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Jorge Drexler lança disco para dançar

Cantor fala sobre o novo álbum 'Bailar en la Cueva'

Por João Fernando
Atualização:

Acostumado a ficar quieto com seu violão no palco, Jorge Drexler acaba de lançar o disco Bailar en la Cueva, em que faz um convite ao público para dançar. E deu resultado. "Nesta turnê é uma novidade. As pessoas começam o show sentadas. Aí, uns casais se levantam e começam. Na última meia hora, está todo mundo dançando”, conta o uruguaio, que começou as apresentações no álbum pela América do Sul, sem passar pelo Brasil. "Acho que vou em novembro, mas não tenho certeza", avisa. Bailar en la Cueva - em português, dançar na caverna - traz faixas que inspiram mais passinhos que o anterior Amar la Trama (2010). Uma delas, Universos Paralelos, fez com que ele se arriscasse em uma cômica coreografia do videoclipe, no ar na internet. A nova fase, porém, não o fez querer mudar o estilo no palco. "É uma transição. Não quero perder o lado íntimo do show. Gosto da experiência completa. É um show para dançar, cantar e escutar. Temos usado o som de Bailar em la Cueva nas músicas antigas. Em geral, show com banda é mais expansivo." Na contramão, estão canções como Bolívia, em que descreve a trajetória dos avós judeus, que fugiram do nazismo na Europa e se refugiaram primeiro no país andino. Nela, há a participação de Caetano Veloso, surgida de maneira espontânea em uma ida à Colômbia, onde parte do disco foi gravada. "Ele estava apresentado o Abraçaço e eu estava lá. Nossas equipes foram jantar juntas e alguém perguntou quando haveria uma colaboração entre nós. Ele disse que gostaria, eu mandei a música. O Moreno (Veloso, filho) fez a parte da gravação e mandou uma mensagem dizendo que tinha gostado da minha cumbia tropicalista." Drexler tem uma extensa lista de parcerias com brasileiros, que inclui Arnaldo Antunes, Ney Matogrosso, Maria Rita e Paulinho Moska. "Adoraria gravar com Chico Buarque e Gilberto Gil. Meu sonho é com João Gilberto. Não custa sonhar", contou ao Estado, por telefone. Um dos poucos artistas latinos a cruzar a fronteira do mercado do País, ele reconhece que as nações vizinhas consomem mais música brasileira do que os tupiniquins no movimento inverso. "O Brasil cria referências de si mesmo por sua condição geopolítica e do idioma que nos separa. Tem dimensões que o fazem autônomo. Em princípio, poderia não precisar de uma cultura exterior, pois tem a própria. Na música, é muito rico. Hoje, em que o mundo se comunica mais, o Brasil já se deu conta da importância de se movimentar no que é latino-americano. Há o Grammy latino, há um mercado nos EUA. Estou orgulhoso de estar entre as exceções da música em espanhol que chega. Comecei a trabalhar aí há 12 anos."

Com parentes maternos no Rio Grande do Sul, o uruguaio diz ter proximidade com o País e começa a falar em português durante a entrevista. “Nem sei quando aprendi. Nunca tive aula de português. Comecei a falar sem perceber. Meu professor foi o João Gilberto”, brinca. “Minha relação com Brasil é antiga. Por toda a minha vida, escutou-se música brasileira em casa. Com 18 anos, comecei a viajar sozinho por aí, de ônibus e de carona”, relembra, retomando o castelhano. “O idioma é um signo da identidade que os brasileiros têm zelo."

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Tecnologia. No ano passado, Jorge Drexler lançou o projeto N, um aplicativo para celulares e tablets em que o usuário escolhe a ordem dos versos de músicas ou quais instrumentos quer ouvir enquanto ele e seus companheiros cantam. "Foi um projeto cerebral, com referências à poesia concreta brasileira, do Haroldo de Campos e do (Décio) Pignatari, de que gosto. Gosto de ver a poesia tomando forma", explica, retornando às referências à arte brasileira. "Outro dia, em Montevidéu, cantei Como Uma Onda no Mar, de Lulu Santos e Nelson Motta. Nelson e eu estamos trabalhando juntos em um projeto e cantei em homenagem a ele", justifica. Vencedor de um Oscar pela trilha de Diários de Motocicleta, o uruguaio teve a primeira experiência como ator em A Sorte em Suas Mãos (2012), de Daniel Burman, que gostaria de repetir. "Adoraria. Deixo um chamado aberto para os diretores de cinema. Posso fazer um sotaque brasileiro", diverte-se, em português.

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