Jazzista Sonny Rollins abre festival de música em São Paulo

Ídolo do hip-hop Kanye West se apresenta nesta quarta na Arena de Eventos e toca faixas do novo disco

PUBLICIDADE

Por Jotabê Medeiros e do Estado de S. Paulo
Atualização:

Na noite desta terça-feira, 21, o jazzista norte-americano Sonny Rollins fez o show de abertura do TIM Festival 2008, no Auditório do Ibirapuera, em São Paulo. O show de Rollins marcou seu retorno ao Brasil, depois de 23 anos. Para quem não conseguiu descolar uma das cadeiras de R$ 250 do Auditório, vale dar um pulo ao Parque do Ibirapuera no sábado, às 11 horas, quando o músico fará um show aberto. Sonny Rollins dançou, brincou, sorriu, regeu a banda como se liderasse uma fanfarra de Mardi Gras e posou para fotos de celulares de fãs na beirada do palco. Se deixassem, não teria nem sequer saído do palco na noite de terça-feira. Tocou cinco vezes no bis. Sonny só faltou mesmo levitar na jornada de abertura do TIM Festival, e seu entusiasmo acabou impelindo a platéia a abandonar suas poltronas, lá pelo terceiro bis, para acompanhá-lo ali no gargarejo, seduzida por sua generosidade.   Veja também: Especial: Festival traz cardápio variado de gêneros  Arnaldo Antunes e Roberta Sá entram no lugar de Paul Weller Kanye West, um rapper em viagem pelo futuro                                                                                                                             Andre Lessa/AE Sonny fazia-se seguir por um admirável quinteto que acompanha a sua arte abstrata como se o seguisse há séculos: o sobrinho Clifton Anderson, no trombone; o fantástico guitarrista Robert Broom Jr., ou simplesmente Bobby Broom, admirável discípulo de Wes Montgomery; o jovem e vigoroso baterista Kobie Watkins; e o baixista Robert Cranshaw.    A produção não explicou o fato, mas o percussionista de Rollins, Kimati Dinzulu, importantíssimo na execução de peças como Someday I’ll Find You (de Nöel Coward), não subiu ao palco com o grupo, embora tenha sido figura carimbada em todos os concertos recentes do artista. Um dos mais celebrados sax tenores da história do jazz, ativo desde o final dos anos 1940, Sonny Rollins abriu seu show com Strode Rode, música de seu mais famoso disco, Saxophone Colossus, de 1956, agindo como se quisesse mostrar suas credenciais de notável improvisador, um homem que reinventa as próprias composições constantemente. Mas Sonny não é só o terrível domador de expectativas. Ele também adora o ritmo, e a celebração do ritmo veio com a segunda peça, Nice Lady, um calipso dissonante que começa prosaico e termina desabando em câmera lenta, como um castelo de cartas. Suas raízes caribenhas (a mãe imigrou da ilha de St. Thomas para os Estados Unidos) compareceriam ainda em dois momentos: quando tocou Don’t Stop the Carnival (gravada no disco homônimo de 1978) e no primeiro bis, quando revisitou uma música que não tocava havia um bom tempo, St. Thomas, composta a partir de um tema folclórico que sua mãe cantava na infância. Andre Lessa/AE Sua banda então iniciou o primeiro de uma série de standards, They Say It's Wonderful, composição de Irving Berlin (foi uma agradável surpresa, já que, de Berlin, em geral, ele tem preferido tocar I’m in heaven, de Cheek to Cheek). Seguiu-se a infatigável balada In a Sentimental Mood, de Duke Ellington. Sonny parece que tem prazer em apanhar os standards mais celebrados, pinturas consagradas de artistas eternos, e "picotá-los" com seu estilete, refazendo tudo com uma perspectiva abstracionista, feita de espasmos sonoros. Seu quadro final é uma tela cortada com uma faca, como um quadro de Lucio Fontana.     Sonny foi funky em discos dos anos 1970, em discos como Easy Living (1978), e essa sua porção fusion apareceu matreira na execução de Isn’t She Lovely, de Stevie Wonder, que ele - em noite especialmente festeira - ofereceu como um brinde a seus fãs arrebatados na noite de terça. Rollins tocou também um de seus temas-chave, Tenor Madness, de álbum extremamente importante de sua carreira, lançado em 1956.   Mas, voltando ao show: Sonny não é mais um garoto, isso fica claro. Ele estava tremendamente feliz e entusiasmado, a despeito de algumas limitações físicas. Mas inventava pausas para respirar e "delegava" aos músicos a tarefa de conduzir determinados temas. Por exemplo: quando atacou St. Thomas, que ele tocou quase inteira ao sax no Central Park SummerStage, em agosto, ele mudou de estratégia, passando a bola para o trombonista Clifton Anderson. A cada ameaça de abandonar o palco, o público aplaudia Sonny de pé e ele iniciava outro número ainda no meio dos aplausos. No final, ainda não parecendo totalmente extenuado, Sonny voltou sozinho ao palco para agradecer, batendo com o punho fechado no coração e levantando os braços.     Andre Lessa/AE   Conhecido por apresentar novas tendências do mundo da música, o evento deste ano traz bandas que fizeram seu hype no início desta temporada como o Klaxons - do guitarrista Simon Taylor-Davis, namorado da vocalista do Cansei de Ser Sexy, Lovefoxxx -, MGMT e The National. Os ingresso para as três primeiras noites do Auditório Ibirapuera estão esgotados. Kanye West é a grande atração desta quarta. Seu show Glow in the Dark, talvez o mais vibrante do evento, acontecerá na Arena de Eventos. Explosões e telões de última geração levarão o público ao mundo do maior arrasa quarteirão norte-americano da atualidade. Após o cancelamento de Paul Weller, a assessoria do evento confirmou que Arnaldo Antunes e Roberta Sá vão se apresentar junto com Marcelo Camelo no palco Bossa Mod, dia 23 em São Paulo e 25, no Rio.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.