John Mayer, que vem ao Brasil para cinco shows, investiga "o amor e o tempo"

Arista inicia a turnê em São Paulo, no dia 18, no Allianz Parque

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Por Pedro Antunes
Atualização:

“Sabe”, John Mayer diz, antes de pausar a fala. Pensa bem no que o instiga a compor. Romântico daqueles que esparramam amor por onde passam – com versos às vezes doloridos –, Mayer surgiu como um grande guitarrista. Atraiu atenção de músicos e crítica como um virtuoso, alguém a ser observado de perto. Enquanto pingava de relacionamento em relacionamento, encontrava o que era bom. John Mayer tem um talento impressionante em cantar sobre o que há por dentro. 

John Mayer Foto: Frank Ockenfels

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Depois de uma passagem pelo Brasil para dois shows, em São Paulo e no Rio, no festival Rock in Rio, Mayer volta para uma turnê própria. Serão cinco datas no País: em São Paulo (no Allianz Parque, dia 18), em Belo Horizonte (na Esplanada do Mineirão, no dia 20), em Curitiba (na Pedreira Paulo Leminski, no dia 22), em Porto Alegre (no Anfiteatro Beira-Rio, dia 24) e no Rio de Janeiro (na Jeunesse Arena, no dia 27).

A guitarra, em si, é um complemento. Ajuda a chorar as lágrimas da voz aveludada do artista nascido em Connecticut, nos Estados Unidos. Hoje, aos 39 anos, e sete discos lançados (o mais recente é The Search for Everything, de abril deste ano), Mayer sabe o que lhe move a compor. Entrar em temas que se aprofundam para o seu mundo interior, contudo, nem sempre é simples. 

Com sete gramofones do Grammy na prateleira e mais de 20 milhões de discos vendidos – uma marca invejável para quem surgiu na virada do século e viu uma indústria fonográfica em frangalhos –, Mayer prova que está no caminho certo em esquadrinhar os sentimentos em vez de esmigalhar a guitarra com aqueles solos blueseiros intermináveis. 

“Há algo que de fato me instiga”, diz Mayer, após segundos alongados de silêncio, tão angustiantes em uma conversa telefônica que o vazio parecia ter perdurado por horas. Acho que é o que mais investigo enquanto componho. Estou sempre tentando entender o amor e o tempo”, conclui. 

Obra de Hokusai é inspiração indireta 

Na segunda faixa de The Search for Everything, o sétimo disco de John Mayer, o título chama a atenção: Emoji of a Wave. Emoji de uma onda. O desenho é inspirado na xilogravura do japonês Hokusai, chamada A Grande Onda de Kanagawa – ou apenas A Onda –, feita entre os anos de 1830 a 1833.

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'A Onda'. O desespero dos pescadores em obra deHokusaié o mesmo de Mayer Foto: Reprodução

E embora se debata se aquele movimento do mar retratado na imagem seja ou não um tsunami, existe a sensação de desespero ao olhar para a imagem. Os pescadores japoneses, em seus barcos, parecem prever o pior. O mar, impiedoso, vai quebrar sobre eles, levá-los para o fundo, para a escuridão e para o fim. 

Sem querer – garante o músico –, John Mayer criou a alegoria para a descrever suas próprias canções. O artista norte-americano acerta quando retrata o momento pré-caos e desordem. Até mesmo quando canta o amor mais puro, há sempre algo a acontecer. Talvez seja a melancolia da sua voz, da guitarra que ele, habilmente, faz chorar como um blues entristecido, amuado. 

Emoji of a Wave não é single do álbum. Ali, em segundo lugar na lista de músicas, ela pode passar despercebida. Vagarosa e cheia de lágrimas vindas com a constatação de um relacionamento que chegou ao fim. “É só uma onda”, repete Mayer, no refrão. “Ela vai vir e eu só preciso me segurar”, completa. 

Mayer é conhecido pelas paixões avassaladoras. Por términos dolorosos também. Isso, as transformações de sentimentos, o compele a escrever mais. Cada pedaço partido do coração do artista norte-americano é transformado em música. Cada paixão descoberta, também. Como o último suspirar antes da queda acelerada em um passeio de montanha-russa – ou os segundos antes de a onda, gigante ou não, bater. 

O Brasil

O músico diz ter gravada na memória a lembrança da apresentação realizada por ele no Rock in Rio de 2013. “Ver aquela multidão, cantando as minhas músicas. Aquilo, sim, foi transformador”, diz o músico norte-americano. Prestes a embarcar para o Brasil, em uma turnê que inclui cinco datas, ele falou ao Estado da casa onde mora, nas cercanias de Los Angeles.

