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Kovacevich faz concerto em SP

Pianista norte-americano, um dos grandes especialistas em Beethoven, faz duas apresentações na Sala São Paulo e oferece ainda uma masterclass

Por Agencia Estado
Atualização:

Não é difícil entender a euforia do mundo musical paulistano com relação à programação da Osesp neste fim de semana: o pianista norte-americano Stephen Kovacevich, um dos grandes especialistas da atualidade em Beethoven, interpreta o Concerto n.º 1 em Dó Maior do compositor, amanhã e sábado, na Sala São Paulo, na antiga estação Júlio Prestes, na região central da capital, em um concerto que também tem a Sinfonia Alpina de Richard Strauss. E, na sexta-feira, dá uma masterclass gratuita aberta ao público, no mesmo local, a partir das 14 horas. "É um concerto extremamente interessante e uma das coisas que mais me agradam é o fato de que a cadenza foi escrita anos depois do restante da obra", diz o pianista. "Os estilos de composição são diferentes, o que mostra que Beethoven não era um purista quanto a essa questão, o que me parece bastante atrativo." A associação do nome de Kovacevich à obra de Beethoven faz parte de uma relação maior, com o repertório de outros grandes pilares da composição como Bach, Mozart, Schubert, Schumann ou Brahms. "Desde os 18 anos, sou apaixonado pelas obras do fim da carreira de Beethoven, mais tarde comecei a me interessar pelo restante e hoje me sinto bastante atraído por sua idéia de uma vida que pode ser boa, por sua mensagem inspiradora, a sensação da presença de uma esperança filosófica." Afinidade - Já foi dito que a afinidade com Beethoven surgiu das aulas com a pianista Myra Hess, e Kovacevich concorda. Mas indica outros elementos passados pela professora. "Antes dela eu possuía a técnica, mas pouca variação no modo de tocar. Ela me fez acrescentar todo um novo mundo na tarefa de fazer música, sua imaginação tornou minha arte mais rica, ela me passou todo o estilo europeu." E o que exatamente significa este "estilo europeu"? "Não sei ao certo, mas digamos que é o oposto do estilo da Julliard School de Nova York, não sei, a idéia de que a velocidade não é tudo." Atualmente, Kovacevich está gravando para a EMI a integral das sonatas de Beethoven. "Faltam apenas quatro", brinca ele. "Esse é um projeto que requer muita energia, paciência e estudo, ainda mais porque algumas delas eu tive de aprender para poder gravar, mas a sensação é magnífica, a cada sonata que acrescento ao meu repertório, não consigo pensar em outra coisa a não ser interpretá-la." A integral ainda não tem data de lançamento prevista. Bartok - A boa relação com o repertório tradicional não exclui, no entanto, no caso de Kovacevich, a inventividade e a aposta na música do século 20, tendência já visível desde seu primeiro concerto com a Sinfônica de São Francisco, aos 14 anos, no qual, ao lado de um concerto para piano de Schumman colocou um de Ravel. E, segundo ele, um dos principais momentos de sua carreira foi aprender o Concerto n.º 2 de Bartok, "uma peça selvagem". "Ela significou um momento de mudança no meu repertório e me ajudou de diversas formas, até mesmo no modo de interpretar Beethoven." O pianista também encomenda obras, como Southern Lament, de Stephen Montague, que ele estreou no Festival de Música de Cheltenham, em 1997. Kovacevich é também conhecido por suas qualidades de professor ("nosso papel é estimular a intuição dos alunos, sem impor nada") e regente e já se apresentou à frente da Irish Chamber Orchestra e da Australian Chamber Orchestra. "Com a gravação das sonatas, não tenho tido muito tempo para reger, mas recebi um convite interessante para 2005 e estou pensando seriamente em aceitá-lo: reger Carmen em Sydney."

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