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João Bosco investe em parceria com filho em novo CD

Depois de As Mil e Uma Aldeias, pai e filho estão juntos outra vez em Na Esquina, assinando nove composições e três versões

Por Agencia Estado
Atualização:

O amadurecimento de João Bosco não engessou sua música. Com a carreira já consagrada e marcada por parcerias memoráveis, João, agora, se aprofunda na relação musical com o filho, Francisco. Na Esquina, novo CD que lança pela Sony Music, fundamenta essa cumplicidade que, por enquanto, tem agregado qualidades a sua carreira. Os dois assinam as nove composições e três versões do disco. A participação de Francisco no trabalho de João é determinante desde 1997, quando o compositor lançou o disco As Mil e Uma Aldeias. "Apesar de Chico estar estreando naquela época, eu já depositava muita confiança em suas idéias poéticas", afirma João Bosco. "A continuidade dessa parceria deve-se somente ao fato de acreditar na palavra que ele escreve e na sua percepção de música; ser filho é coincidência." Limites - "Quando ainda morávamos na mesma casa, me chamavam a atenção as observações que ele fazia sobre o meu trabalho", conta João. "Dessa forma, percebi o grau de entendimento e entrosamento que ele tem com a minha maneira de fazer música." Segundo ele, a canção Beirando a Rumba é prova disso. "Há ali um texto quase autobiográfico, escrito por ele." Além disso, a composição sintetiza a proposta de Na Esquina. "Ela reúne todas as nossas fronteiras entre o sofisticado e o simples, o erudito e o folclórico, que são, na verdade, limites difíceis para definir e, por isso, interessantes de serem trabalhados", acredita. "É ainda o espaço mais jazzístico do disco." João Bosco promove nessa composição o encontro da brasilidade indígena com influência de Duke Ellington. Para isso, usa um time de primeira: ele mesmo no violão, Carlos Malta (saxofone barítono e soprano), Kiko Continentino (piano), Jorge Hélder (contrabaixo), Lincoln Cheib (bateria), Armando Marçal (congas, bongôs e caxixi) e Marcos Suzano (guizos e unhas). Passos de Amador é outra canção que salienta a busca de João - e Chico - de fazer cruzamentos culturais e sua vontade de não se acomodar, criando novas concepções, mas usando observações antigas. A música Passos de Amador, versão feita por João e Francisco de Fools Rush in (Rube Bloom e Johnny Mercer), que Frank Sinatra gravou em 1940, diz: "Tolos vão/ Onde anjos temem ir/ Por isso estou aqui, amor/ De coração na mão/ Sim, eu sei/ Posso sofrer/ Mas já não tenho, amor/ Nada a perder/ Tolos vão/ Em passos de amador/ Os sábios têm os pés no chão/ Não sabem do amor". Jaques Morelenbaum compôs o arranjo para orquestra da composição. Além disso é co-produtor de outros arranjos no CD. Se, por um lado, Na Esquina registra o amadurecimento poético e sonoro da dobradinha João e Francisco, o novo CD também reflete a indissociável ligação do violonista com a música negra, seja a de origem afro-americana, afro-cubana ou afro-brasileira. A canção Na Esquina é o encontro de "Clementina e a viola". Ditodos também utiliza a mesma concepção de fusões. No entanto, é ainda mais evidente a dialética "primitivo e globalizado". Como João define, é um calango rap. Já Castigado Coração é uma explícita homenagem ao choro. Cego Julião e Dia de Festa funcionam como uma suíte, que celebra o sincretismo brasileiro e a paixão de João pela música cubana.

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