John Mayer Foto: Frank Ockenfels

“Estou em um daqueles pequenos momentos de descanso antes de voltar para a estrada”, ele conta, ao telefone.

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Disposto, Mayer se diz empolgado em voltar ao Brasil com o novo disco, o sétimo dele, chamado The Search for Everything. Dono de canções emocionais, o músico (e galã nas horas vagas) é conhecido por atingir aquele buraco às vezes vazio no lado esquerdo do peito.

Preenche com desespero, amor, desolação e o que mais vier, sempre com altas doses de sacarose. E, no papo, diz que é isso que o interessa, mesmo. Investigar o amor e entender o presente. Confira: 

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Em 2015 foram dois shows no Brasil. Agora, serão cinco. Podemos dizer que algo por aqui chamou a sua atenção, não é?  (Risos). É verdade. Eu lembro de ter feito aquele show do Rock in Rio. E senti que todas as canções que executava lá estavam sendo completamente compreendidas, entende? Isso, às vezes, não acontece ou não é em todas as canções. Lembro que até músicas como Dear Marie (do disco Paradise Valley, de agosto de 2013) eram 100% aceitas. Isso mexeu comigo profundamente. Em São Paulo foi assim também. 

Em entrevistas com bandas como Aerosmith e Bon Jovi, os artistas contavam da dificuldade de incluir canções novas no repertório dos shows deles. Há uma diferença muito gritante na relação do público com as canções novas e antigas?  Quando você tem tantos discos, há muitas músicas que você poderia tocar. Eu fico torcendo para que eles queiram. Quando você tem a resposta como eu tive no Rio e em São Paulo, eu me libertei. Às vezes, diante de um público desinteressado, eu penso: “Deveria tentar outra coisa?”. 

Dei uma olhada no seu repertório dos shows recentes, há cinco músicas do novo disco.  Sim, exato! Não é sempre que isso acontece. Em algumas turnês, incluí quatro ou cinco músicas dos discos mais recentes e a resposta não era boa. Reduzi para três. Às vezes, uma canção não funciona. Lembro que quando lancei Battle Studies (2009) as músicas não funcionavam ao vivo. Tive que voltar, na época, para o repertório do disco Continuum (2006). E percebi que as músicas desse álbum funcionariam ao vivo também. 

Como equilibrar?  É um balanço delicado. Acho que a minha meta, para este ano e o próximo, é deixar de ser aquele “show de hits” para ter um “show de catálogo”, entende? O Pearl Jam fez isso muito bem. Eles deixaram de se apoiar nos hits para ser capazes de percorrer o catálogo de músicas deles. É o balanço entre ser familiar e interessante. Ser interessante é o que faz algo se tornar familiar. E o familiar é o que faz algo ser interessante. Seja hit ou não. 

Há, nas suas canções, uma sensação de se estar diante de algo: uma mudança por vir, um amor que acabou, algo que vai embora. São como momentos prévios ao caos. Você também tem essa sensação sobre suas músicas?  (Pausa) Acho que sim. Desde a minha primeira música, faço isso. Sabe, internalizo muito as coisas, deixo as coisas bem profundas dentro de mim. Então, ao compor, vou nesse lugar para procurar essas histórias, esses sentimentos. Vou investigando atrás dessas coisas. Mas há duas coisas que tento entender, mas de fato ainda não consigo: o tempo e o amor. Entende? A ideia de alguém não estar mais. De o presente já se tornar passado. Acho que, talvez mais velho, eu seja capaz de entender. Às vezes, eu penso que gostaria de repetir aquele dia que acabei de viver. Mas ele já está lá, no passado. 

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Para encerrar. Três amigas minhas me pediram para mandar um beijo ao saber dessa entrevista. Isso é incomum. E me fez pensar na sua capacidade de atingir, com as canções, um lugar muito profundo nas pessoas. Com quase 20 anos de carreira, chegar a essas canções que tocam, é mais fácil?  (Risos). Depois de escrever tantas músicas, é difícil encontrar uma nova ideia. O que o tempo me ajudou é que, agora, tenho a experiência. Então, quando chego à ideia, consigo usá-la de uma forma melhor. É mais fácil e mais difícil, ao mesmo tempo. Ah, e mande um beijo para as suas amigas. 

JOHN MAYER  Allianz Parque. Rua Turiassu, 1.840, telefone 3873-2111.4ª (18/10), às 21h15. R$ 120 a R$ 640

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