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Jairzinho estréia com autoridade em Dis´ritmia

Por Agencia Estado
Atualização:

Há oito anos Jairzinho Oliveira viajou para Boston, nos Estados Unidos. Estava insatisfeito com as propostas que lhe faziam para permanecer na carreira artística, iniciada quando criança. Foi estudar música em Berkley, conhecer um novo universo cultural. Longe do Brasil, com saudade dos amigos e parentes, passou a compor freneticamente, sempre misturando ao samba, gênero que nasceu ouvindo no colo de Jair Rodrigues, seu pai, o jazz e o hip hop. Ao voltar, traçou suas metas. Uma delas, gravar um disco que resumisse o período de aperfeiçoamento fora do País. O álbum está pronto, chama-se Dis´ritmia (Trama), e chega este mês às lojas, exatamente como o compositor de 25 anos programou anos atrás. Influenciado principalmente por Djavan, João Bosco, Tom Jobim e Gilberto Gil, Jairzinho conseguiu fazer um álbum autoral. Além de compor todas as canções, tanto letra quanto harmonia, também assina a produção e os arranjos. É um homem-banda - toca diversos instrumentos - da estirpe de Prince e Lenny Kravitz. Está contente com o resultado, mas não esquece de ressaltar que Dis´ritmia é, apenas, o seu álbum de estréia. "Essa é a hora de colocar a cara para bater. Mais para a frente sei que poderei aparar as arestas", considera. "No entanto, ficou como eu imaginava. Amarra as minhas principais referências, mistura muita coisa, mas tem um conceito claro, tem uma identidade". Formado em produção, dirigiu, entre outros, os dois últimos discos de seu pai, o da irmã Luciana Mello e está preparando o próximo rebento do MPB4. Antes de Dis´ritmia participou do grupo Artistas Reunidos, ao lado de Max de Castro, Simoninha, Pedro Camargo Mariano, Daniel Carlomagno e da irmã Luciana Mello. Nas casas noturnas de São Paulo, primeiro no Supremo e depois no Blen-Blen, eles se destacaram por resgatar a música negra brasileira dos anos 70 - leia-se soul, funk e samba-rock -, sem descartar o contemporâneo - leia-se música eletrônica e hip-hop. No disco de Jairzinho, todas essas referências ficam explícitas. influência de Chico - No que diz respeito a parte lírica, Jairzinho sabe como aplicar os versos que escreve às harmonias que compõe. Mas não chega a ter a maestria daquele que venera. "Minha principal influência quando faço letras é Chico Buarque". Leitor voraz de poetas, escritores e filósofos como João Cabral de Mello Neto, Machado de Assis e Sartre, prefere tratar de temas cotidianos em sua escrita. "Nas minhas letras as influências não ficam tão evidentes quanto nas músicas", explica. Nos sambas, Papo de Psicólogo, Olha Aí e Vem-Q-Tem, Jairzinho esbanja swingue. Em faixas mais lentas, próximas do soul brasileiro dos anos 70 como Você Dorme, Chore a Chuva e Você Por Perto, música de trabalho (clique aqui para ouvir Você por Perto), demonstra dominar as baladas românticas. Dis´ritmia e Dia Quente, esta em duas versões, um remix que segundo o compositor deixou a música "mais negão", são as mais experimentais do álbum. "Creio que se estivesse em outra gravadora que não a Trama, as três e mais as vinhetas não entrariam no disco", afirma. As vinhetas a que se refere são Barulhos e Jungle Pandeiro, brincadeiras que fez no estúdio e inclui em Dis´ritmia. Olha Aí tem acentuado tempero funk e levadas de jazz. Falta Dizer, que bem poderia ser a faixa de divulgação, é swingada ao extremo, Funk Brasil ao sabor de Cassiano, Tim Maia e Carlos Dafé. Esquece, seresta com programação eletrônica, é uma homenagem que Jairzinho presta a Silvio Caldas e Lupicínio Rodrigues. O ponto baixo do disco fica na faixa de abertura. Música É... destoa do resto do disco em dois aspectos. Musicalmente é um accid jazz pouco inspirado. Liricamente, sua letra em tom de manifesto parece propor algum encaminhamento para a MPB, mas não passa de uma série de trocadilhos sobre as diversas facetas que a música assume na vida do compositor. No entanto, mesmo que não proponha um novo encaminhamento, Jairzinho espera ajudar, com esta estréia fonográfica, na renovação do cenário da música pop nacional: "O mercado fonográfico brasileiro acabou entrando em uma mesmice que chega a ser nojenta", critica, para finalizar.

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