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Kaiser Chiefs brilha em melhor festival de pop-rock

Banda é destaque no Planeta Terra, o melhor festival de pop-rock de São Paulo, realizado na Villa dos Galpões

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

Pelo resultado de 2007, quando o Planeta Terra revelou-se o melhor festival de pop-rock de São Paulo, a expectativa só podia ser maior em torno da segunda edição, realizada na Villa dos Galpões. Sem querer menosprezar os outros, mas não só pelas boas atrações, mas pela competência da organização e tudo o mais, de novo o PT ganhou de lavada, para o prazer de 15 mil pessoas. Entre os que freqüentam os festivais (não apenas a mídia especializada), a comparação mais recorrente era com o TIM Festival, que no quesito pop foi uma decepção geral este ano.   Kaiser Chiefs: Vibrante do começo ao fim, a banda deu tudo de si, numa apresentação impecável. Foto: Marcelo Ximenez/AE   Só a possibilidade de ver pelo menos três grandes bandas – Kaiser Chiefs, Breeders e The Jesus & Mary Chain – pagando apenas um ingresso de preço acessível já era animadora. Ainda mais se se levar em conta o grande número de atrações, a diversidade, a pontualidade e o lugar em si como opções de lazer. A preocupação com a limpeza nas áreas dos shows, dos banheiros (com ramos de cedro no piso) e em todos os ambientes (com recipientes para lixo reciclável, orgânico e até bitucas de cigarro separadamente) também foi exemplar.   As três bandas citadas (além do Offspring) eram os grandes trunfos do Planeta Terra que agitou o Morumbi no sábado, 8, e fizeram os melhores shows. As ameaçadoras nuvens cinzas não chegaram a despencar em águas como se temia, o que colaborou muito para a animação geral. As pessoas começaram a chegar mais cedo do que no ano passado e até as primeiras atrações do palco principal tiveram bom público.   Os brasileiros, que costumam pagar mico no TIM Festival, foram mais uma vez bem recompensados no PT. O som de Curumin no Indie Stage até estava melhor do que o do Animal Collective. Para o Vanguart, tocar ainda de dia, abrindo as funções do Main Stage, era o de menos. Os fãs estavam lá para gritar os refrões de Hey Yo Silver e Semáforo, por exemplo. O problema é que, com grande número de canções lentas, o som da banda ficou deslocado no grande palco.   O mesmo aconteceu com a hypada Mallu Magalhães. Tudo bem, ela pode ser o máximo pra turma da idade dela, mas ainda não tem estofo para sustentar um show de massa num festival desse porte. Um diálogo significativo ouvido de relance na platéia durante a apresentação dela dava bem a medida da situação. Homem 1: "Essa menina precisa lamber muita sarjeta antes de achar que pode cantar blues". Mulher: "Ah, tadinha dela". Homem 2: "Tadinha nada, imagina você ter 16 anos e já ser uma fraude desse tamanho". Sensacional. Imagina o que era para os fãs de Offspring e Jesus & Mary Chain ficar ali no compasso de espera com Mallu repetindo clichês de folk e country, com aquela vozinha nhenhenhém.   Ainda bem que a fila anda rápido. Soturno, como convém desde sempre, o britânico Jesus & Mary Chain veio na seqüência, fazendo, enfim, música de gente grande. Para uns pode parecer saudosismo, mas o tempo parece contar a favor da banda. Só por canções como Sidewalking, Some Candy Talking e Just Like Honey já valeria o show – e foi o que resultou em maior vibração –, mas teve até música nova, Kennedy Song. Adolescentes que não tinham idade para vê-los da outra vez em que estiveram aqui também puderam checar parte das referências de tantas outras bandas atuais.   Já o hardcore do californiano Offspring – que parecia ter o maior número de fãs na multidão – envelheceu mal. Está aí o novo álbum Rise and Fall, Rage and Grace (do qual tocaram algumas poucas músicas) que não deixa mentir. Algumas canções de seu maior feito (o mega best seller Smash, de 1994) saciaram os fãs, mas nada além disso. Melhor faz o Jesus, que não disfarça as rugas com botox.   O britânico Bloc Party não merecia a má impressão que deixou por tocar com play-back no Video Music Brasil da MTV, em setembro. Por conta disso, eles foram (junto com Mallu) os alvos do maior número de piadas no festival. Mas bastou pisarem no palco para fazer as más línguas engolirem o próprio veneno. O vocalista Kele Okereke até ensaiou um pedido de desculpas ("Não tivemos intenção de desrespeitar o seu país. Esperamos que este show conserte tudo") e ganhou a simpatia da platéia. A banda fez mais que isso, botou todo mundo pra dançar com algumas das melhores canções de seus três álbuns, entre elas Banquet e Helicopter.   Igualmente com três álbuns lançados, seus conterrâneos do Kaiser Chiefs foram o melhor da noite, encerrando o festival por volta de três horas da manhã com um sabor de catarse. Vibrante do começo ao fim, a banda deu tudo de si, numa apresentação impecável, que começou arrebentando com Everyday is Average Nowadays e Everyday I Love You Less and Less. Outros hits dos dois primeiros álbuns, como Ruby, Na Na Na Na Naa e I Predict a Riot, foram os momentos de pico do show. Mas Never Miss a Beat, locomotiva do recém-lançado Off With Their Heads, não fica atrás.   De cara, o carismático vocalista Ricky Wilson, grande figura da banda, já desceu para perto do público, cantando no fosso e tocando os fãs da fila do gargarejo. Ele arriscou algumas frases em português, além do convencional "obrigado". Disse que o tecladista Nick Peanut tinha passado por uma cirurgia para extrair o apêndice na sexta-feira e era "um herói" por estar ali. Nos bastidores, aliás, comentava-se que a banda quase cancelou a participação no festival por conta do problema de Peanut, que, por motivos óbvios, foi o que menos "apareceu" no show.   Além de Wilson, Andrew White (guitarra), Simon Rix (baixo) e Nick Hodgson (bateria), com gás total, só confirmaram uma tendência. Se já era bom até aqui, com o terceiro disco o Kaiser Chiefs definitivamente se firma como uma das grandes bandas da década. Mais um ponto a favor do Planeta Terra por apostar neles.  

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