Jovens e veteranos recuperam o choro no Rio

O Centro Cultural Banco do Brasil organiza uma série de shows, durante cinco semanas, apresentando veteranos e revelações do choro, o mais antigo gênero musical brasileiro

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Por Agencia Estado
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O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) começa o ano chorando. A partir de amanhã a série de shows Brasileirinho - Choro um Século vai mapear o mais antigo gênero musical brasileiro, durante as próximas cinco semanas, com apresentações de instrumentistas jovens e veteranos que se dedicam a ele. "Nossa intenção foi mapear o chorinho no Brasil, trazendo ao Rio músicos de três Estados: Pernambuco, São Paulo, o próprio Rio e o Distrito Federal", explica Valéria Colela, produtora da série de shows ao lado de Mário de Aratanha. "O choro surgiu no fim do século 19, atravessou todo o século 20 e chega a este em pleno vigor". O mapeamento começa pelas origens, com o espetáculo O Choro do Rio - de Callado a Paulinho da Viola. Veteranos como César Faria (pai de Paulinho e um dos fundadores do lendário Época de Ouro), Deo Rian, Zé da Velha e Sivério Pontes, fazem uma roda de choro tradicional, com jovens como o flautista Maionese e o saxofonista Paulo Sérgio Santos, com os irmãos Henrique e Beto Cazes na faixa etária intermediária. O repertório vai da já centenária Flor Amorosa, de Joaquim Callado, ao inovador Choro Negro, de Paulinho da Viola, sem deixar de fora Pixinguinha, Jacó do Bandolim e Waldir Azevedo. Violão solista - A partir do dia 9, os pernambucanos Jacaré e Henrique Annes mostram como o gênero é cultivado em seu Estado, no show Homenagem a Luperce Miranda e a João Pernambuco. O virtuosismo é uma das características dos músicos nordestinos. No choro, o violão se torna solista e o músico faz de tudo um pouco", diz Annes. Além de instrumentista e compositor, ele é um pesquisador do gênero e atualmente trabalha na recuperação de gravações antigas. "Ao contrário dos regionais cariocas, com bandolinistas fazendo o solo, a liderança dos grupos do Recife era exercida por violonistas." O choro paulista é a atração da terceira semana, a partir do dia 16, com a participação de Isaías e Seus Chorões, Antônio Bombarda e Carlos Poyares, este último o mais conhecido de todos, com mais de 80 discos gravados. O grupo de Isaías, no entanto, é mais antigo e toca preferencialmente composições dele algumas praticamente desconhecidas do público carioca. "Chamamos os grupos e lhes demos inteira liberdade para trazer suas formações, repertório e jeito de tocar", avisa Valéria. "Em São Paulo, por exemplo, o choro ficou mais dolente e sentimental. Mas nossa intenção é exatamente mostrar essas variações." Brasília, a Nova Capital do Choro é o título do show da quarta semana, a partir do dia 23, reunindo Reco do Bandolim e o grupo Choro Livre e o bandolinista Hamilton de Holanda, vencedor do Prêmio Visa de Música Instrumental. Aí também são duas gerações do gênero que se desenvolveu no Distrito Federal mais que em qualquer outra região do País. Lá, a Escola Rafael Rabello tem mais de 600 alunos, dos 10 aos 50 anos. Reco do Bandolim, fundador e principal incentivador do Clube do Choro de Brasília, explica como o estilo se desenvolveu lá. "Temos a obra dos mestres como referência, mas procuramos imprimir um sentido atual ao nosso repertório." Grupos recentes - Os grupos Madeira Brasil e Rabo de Lagartixa fecham a série de shows, mostrando como o estilo é feito por músicos formados nos anos 80 e 90. Além dos grandes mestres, os dois grupos tocam compositores novatos, como Caio Cézar, Bilinho Teixeira e Luiz Felipe Lima. "Essa renovação do choro é demorada porque o próprio público exige as músicas antigas nos shows", justifica Valéria Colela. A clarinetista Daniela Spilman, do Rabo de Lagartixa, uma das poucas instrumentistas que se dedicam a esse gênero, prevê boas noitadas no encontro com o Madeira Brasil. "Nós e o Madeira Brasil partimos do mesmo conceito, mas encontramos resultados completamente diferentes", explica. Para Valéria Colela, outros Estados onde ocorrem rodas de choro vão ficar faltando nesse mapa porque a produção dispunha de apenas cinco semanas. "O baiano Armandinho, por exemplo, ficou de fora, apesar de sua enorme importância na renovação do choro", lamenta. "O consolo é que ele tem uma visibilidade muito maior do que os outros grupos e toca para os cariocas com muito mais freqüência."

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