Jane Birkin lança disco para lembrar de Gainsbourg

‘Le Symphonique’ é seu primeiro álbum de estúdio em nove ano

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Por Marta Garde
Atualização:
Birkin em 2017. Foi musa e companheiran de Serge Gainsbourg. Foto: Nico Bustos/EFE

“Tive a tremenda sorte de Serge Gainsbourg ter composto para mim”, afirmou aquela que foi sua musa, companheira durante uma década e mãe de sua filha Charlotte, Jane Birkin, que devolve o favor ao cantor e compositor com uma homenagem em versão sinfônica.

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Birkin/Gainsbourg, Le Symphonique, seu primeiro álbum de estúdio em nove anos, chegou ao mercado na sexta-feira, 24, e inclui algumas das canções mais emblemáticas do “enfant terrible” da música galante, como La Javanaise, em que uma orquestra de 90 instrumentos permite redescobrir tanto essas criações como sua voz frágil.

“Estou certa de que ele teria se emocionado muitíssimo”, assinala a cantora britânica numa entrevista à agência EFE, em Paris, convencida depois de ver a reação do público em alguns concertos prévios, de que não poderia ter feito melhor. Quando conheceu Gainsbourg, Birkin (nascida em Marylebone, Londres, em 1946) tinha apenas 21 anos, uma filha com o compositor John Barry e dotes atrativos que não passaram despercebidos pelo artista que acabava de se separar de Brigitte Bardot.

“Agradá-lo me dava um enorme prazer. (...) Eu queria fazer de tudo para agradá-lo. Cheguei a cantar Je t’Aime Moi Non Plus, uma canção que chocou o Vaticano, porque não queria que ele a cantasse com outra”, recorda Birkin sobre esse grande êxito composto para Bardot.

A relação pessoal e profissional dos dois superou sua ruptura como casal em 1980 e deixou discos como Serge Gainsbourg/Jane Birkin, composto especialmente para ela, e outros como Arabesque, nos quais a intérprete retomou canções de seu ex-marido, morto em 1991. “A mim, ele deu seu lado feminino, sua fragilidade, e para si ele guardou as coisas mais provocadoras. (...) As pessoas achavam que ele era uma pessoa perigosa, mas eu sabia que, na verdade, era um homem superamável também, embora para o resto fosse tão sarcástico e brilhante que podia causar danos”, admite Birkin.

Como ocorreu com Arabesque, a cantora e atriz confia que este novo disco revele Gainsbourg para um público novo e mais amplo. “É tão bonito que não acontece nada se não se entender a letra”, acrescenta aquela que foi um ícone sexual nos anos 1960, para quem voltar aos palcos foi “uma escapatória” depois de vários anos de reclusão após a morte de sua filha Kate em 2013 e de uma prolongada enfermidade.

Foi o festival FrancoFolies de Montreal (Canadá) que lhe permitiu mostrar, pela primeira vez ao público, em junho do ano passado, esta versão sinfônica que acaba de se materializar em um disco e com o qual ela planeja prosseguir sua turnê. “Gosto de cantar, mas, sobretudo, de fazer a mala e partir. Eu tinha me convertido numa pessoa triste e muito fechada, algo que nunca havia sido, mas me sentia impermeável a tudo. O golpe foi tamanho que eu nem sequer conseguia chorar. Mas as lágrimas voltaram”, acrescenta. Birkin, que recentemente comemorou seus 70 anos e depois de cinco décadas na França se considera mais francesa do que britânica, embora em seu sotaque ainda transpareçam ecos de seu país de origem, tem nesta turnê seu projeto mais imediato.

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“É preciso tentar ser útil enquanto se pode. Restam-me dez anos para poder fazê-lo. É preciso dizer-se tudo que se deseja, estar presente, não há um segundo a perder. Tenho responsabilidades, e elas me agradam”, ela acrescenta. Jane Birkin não descarta a possibilidade de publicar seus diários íntimos, retalhos de uma história que começou a escrever aos 12 anos e que parou subitamente com a morte da filha mais velha. “As pessoas se surpreenderiam por minha vida ter sido bastante divertida, com anedotas irresistíveis sobre Serge. (...) Piadas que já contei e outras de que havia esquecido. Tenho uma péssima memória”, conclui a cantora, satisfeita de que seu último projeto musical tenha servido para que as pessoas reconheçam, enfim, que ela canta “bem”.

TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK