chick Corea a partir de 1968 e chegando a Pat Metheny nos anos 90. Seu nome pode ser encontrado em discos de gente como Phineas Newborn, Booker Ervin, Roland Kirk, George Adams, Hannibal Marvin Peterson, Ralph Moore e Donald Harrison. Suas gravações sempre evocam histórias dessas parcerias, como The Touch of Your Lips, balada de Sarah Vaughan, musa e parceira para toda a eternidade. Seus parceiros nessa turnê latino-americana têm reputação à altura. O panamenho Danilo Perez, de 35 anos, é um dos mais técnicos e sofisticados pianistas da atualidade. O baixista John Patitucci, de 41 anos, é cultuado por jazzistas de todos os calibres. Eles prometem o repertório do seu disco e mais "alguma surpresa". Os concertos no Bourbon Street Music Club (Rua dos Chanés, 127, tel. 5561-1643 e 5542-1047) começam às 22h30 e têm preços entre R$ 50,00 (setor C), R$ 75,00 (setor B) e R$ 120,00 (setor A).

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