João Bosco lança CD comemorativo

Com Malabaristas do Sinal Vermelho, recheado de canções inéditas, o cantor e compositor comemora seus 30 anos de carreira

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Por Agencia Estado
Atualização:

Não será com uma compilação de antigos sucessos ou algo do gênero que o cantor e compositor João Bosco vai celebrar seus 30 anos de carreira. Ele tratou de providenciar um novo CD, Malabaristas do Sinal Vermelho, recheado de canções inéditas, a maioria escrita a quatro mãos com o filho Francisco Bosco (os dois trabalham juntos desde disco As Mil e Uma Aldeias, de 97). Foi uma maneira encontrada por João de mostrar que ele é um compositor em plena ativa. "A música brota de um novo dia. Você vive tentando dar sentido, por meio da música, a sensações", divaga o compositor mineiro, de 56 anos, com um acentuado sotaque carioca, de quem há muitos anos adotou o Rio como lar. "É uma chama que faz você seguir e criar projetos futuros. Quando você projeta o futuro, você está vivo." Malabaristas do Sinal Vermelho é a prova de que o compositor continua na estrada, se reciclando e ponderando sobre a própria obra. É também o retrato de um trabalho pontuado pelo ecletismo musical e atento à realidade social brasileira - duas características que sempre se fizeram presentes em seus discos. O passeio pelos mais diferentes gêneros musicais, que vai da bossa ao samba, tem início na faixa-título, uma parceria de João com o filho. O compositor nunca escondeu que acredita que o artista deve expressar em sua arte aquilo que vive. Certo dia, ele e Francisco estavam dando uma volta pelo Rio, quando pararam num sinal vermelho e avistaram um menino de rua, sem um braço, fazendo malabarismos. Ao chegarem em casa, João mostrou ao filho uma música composta por ele que precisava de letra. Inspirado naquela cena do menino, Chico se debruçou sobre uma nova composição e no dia seguinte apresentou "Malabaristas do Sinal Vermelho" ao pai. "Penso nos malabaristas/ Do sinal vermelho/ Que nos vidros fechados dos carros/ Descobrem quem são/ Uns, justiceiros reclamam/ O seu quinhão/ Outros pagam com a vida/ Sua porção/ Todos são excluídos/ Na grande cidade", diz um trecho da canção que conta com a bela participação do Coral da Escola de Música da Rocinha. Para João, todo brasileiro é um grande malabarista, em meio aos graves problemas sociais "que vêm se acumulando há décadas". "A palavra malabarista vem exatamente da habilidade que se deve ter em conjugar pensamento e ação em situações difíceis, isso é que se chama de sobrevivência. Num País como o nosso, essas técnicas de sobrevivência são sempre atualizadas." Apesar desse quadro social lamentável, o compositor diz-se esperançoso. "Agora, há no Brasil grande expectativa de um início de mudança da realidade, mas ainda é uma expectativa", afirma ele, numa referência ao novo governo Lula. O CD oferece ainda outras boas surpresas, como Cinema Cidade, que tem participação especial de Seu Jorge, e o samba Terreiro de Jesus, conduzido por João Bosco só com voz e violão. Esta última canção foi escrita por João, Chico e Edil Pacheco, um sambista baiano das antigas. Em meio a 12 faixas do álbum, mais a vinheta Distâncias, eis que surge uma velha canção, não de João Bosco, mas de Gilberto Gil, "Andar com Fé". "O que se precisa para continuar exercitando a profissão? Muita fé, não é? É um disco com 11 músicas inéditas e muita fé." E como não dá para falar de Gilberto Gil sem mencionar Ministério da Cultura, João deu sua opinião sobre a nova atribuição do amigo. "Gil tem experiência como artista. E não é um artista de ação moderada, mas de ação intensa. Por viajar muito para o exterior, ele conhece a relação do Brasil com o exterior. Pode ajudar muito." Aldir Blanc - Nestes 30 anos, nomes importantes da MPB cruzaram o caminho de João Bosco - ou foi ele quem cruzou o dos dois. Um deles foi o poeta Aldir Blanc, entre seus maiores parceiros. Durante anos, foram inseparáveis. Uma parceria que começou em 1969 e rendeu composições memoráveis, como Dois Pra Lá, Dois Pra Cá. Em 78, houve o que eles chamaram uma "abertura de parceria" e desde os anos 80 não trabalham juntos. O jejum, a princípio, deve ser quebrado ainda este ano, com um show no Sesc Pompéia, onde a dupla se reunirá à velha-guarda da Império Serrano, escola de samba de João Bosco. A apresentação seria em agosto, mas foi desmarcada e reagendada para início de fevereiro. Novamente adiado, o show ainda não tem data definida. "Nossa relação de amizade é a melhor possível. Temos projetos juntos, só não sabemos quando vamos fazê-los, porque Aldir está escrevendo alguns livros e quer terminá-los." A turnê do novo CD terá início depois do carnaval, e passará pelas principais capitais brasileiras e vai exterior.

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